Gosto de viajar. Sempre gostei. A verdade, porém, é que ir para lugares que não conheço me atrai muito mais. Viajei bastante com meus pais quando era criança. Sempre de automóvel, com exceção da viagem que fizemos aos Estados Unidos, onde passamos um ano em Illinois, indo de Constelation e voltando no ano seguinte em um navio de linha, New York-Santos.
Com eles fui ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, interior de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas, Sergipe, Permambuco e Paraíba nos anos 1960. Todas as viagens de Kombi.
Nos anos 1970, comecei a viajar com minha namorada e depois esposa, Ana Maria. Fomos de carro ao Rio de Janeiro, de trem ao Rio e a Panorama via Itirapina. Monte Verde, Santos, Itanhaém, Ribeirão Preto, Porto Ferreira e alguns outros lugares.
Comecei, no entanto, a viajar mesmo, quando trabalhava na DuPont. Fui aos Estados Unidos inúmeras vezes entre 1982 e 1994. Uma vez ao Canadá. Muitas vezes Ana Maria foi comigo. Fomos também com as crianças para Foz do Iguaçu, Assuncion, Joinville, Curitiba, Rio de Janeiro. A trabalho, viajei por toda a América do Sul, incluindo Trinidad-Tobago. Somente não conheci as Guianas e a Bolivia.
À Europa, da qual sei muita história por sempre ter lido muito sobre ela, fui somente duas vezes por duas semanas cada vez, a trabalho. Conheci poucas cidades: Frankfurt, Madrid, Milão, Como, Amsterdam, Haia, Londres e Viena. Nada mais do que isso e por pouco tempo.
Em 1996, quando comecei a fazer pesquisas sobre estações ferroviárias, comecei a viajar para conhecê-las. Como os trens estavam em rápida extinção, somente fiz uma viagem com ele, de Sorocaba a Apiaí. Mas ir atrás de estações no meio das cidades ou do mato me fizeram ter de estudar as linhas que ainda existiam e mesmo as que já não existiam.
Com isso, aprendi a geografia do meu país e a beleza do nosso interior. Há (e houve) um total de quase 5 mil estações ferroviárias no Brasil. Visitei pessoalmente pouco mais de mil delas. Desde o Rio Grande do Su até a Bahia, incluindo Minas Gerais, visitei todos esses estados para ver estações, emendando com viagens a trabalho ou a passeio. Fora deles, apenas São Luiz no Maranhão. Mas com o estud das linhas, aprendi onde estão as cidades que tinham estaçòes. Aprendi muito e isso tudo foi muito, mas muito, gratificante.
Boa parte das pessoas que conheço sabem onde ficam as cidades americanas e as da Europa. Uma das pessoas mais cultas que conheço jamais viajou pelo interior de São Paulo, mas de Europa ela conhece. Uma vez disse-lhe que fui a São Carlos. Ele me falou, com desdém, "eu não tenho a menor ideia de onde fica São Carlos".
Quando falo de cidades que me agradam muito, como Ribeirão Preto, União da Vitoria e Porto União, Rio Negro, Marcelino Ramos, Salvador, Araraquara, Joinville, Curitiba e muitas outras, as pessoas se entreolham como que dizendo: "esse sujeito é maluco". Não sou. Há belezas incríveis e mesmo um grande misticismo em muitas dessas cidades. Quando surge a oportunidade de ir a uma cidade à qual jamais fui, fico ansioso para ir e conhecer. E há muitas. Mas também há muitas cidades às quais jamais fui das quais posso falar muito sobre elas.
Fazer o site de estações ferroviárias dá-me uma satisfação imensa. Faço-o por que gosto. Os elogios alimentam meu ego. Porém, também me orgulho de conhecer meu país em detalhes. Com todos os enormes defeitos que tem o Brasil, eu realmente gosto de muitas coisas que vejo e leio sobre ele. Sei muitíssimo mais sobre a geografia e a história do Brasil do que sabia até 18 anos atrás.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Curti muito o texto. Não conhecia o blog e teu filho que me indicou. Conheci muito do Brasil viajando também com meus pais. Lembrei outro dia de uma cidadezinha que marcou muito: Cordisburgo. Conhece? É a cidade do Guimarães Rosa. Só por isso, em outros países já valeria como meca cultural. Na época (não sei se mudou) era quase que uma rua apenas... Abraço.
ResponderExcluirOlá Ralph, tenho aproveitado minhas viagens para conhecer as cidades e também as estações ferroviárias, quando estas as tem. Só fico chateado quando a estação está lá e não há mais trilhos
ResponderExcluirEm 1987 peguei o trem em Baurú com destino a Corumbá. Na cidade percebi que havia uma entrada na fronteira com a Bolívia. Apresentei meus documentos e lá fui eu tomar uma ótima cerveja Boliviana. Ao cabo de meia hora voltei ao Brasil. Foi assim que conheci o País vizinho.
ResponderExcluirParabéns muito boas palavras. Infelizmente para muitos brasileiros é mais "status" conhecer a Europa ou os Eua do que conhecer o próprio interior ou a cidadezinha onde moravam os avós.
ResponderExcluirBelas palavras, sr. Ralph. Também gosto bastante de viajar; para mim, aquela ansiedade gostosa que aumenta à medida em que se aproxima o dia de "meter o pé na estrada" é tudo de bom... Leio frequentemente teus artigos, frutos das tuas pesquisas e vivência, e posso dizer que são uma fonte de inspiração e conhecimento. Aqui, viajando pela história ferroviária, tenho aprendido muito sobre a minha região, o meu estado, o país inteiro... Parabéns a você e que o blog seja sempre fonte de prazer. Leandro Santos, Niterói-RJ
ResponderExcluir