Ernesto Giesbrecht (Ponta Grossa, 1921 - São Paulo, 1996)
Nas últimas postagens deste blog - faz três dias que não escrevo nada - falei sobre ferrovias. Não há grandes elogios nesta área: na maioria das vezes, estou metendo o pau no que foi feito dela aqui na terrinha.
Mas nestes três dias, o que fiz, além de trabalhar? Acompanhei, durante boa parte do tempo, os protestos nas cidades brasileiras, desde São Paulo até Garça, que ocorreu hoje. Tudo via Facebook e Inernet em geral, além de jornais de papel - sim, eles ainda existem.
Com 61 anos, ainda tendo a concordar com as manifestações. Mas não me atrevo a entrar nelas, pois, afinal é muita emoção para um cara com quatro pontes de safena e sessenta e um anos de idade.
Acompanhar as coisas pela imprensa falada, impressa e pela Internet é, no mínimo perigoso - nunca se sabe qual é a verdade ou a mentira de quem escreve. Nas ruas, você pode conversar com as pessoas, encarar a polícia, os bandidos infiltrados, os políticos e os fanáticos e os sinceros que se espalham por ali. Certamente, você terá uma avaliação melhor.
Aí, começa outro problema - o país é grande demais e tem 5.500 municípios - é impossível acompanhar tudo, por motivos óbvios. Já o meu assunto favorito, ferrovias, é pesquisado todos os dias, literalmente, há dezessete anos, de todas as formas. A ideia e o conhecimento são muito maiores, é mais fácil de dar uma opinião, embora, claro, nunca se chegue a uma verdade absoluta, se é que isto existe.
Fiquei com uma certa vergonha de falar de ferrovias abandonadas e roubadas no meio de tanta gente protestando, muitos de forma sincera e com muita esperança. É evidente que existem muitos aproveitadores, desde os que tentam obter vantagens pessoais imediatas ou a curto, médio e longo prazo, neste "brincadeira" (como políticos, por exemplo) até os que simplesmente vêem nessas manifestações uma oportunidade imensa de desrtuir pelo simples prazer de quebrar tudo até os que assaltam lojas e transeuntes no meio de uma confusão de milhares de pessoas.
Embora eu seja a favor, repito, dessas manifestações, a cada opinião que leio vou moldando minha opinião a respeito de diversos fatores, desde os que a causaram até as que podem ser as possíveis ou mesmo as imprevisíveis consequências de tudo isto. Às vezes fico mais otimista, às vezes pessimista. Fui até chamado de fascista por um cara que nunca me viu, por que defendi o regime militar. Ora, diabos - eu vivi esse regime e convivi muito bem com ele, o que não significa que o apoiasse incondicionalmente. E posso dizer com certeza que não sou fascista.
Mas, afinal, o que eu, como pessoa, marido e pai, quero? O que eu exijo ou acho que o governo atual deva fazer? Eu resumo em uma coisa: quero que os nossos governantes dirijam o país pensando mais no povo do que neles próprios e - isto acho fundamental - que nos ouçam. A verdade é que o governo (Nota deste autor: não falo somente dos últimos anos de PT, mas estendo-me para trás até a época do altamente incompetente, pelo menos para governar um país, se é que entendem o que quero dizer, José Sarney, que, mesmo ainda vivo, tem pelo menos quatro ruas e praças em São Luís do Maranhão com seu nome. Quanto à cidade, é um imenso favelão.) - enfim, o governo, desde essa época, deixou de ouvir o povo.
Que povo? Todos. Ele somente ouve quem lhe interessa e lhe traga algum retorno financeiro e político. Isso quer dizer que 99% dos seus "comandados", sejam eles ricos, pobres ou classe média, são solenemente ignorados. Até agora, o governo, seja federal, estadual ou municipal, não entendeu o que o povo reivindica nas ruas nos últimos quinze dias.
Não entendeu, em grande parte, porque não está dando a menor bola para os manifestantes. Só que a coisa tem crescido e está se tornando perigosa para ele. Daqui a pouco, haverá sangue - e esse sangue pode sair das veias de alguns dos homens do "pudê". Afinal, já houve tentativas de invasão de prefeituras, palácio de governadores, casas de políticos, Câmara dos Deputados em Brasília, Câmaras municipais e assembleias estaduais.
É verdade que jã vi vários filmes antes e nenhum deles durou muito - este, ao contrário, já ultrapassou todos os anteriores que vi em termos de duração e de número de pessoas marchando nas ruas. Se perdurará ou acabará amanhã, eu não sei - mas, neste instante, ele é perigoso. O que é bom, pois pode incitar mudanças forçadas. Ou não. Pode ser ruim, pois pode jogar no mercado, a médio prazo, novos políticos com velhas ideias. Mas pode gerar um estadista, coisa que não vemos há muito tempo.
Precisamos de gente que volte a ouvir o povo, e não de idiotas como aquele colunista do "Estadão" e da Globo que falou, há cerca de uma semana, literalmente, que a classe média não tem direito a protestar, pois todos eles são filhinhos de papai. Ora, eu sou classe média e dou duro para viver. Jamais fui filhinho de papai. Aliás, meu pai era ingenuamente honesto. Tão honesto que me educou de forma a seguir regras de conduta e de civilidade. Saudades do velho Ernesto. Muitas saudades. O idiota citado retratou-se três dias depois, mas já era tarde.
Precisamos de gente que tenha autoridade no poder e que tenha assessores (ministros e secretários de Estado) que entendam dos assuntos de suas pastas e não homens que apenas estão lá para obter vantagens, sem ligar a mínima para o cargo teoricamente importante que ocupam.
A lista vai longe.Não vou escrever tudo o que acho. Primeiro, porque pedir autoridade neste país já me faz ser chamado de fascista. Segundo, porque a lista é longa demais. Terceiro, porque não sou o dono da verdade. Se fosse, estaria rico hoje. E, muito pelo contrário, estou pobre. Sou incompetente? Talvez seja. Sou honesto? Sim, como o velho Ernesto o era, sou honesto e ingênuo.
Enfim, quem está nas ruas protestando e exigindo mudanças com sinceridade me representa. E representa meu saudoso pai, o Ernesto. Ele, sua honradez e sua ingenuidade fazem muita falta e não somente a mim.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
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Belo manifesto, Ralph! Como homem, marido, pai e agora avô, concordo plenamente com seus dizeres. Quem será o médico da minha neta? E pior, da minha bisneta, quando eu tiver uma? A hora de mudança é agora. Não podemos perder a oportunidade de corrigir o País, e acabar com todos os oPorTunistas. ÉTICA, aliás, é uma palavra e um conceito que caíram em desuso neste Pais.
ResponderExcluirObrigado, Dario. Muito obrigado mesmo por suas palavras.
ResponderExcluirExcelente suas palavras Ralph! Você pode até não ir pessoalmente nas manifestações (eu também não vou) o que não significa que não está fazendo nada a favor delas, mesmo porque como sempre visito esse seu blog (como você primeiramente pelo assunto das ferrovias, embora não possuo o conhecimento que você tem sobre elas) concordo em muito com seus pensamentos postados regularmente aqui. Continue nos agraciando com sua tão bem colocadas palavras. Abraços
ResponderExcluirE me representa também! Nao é porque estou longe que nao me revolto com a palhaçada que é o Brasil! E que saudades do meu avo!
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