sábado, 16 de novembro de 2013

PAPO FURADO EM TERRAS BAIANAS


No final do século XIX,  Bahia já tinha muitas ferrovias e projetos: um deles, quem prestar atenção, é o da atual FIOL.

Um artigo publicado dia 12 de novembro último no jornal Valor Econômico enaltece a necessidade de se ter ferrovias na Bahia para escoar sua produção. Nada de errado nisso. Aliás, é válido para qualquer estado brasileiro, principalmente os de território vasto.

E dizem por aí que não adianta olhar para o passado, o negócio é olhar para o futuro. Discordo. O passado é que nos ensina a traçar o futuro. Seus acertos e erros que já ocorreram são uma lição sobre o que fazer e o que não fazer. No caso da Bahia, por exemplo, o artigo não fala do que já existiu na Bahia em termos de ferrovias, nem que a maioria delas estão abandonadas, mas ainda existem. E não eram tão poucas. Por que não usá-las, então, pelo menos enquanto não se constróem as que vêm prometendo há anos?

Abaixo, os trechos entre aspas e em itálico são trechos retirados do artigo do jornal. O que segue, sem as aspas, são os meus comentários.

"A Bahia quer desatar os nós logísticos que atrapalham principalmente o fluxo de mercadorias dos portos de Salvador e Aratu, os principais do Estado. Nesse cenário, o modal ferroviário aparece como uma chave-mestra para a ampliação da economia baiana, segundo José Muniz Rebouças, presidente da Companhia das Docas da Bahia (Codeba)." Ora bolas. arrancarm os trilhos entre Calçada e o porto já há anos! Se eles são tão importantes assim, porque os arrancaram? O mesmo fizeram com o trecho Mapele-Paripe, que é caminho para Calçada - deixaram apenas o trecho Paripe-Calçada e somente para os trens de subúrbio.

E para continuar, antes havia trens de subúrbio entre Salvador e Candeias e entre Salvador e Dias D'Ávila, passando por Camaçari, importante centro industrial desde os anos 1970. Tiraram-nos. É essa a importância que dão para a ferrovia na Bahia? Quanto ao porto de Aratu, ele tem acesso desde os anos 1970 por um ramal que sai próximo a Mapele, na linha que não foi arrancada.

"Essa questão está sendo resolvida com a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol)", diz. Além da Fiol, projeto de 1,5 mil quilômetros que pretende cruzar todo o território baiano, o Estado acaba de ganhar a Via Expressa Baía de Todos-os-Santos, obra de R$ 480 milhões que liga a BR-324 ao Porto de Salvador. Em Simões Filho, a 30 quilômetros da capital, um projeto privado de R$ 1,3 bilhão pretende entregar um complexo de logística multimodal, vizinho ao terminal de Aratu." O que estão esperando, então, para construir a FIOL, da qual se ouve falar desde pelo menos o início do governo do incompetente PT, em 2003?

O próprio artigo mostra que, mesmo considerada um dos projetos mais atrasados do PAC, a FIOL ainda pena para sair do papel. Os lotes de 1 a 4, que compõem um trecho de 537 quilômetros entre Caetité e Ilhéus (BA), têm pouco mais de 18% das obras prontas, com previsão de conclusão em dezembro de 2014, segundo o Ministério dos Transportes. É evidente, com esses números, que não vai ser terminada no fim do ano que vem.

E mais: "A Bahia defende a mudança do traçado da Oeste-Leste, estabelecendo o seu entroncamento com a Ferrovia Norte-Sul em Campinorte (GO), ao invés de Figueiropólis (TO)." A troca permitiria aos terminais baianos entrar na competição pela safra de grãos do Tocantins e do Mato Grosso." Ora, quanto mais mudanças, mais demora. E ninguém decide nada, embora os palpites pipoquem a todo instante.

"Em Simões Filho, a Cone SA, do grupo pernambucano Moura Dubeux, vai investir R$ 1,3 bilhão, até 2022, na construção do Cone Aratu, uma plataforma de infraestrutura industrial e de logística multimodal em uma área de quatro milhões de metros quadrados, vizinho ao porto. A ideia é desafogar o tráfego da Região Metropolitana de Salvador (RMS) e otimizar cadeias produtivas e de distribuição." Ótimo. Mas só em 2022? Por que tanto tempo? Existe uma ferrovia passando por ali há exatamente 153 anos... por que não se a usa? É ultrapassada? Provavelmente. Mas funciona e pode ser usada mais ainda para facilitar o escoamento, como o era no tempo das vacas gordas das ferrovias, ou seja, pelo menos até 1960.

"O Porto de Aratu poderia ter um maior escoamento de cargas se contasse com uma malha ferroviária eficiente, retroárea de armazenagem e integração rodoviária com mais opções". Por que - repito - não se usar mais as ferrovias que já o alimentam, então? Que se as reformem aos poucos, puxa vida!

Há outros pontos citados na reportagem, que não transcrevi pois não achei importante. Na realidade, é tudo papo furado. Neste país fala-se muito, faz-se pouco e o que é feito o é lentamente demais. Isto já acontece há muito tempo, desde o fim do governo militar. Os presidentes que os seguiram foram fracos e passaram a não ouvir o que o povo pedia nas ruas. Finalmente, o mais incompetente deles, o PT (embora haja um empate destes, que estão no poder desde 2003, com o governo ridículo de José Sarney), não sabe fazer coisa alguma, Em mais de 10 anos de governo, o Brasil só foi para trás - apesar de eles acharem o contrário.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente com você, e o pior é imaginar que tanta coisa poderia ser feita e não é. Os trilhos mesmo entre a Calçada e Porto de Salvador, único terminal portuário de container do estado, ainda existem, mas estão sobre camadas maciças de asfalto e esquecidos. E pelo visto assim continuarão, porque não se pensam no modal ferroviário no transporte de carga geral no estado.
    A ameaça de devolução dos trilhos da FCA à União espantam prováveis clientes, como eu vi uma usina de produção de energia através de eucalipto reflorestado eliminar seu projeto de alimentação de toras através de trens porque a FCA está para devolver a concessão do seu trecho na Bahia.
    A FIOL então, nem se comenta, mais marketing e propaganda do que avanços físicos.
    E enquanto isso, as ferrovias na Bahia agonizam.

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