domingo, 30 de agosto de 2015

"NEM NO VIETNAM"...


Em 30 de junho de 1977, alguns meses depois de a FEPASA ter extinto um número bastante grande de trens de passageiros em diversos ramais (todos os trens, acabando com o serviço) e até em linhas-tronco (das extintas Sorocabana, Paulista e Mogiana - neste caso, mantendo alguns) e, ainda por cima, remodelando horários, um leitor do jornal Folha de S. Paulo, de nome Mauricio Alveres Caldas, de Araraquara, SP, enviou uma carta para o jornal, que transcrevo abaixo.

Quase quarenta anos depois da publicação desta carta, o Brasil tem apenas dois trens de passageiros e algumas cidades com serviços de trens metropolitanos (os antigos trens de subúrbio e também os metrôs) e ainda uma rede ferroviária decadente que transporta quase que exclusivamente cargas. Ou seja, a carta, assim como diversas outras lamúrias da época, não adiantou coisa alguma... só que, neste caso, as manifestações estavam certas. No resto do mundo, os trens ainda são o que eram há quarenta anos. São o que eram, não: em alguns casos, são melhores do que eram.

Antes, algumas ressalvas, que ajudarão a entender a carta:

 - Apesar da decisão de mudanças citadas pelo leitor, estas foram comuns nos meses anteriores, de forma clara a forçar o abandono do uso do trem para permitir a desativação de horários como forma de justificar estas extinções;

 - O mundo passava pela primeira crise do petróleo e o preço desta matéria-prima havia aumentado para patamares bastante altos. Ou seja, o trem deveria ter sido o primeiro dos transportes a ser priorizado. Os países do mundo haviam percebido isto, menos o Brasil.

 - A Guerra do Vietnam havia terminado dois anos antes e o país estava destruído.

Segue a transcrição.

"A FEPASA está anunciando para o mês de julho a entrada em vigor de novos horários . Mas, ao contrário do que acontece nas ferrovias do mundo inteiro, a mudança será para pior. Uma viagem que atualmente é feita em 5 ou 6 horas levará pelo menos uma hora a mais.

"É lamentável que um meio de transporte maravilhoso como o trem, comprovadamente o melhor transporte sobre superfície do mundo quando bem organizado, seja tão anarquizado, tão desleixado como o nosso. E o que é pior, são os próprios dirigentes ferroviários os primeiros a desprestigiar as ferrovias, quando eles tinham obrigação de tudo fazer para que os trens tenham o merecido destaque dentro do nosso país.

"Interessante recordar que no final do governo anterior afirmou-se (sic) diversas vezes que dentro de "dois anos" as ferrovias paulistas estariam no mesmo nível das ferrovias europeias e de outros países civilizados. Entretanto, creio que nem no arrasado Vietnam as estradas de ferro são (sic) deficientes como a FEPASA."

2 comentários:

  1. E o Vietnã que saiu destruído da guerra, hoje, está prestes a construir o seu TAV, com tecnologia japonesa...

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  2. Nem no Vietnã mesmo. Eu lembro de ler uma edição, do início dos anos 80, da revista Ferroviária mostrando os trens anti-minas na ferrovia do Vietnã onde pranchas eram colocados à frente das locomotivas para causar vibração na linha e detonar minas terrestres. O objetivo era recolocar as ferrovias do país em tráfego mais rápido possível assim que a guerra acabou a demonstração simples que quando se quer se faz

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