sábado, 18 de janeiro de 2014

CEM ANOS (QUASE) DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

O Imperador Francisco José: "Para lavar as minhas insignias, só mesmo todo o sangue europeu" (A Careta, 2/8/1914).

O ano de 2014 chamará, à medida que formos chegando próximos ao dia 28 de junho, cada vez mais reportagens sobre a pavorosa Primeira Guerra Mundial, cujo início completará cem anos neste ano.

O jornal The Guardian já começou, numa entrevista com Karl Habsburg-Lothringen, neto do último Imperador austríaco e sobrinho-trineto do Imperador Francisco José da Áustria, mandatário que ordenou os primeiros tiros de canhão da nefasta guerra, no dia 28 de julho de 1914. Isto ocorreu um mês depois que seu sobrinho, o arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria, herdeiro do trono da Austria-Hungria, foi assassinado em Serajevo, na Bosnia-Herzegovina, então território desse vasto império.

Karl diz na entrevista que não se pode culpar unicamente a família dele por ter iniciado a guerra. Já li artigos, não sei se condizentes ou não, de que, em termos de violência, a Primeira Guerra teria sido superior à Segunda. Verdade ou não, o fato é que a "Guerra do Kaiser" ou "Conflagração Europeia", como se usava chamar no Brasil nesses tempos, matou milhões de pessoas. Porém, concentrou-se na Europa muito mais do que no caso da Segunda Guerra, onde outros continentes tivream também suas batalhas sangrentas.

Para se ter uma ideia, a repulsa austríaca pelos Habsburgos (vale lembrar que Francisco José morreu em novembro de 1916 e foi substituído pelo herdeiro, seu sobrinho-neto e sobrinho de Francisco Ferdinando, Carlos I) tornou-se tão forte que o Império acabou no mesmo dia que a Guerra na Europa, em novembro de 1918. O Imperador e sua família foram expulsos da Áustria. O passaporte de Karl, o entrevistado, até os anos 1960, proibia a sua entrada na Áustria. A família Habsburgo, até hoje, é impedida por lei de se candidatar à Presidência do país.

Porém, Karl tem razão, pelos conhecimentos que tenho da Primeira Guerra: afinal, como ele mesmo diz e é verdade, as grandes potências europeias queriam a guerra. O Império Alemão, do Kaiser Guilherme II, aumentava seus investimentos militares ano a ano, principalmente na marinha, essencial para derrotar o Império Britânico, que há séculos possuía a maior marinha do mundo, praticamente invencível. Em 1911, a Itália anexou a Líbia. Em 1912, os países da península balcânica entraram em guerra, que acabou no mesmo ano, causando mudanças no mapa da região. Em 1913, nova guerra balcânica e mais mudanças. Tudo isso deixava o continente em clima de guerra já havia anos.
A Europa, bem diferente de hoje, em 1914 Às vésperas da guerra.

Mas o que tem o assassinato de Francisco Ferdinando a ver com a guerra? Numa visita a Serajevo, território austríaco anexado desde 1908 e tirado do Império Otomano (atual Turquia), o arquiduque e sua esposa, embora fortemente aconselhados a candelar a viagem, resolveram visitar a cidade para uma demonstração de autoridade. Desfilaram de automóvel aberto no centro da cidade. Houve um primeiro atentado: uma bomba explodiu no caminho do cortejo. Nada aconteceu com Francisco, que resolveu seguir a viagem.

Porém, logo em seguida, um anarquista pertencente a uma sociedade secreta servia, Gavrilo Prinzip, avançou sobre o carro e baleou o casal. Morreram praticamente na hora, embora o veículo tenha seguido em desabalada carreira para o hospital mais próximo.

A Austria pediu investigações e participação nela, em território da Servia, que era inimigo declarado do Imperio e que queria congregar os eslavos da região sob sua bandeira. Por causa da demora da burocracia diplomática, a Sérvia, quando aceitou as exigências austríacas, já o fez tarde demais: exatamente um mês depois do assassinato, canhoneiras austríacas desderam o rio Danúbio e bombardearam a capital, Belgrado. A fronteira, nessa época, entre os dois países era o rio e Belgrado ficava às suas margens.

O rastilho de pólvora se incendiou: o Império Russo do Czar Nicolau II era aliado dos sérvios e colocou tropas nas fronteiras com a Áustria e a Alemanha. As duas declararam guerra aos russos. A França, aliada da Rússia, declarou guerra à Alemanha. A Alemanha imediatamente começou a invesão da França, pedindo permissão à Belgica para passar pelo seu território, Os belgas negaram, mas os alemães passaram assim mesmo. A Inglaterra, aliada dos belgas, declarou guerra à Alemanha.

Foi questão de alguns dias a mais, e a Europa estava em fogo. A Itália entrou na guerra em 1915 do lado dos ingleses, russos e franceses; os países balcânicos foram cercados pela Auatria, Bulgaria e Turquia, que se aliaram à Alemanha. O cerco de Verdun matou milhares de alemães e franceses sem resultado prático nenhum para nenhum dos lados. Batalhas na lama, como as de Paschendale e Tannenberg fizeram mais milhares de mortes.

No final, sem entrar em detalhes, o mapa da Europa mudou completamente. Antes do fim, em fevereiro de 1918 a Alemanha fez um tratado de paz com o governo comunista russo (a Revolução Russa foi em 1917) e conquistou um território imenso entre os dois países, que foi, assim como uma enorme parte da Austria-Hungria, dividido pelos Aliados que venceram a guerra formando vários novos países, como a Polonia, a Tcheco-Eslovaquia, a Estonia, a Letonia e a Lituania. O Império Alemão perdeu seu Imperador e transformpu-se numa república, destituída da Alsacia-Lorena e do Corredor de Dantzig. O Império Otomano sobreviveu até 1922, muito menor já, ano em que se tornou a atual república turca.

O mundo, em quatro anos e meio, mudou demais com essa guerra, desejada por todos antes de seu início e amaldiçoada por todos após seu término. Mas Karl tem razão. Os Habsburgos apenas incendiaram o pavio que causou a guerra. O resto viria de qualquer forma, seria somente uma questão de tempo.


Um comentário:

  1. um bom livro sobre a conferência de paz em paris 1919, resultante deste conflito:

    http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/147446/paz-em-paris-1919

    Aproveitem ... !!!!!!!!!!!!!!

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