domingo, 17 de novembro de 2013

O FIM DAS FERROVIAS, O INÍCIO DO CAOS URBANO - 1959


Natal de 1959. Na edição de 23 de dezembro desse ano, o jornal Folha da Manhã anunciava, numa notícia bastante pequena e meio escondida, o decreto que a autorizava a desativar três ramais de sua rede: o ramal de Artemis (16 km, de Montana, estação na linha Piracicaba a São Pedro, até Artemis, ex-Porto João Alfredo), o ramal de Padua Salles (92 km, ligando a estação de Guanabara à estação de Padua Salles, na margem esquerda do rio Mogi-Guaçu, em Conchal, ex-linha da Funilense) e o Ramal Férreo Campineiro (27 km), que, havia vários anos, somente funcionava com bondes, ligando a estação de Campinas à localidade de Cabras, que dava à linha o apelido de Cabrita.

Medida desastrosa sob todos os aspectos para a época. Eram deficitários? Provavelmente. Quase que certamente. Porém, sem investimentos por parte da Sorocabana - isso podia ser visto numa notícia de 1950, dez anos antes, que citava o mau estado da linha do ramal de Artemis - era evidente que as linhas tendiam a ficar piores e não rentáveis. No caso de Artemis, que alimentava a linha fluvial desse porto até Porto Martins, no rio Tietê, em Botucatu, a linha fluvial já havia sido desativada. Linhas piores, menos passageiros. Menos passageiros, linhas piores ainda. O eterno círculo vicioso, feito de propósito pelas estradas de ferro nessa época e daí para a frente.

A linha da Cabrita acabou parando em 10 de fevereiro de 1960, menos de dois meses depois. A da Funilense, com uma revolta popular, foi prolongada por mais um ano, depois de parar por boa parte do mês de janeiro de 1960. E o ramal de Artemis foi prolongado até 1962.

O fato é que o decreto também autorizava (ou obrigava?) a Sorocabana a "ceder gratuitamente ao DER a totalidade ou parte das áreas de terreno que constituem o leito das linhas a serem surpimidas e que se tornem necessárias à construção de rodovias".

Era a sabotagem das ferrovias em favor das rodovias. O futuro está mostrando quais foram as consequências destes erros, já que esse foi apenas um de dezenas de decretos semelhantes que propagou contra as ferrovias pelo Estado e pelo País inteiro.

Em 1959, essas três linhas já tinham características de trens de subúrbios. Já fariam falta aos usuários. Que não se pense que as estradas que substituíram esses trechos ferroviários foram imediatamente construídas asfaltadas após a retirada dos trilhos. Se já apresentavam essas características, por que não foram reformadas, nem que fosse aos poucos, e mantidas até hoje?

Um comentário:

  1. E a linha para Monte-mór acabou sem nunca ter sido feita, conforme notícia do Estadão de 25.01.1917, página 5, Notícias do Interior, Campinas:
    http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19170125-13910-nac-0005-999-5-not

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