sábado, 4 de janeiro de 2014

O TREM "CANSATIVO" PARA CAMBUQUIRA


Já escrevi aqui sobre o trem para Cambuquira. A cidade fazia parte de um ramal que saía de uma pequena estação de nome Freitas, que, por sua vez, estava no antigo leito da Minas & Rio, que ligava a cidade paulista de Cruzeiro, com estação ferroviária no ramal de São Paulo da Central do Brasil, à cidade de Três Corações (mais tarde a linha foi prolongada até Varginha e Juréia).

Isto significava duas baldeações. Partindo do Rio ou de São Paulo, havia de se trocar de trem em Cruzeiro
(sem alternativa, as linhas tinham bitolas diferentes). Já em Freitas, trocava-se de locomotiva e eventualmente de carro.  Em alguns casos se destacava o carro que estava com os passageiros para as cidades do ramal - era o ramal de Campanha - e se o engatava na locomotiva que ali estava esperando.

Campanha foi a estação terminal por muito tempo, mas depois a linha foi esticada até São Gonçalo do Sapucaí. Cambuquira, por sua vez, era a última estação antes da de Campanha.

Os tempos mudaram muito desde que o ramal foi aberto em 1894. Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo inteiro sofreu grandes mudanças. Uma delas foi o desenvolvimento da indústria de automóveis, especialmente na América Latina. Com a instalação de indústrias nacionais a partir dos anos 1950, as estradas, até então muito ruins e sem pavimentação (com raras exceções), passaram a ser melhoradas numa velocidade muito maior do que os investimentos em ferrovias sucateadas pelo excesso de uso durante a guerra.

Era uma época em que se começava a desvalorizar as ferrovias e dar muita atenção às rodovias e veículos com pneus, pressionados que éramos pela propaganda estrangeira e pelos lobbies de transportes por caminhões e ônibus que já começavam a se fortalecer.

Com isso, não seria um ramal de meros 86 quilômetros que seria mantido em boas condições. O mais fácil era deixá-lo desmanchar-se sozinho. Certamente em 1961 era apenas mantido no nível mínimo para funcionar. Foi neste ano que uma reportagem publicada pela Folha de São Paulo sobre as vantagens das águas termais de Cambuquira falava, entre outros assuntos, sobre como chegar à cidade.

Falava que as rodovias eram asfaltadas (com exceção de um trecho, que não diz de quanto) e que os ônibus era confortáveis e cobrava, R$ 130,00 pela viagem. É verdade que falava também sobre o trem, mas não o recomendava, dizendo que a viagem era cansativa. Ou seja, a;go como "não seja burro e nem pense em ir de trem". Não cotava o preço. Falava da baldeação em Cruzeiro.

E olhe lá, pois havia reportagens desse tipo em cidades que tinham trem e que ele nem era citado. Foi nessa mesma época que os bondes em São Paulo eram considerados os culpados pelos congestionamentos, pelos acidentes, pelos buracos no asfalto etc.. Lavagem cerebral. Em vez de se melhorar o transporte sobre trilhos, se os eliminavam. Enquanto isso, cinquenta anos depois, o resto do mundo continua a usar bondes e trens.

O ramal para Campanha acabou em 1966. No mesmo ano, Cambuquira havia recebido uma estação ferroviária totalmente nova substituindo a antiga. Ela está lá até hoje, jogada às traças. Alguém foi processado por isso? Claro que não, mas foi o nosso dinheiro que foi enterrado ali. Fora, claro, de que mais um ramal foi desativado e algumas cidades ficaram sem seu trem.

E que Deus sabe o Brasil

4 comentários:

  1. Uma empresa que não deveria existir. Como existe, seus diretores deveriam ser processados e a empresa, fechada.

    ResponderExcluir
  2. Boa tarde !
    Meu nome é Rafael e sou o responsável por esses domínios de sites :

    tremurbano.com
    trensurbanos.com
    ferroviadobrasil.com
    ferrovianobrasil.com


    Eu gostaria de vendê-los, será que o senhor poderia me indicar quem queira comprar?

    No aguardo,
    Rafael.

    ResponderExcluir
  3. Hoje, 48 anos depois, pouco restou deste ramal. aqui em Lambari,antes de Cambuquira, todo o leito virou uma enorme avenida asfaltada,de longe a maior da cidade. Os únicos que restaram foram um pequeno pontilhão que só passa um carro por vez,a parada Melo e a estação de Nova Baden que esta em uma área de preservação ambiental na saída da cidade

    ResponderExcluir