sábado, 30 de novembro de 2013

DONA CATARINA - UMA ESTAÇÃO

A estação em 1998, já desativada e sem trilhos
Em 1897, a Sorocabana, depois de comprar (meio que "na marra") a Ytuana, seu desafeto até 1892, resolveu prolongar a linha-tronco da Ytuana, que terminava na estação de Ytu, desde 1873. A linha foi prolongada até a estação de Entroncamento, na linha da Sorocabana e que pouco depois passou a se chamar Mairink (hoje Mairinque), não por acaso sobrenome do banqueiro que era o dono da ferrovia nessa época.

Essa linha nova fez com que a Sorocabana tivesse de aumentar a bitola da linha da Ytuana, que era de 96 centímetros e não de um metro, pois a linha do prolongamento já havia sido construída com bitola métrica. Neste novo trecho, a ferrovia construiu três novas estações: Pirapitingui, Dona Catarina e Moreiras.

O trecho tinha cerca de 52 quilômetros, com as estações, que foram todas inauguradas no mesmo dia da linha.
A estação, bastante descaracterizada (Foto de hoje)
Mais tarde, em 1913, a Sorocabana, já como concessão da Brasil Railway, de Percival Farquhar, uniu a estação de Itaici a Campinas, abrindo mais três estações nesse trecho: Helvetia, Descampado e Sete Quedas. Nesta obra, trabalhou como chefe do pessoal meu tio-bisavô, Howell Louis Fry, que eu conheci em 1976 pessoalmente, já com mais de noventa anos, e ainda bem lúcido, com enormes olhos azuis. Dessa forma, podia-se agora ir de Campinas a Mairinque direto, e daí para São Paulo.

Enquanto era evidente que era muito mais curto e rápido continuar indo de Campinas a São Paulo pelas linhas da SPR e da Paulista (com troca de tripulação e de locomotiva em Jundiaí), o novo trecho abria uma opção para que a Mogiana seguisse com sua bitola métrica, igual à da Sorocabana, mas menor que as outras, diretamente para São Paulo. Fato, aliás, que não se tem conhecimento de que tenha acontecido, pelo menos não de forma contínua.

Das três estações do trecho, inacreditavelmente, todas estão em pé: duas em Mairinque (Dona Catarina e Moreiras) e uma em Itu (Pirapitingui), esta última servindo de residência até com certeza alguns anos atrás. Provavelmente continua. As duas de Mairinque foram adquiridas há anos pela Prefeitura.

Cabe também uma explicação de por que estas estações foram desativadas: serviram como paradas para passageiros até 1976 e, depois, até 1987, quando a linha foi desativada por causa da construção de uma variante em bitola mista (o famoso "corredor de exportação" que liga Campinas a Mairinque e dali a Santos), ficaram provavelmente abertas para pequenas cargas. Com a retirada dos trilhos logo depois, passaram a não servir para mais nada.
As caixas d'água da estação ainda estão ali, em péssimo estado e sem uso (Foto de hoje)
Estive hoje, depois de pelo menos dez anos (acho que mais) na estação de Dona Catarina. Ela fica no km 69 da rodovia Castelo Branco, onde há um viaduto que se toma para quem vem de São Paulo chegar ao pequeno bairro com o mesmo nome. Aliás, pelo que se conta, o nome teria sido uma homenagem da Sorocabana à mãe do presidente da época, Prudente de Moraes, cujo nome era dona Catarina de Moraes Barros, que morava em Pirapitingui, onde nasceu seu filho e que era ali perto.

A estação, quando a visitei pela primeira vez em 1998, era então uma delegacia, e estava meio mal cuidada, mas ainda conservava, pelo menos exteriormente, seu aspecto original. Hoje, vi que, do original, ela conserva apenas a forma da abertura das portas, a forma do edifício e o madeirame da cobertura da plataforma. Só. O resto foi bastante modificado, ela funciona como creche, o interior foi todo modificado e exteriomente ela foi pintada de branco. Infelizmente, portanto, é mais um prédio quase totalmente descaracterizado.

Obviamente, não há nem sinal de trilhos, como já não havia em 1998. O curioso é que a estação fica a alguns metros abaixo do leito da rua principal do pequeno bairro (bairro feio, sem nada para atrair ninguém a não ser a velha estação, isto quando o sujeito sabe que ela ainda está lá) e tinha um pátio bastante pequeno, pois logo a seguir vem outra queda, deixando-a como em um degrau. Provavelmente tinha apenas a linha principal e um desvio e, sem muita certeza, uma outra linha passando pelo outro lado (o da entrada). Não vi sinais de nenhuma escadaria para se alcançar a estação para quem vinha lá "de cima". Também não havia nenhuma em 1998, pelo que me lembro.

Enfim, é isso aí. A memória vai desaparecendo. Mais algumas reformas e o prédio estará irreconhecível, isso se ninguém pensar em "derrubar essa velharia".

Um comentário:

  1. A chegada não era por cima, a gente vinha em sentido paralelo a linha, naquele cruzamento logo á frente, onde encontra de fechado no momento, por cima éra íngreme e tenha mato.

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