terça-feira, 25 de junho de 2013

E SE AMEDEO NÃO TIVESSE MORRIDO?

A história da família Mennucci nos conta que Amedeo Mennucci, italiano de Lucca e o único dessa família que veio como imigrante e ficou por aqui, nunca mais retornando, morreu no distante ano de 1931, com cerca de 70 anos de idade. Deixou dois filhos  um foi meu avô Sud  e quatro filhas.

Mas… e se ele não tivesse morrido? A história poderia ter-se desenrolado de outra forma! Vejam esta "linha de tempo", meio fantástica, mas que teria sido uma possibilidade.

Quando Amedeo já estava desenganado em seu leito de morte, eis que subitamente ele começou a se recuperar. Três dias depois, teve alta e saiu do hospital. Filhos e esposa felizes, ele foi para casa, na Avenida Rudge. No dia seguinte, chamou Sud para uma conversa reservada. Contou-lhe que iria pegar suas economias e viajar de volta para a Toscana. Já que ele enganara a morte, queria aproveitar seus últimos anos de volta a Lucca, para onde jamais havia retornado.

O fato é que ele não aguentava mais sua esposa Teresa: mimada, chata, fofoqueira e intriguenta. Pediu a Sud que não comentasse nada e que respeitasse sua opinião. E que não entrasse em contato com ele nunca mais nem deixasse que sua esposa e filhos o fizessem. E foi-se, depois de se despedir dos filhos e da esposa. Ela estaria a partir de agora viúva, sem sê-lo.

De volta a Lucca, os pouco mais de quarenta anos que se passaram não haviam alterado a velha cidade murada em praticamente nada. Não procurou os Mennucci de lá. Encontrou, depois de algum tempo, um velho amigo de infância, Giuseppe. Conversaram muito. Contou a ele sobre sua vida no Brasil, em Piracicaba e em São Paulo. Enquanto isso, mesmo com mais de setenta anos, fazia trabalhos como o bom marmorista que era.

Uns dois anos mais tarde, Amedeo voltou a ficar doente. Sem ter a quem procurar para ajudá-lo, procurou Giuseppe. Amedeo havia ouvido dele sobre umas experiências que ele fazia já havia alguns anos em criogenia  conservação do corpo sem matá-lo , para que pudesse ser despertado anos mais tarde, quando pudesse haver uma cura para o que ele tinha.

O velho Amedeo foi piorando rápido. Como no Brasil, os médicos não haviam conseguido decifrar exatamente o que o havia contaminado, que doença, afinal, ele tinha. Propôs a Giuseppe que o congelasse. Afinal, calculava ele, não tinha nada a perder. Giuseppe aceitou o desafio. Era uma técnica ainda pouco desenvolvida, e ele, embora fosse médico, não sabia os riscos reais que seu amigo "brasileiro" correria.

E Amedeo acabou congelado. Enquanto os anos passavam, Giuseppe foi ampliando suas experiências, treinando sucessores. Seu "laboratório" sobreviveu à Guerra, Amedeo também. Porém, com a morte de Giuseppe, seu sucessor continuou cuidando do único paciente congelado que tinha, sem espalhar a notícia. E a dúvida começou a assaltá-lo: se descongelasse o velho, perderia os dados que coletava, valiosíssimos. Ainda por cima, se ninguém sabia o que havia o acometido, como iriam curá-lo?

Por outro lado, o congelamento não poderia se estender indefinidamente. Claudio, sucessor de Giuseppe, acabou não tomando a responsabilidade de tomar uma decisão. E ali ficou Amedeo, dormindo por décadas, até que, no início de 2013, o médico que nessa época comandava o hospital decidiu que era hora: Amedeo deveria "ressuscitar", enfim. E assim foi. O traumático processo de recuperação do velho — a esta altura, com já mais de cento e cinquenta anos de idade, mas com corpo e mente de pouco mais de setenta — demorou alguns meses, mas lá estava o bravo velhinho, acordado e disposto a conhecer o "admirável mundo novo".

Em Lucca, a diferença não era tão grande, novamente. Se fosse São Paulo, disseram-lhe, ele iria ter um choque. Amedeo, o marmorista, estava sem saber qual seria o seu futuro. Ser marmorista nos dias de hoje já não é a mesma coisa que no final do século XIX ou no início do século XX. Ele ainda tinha um dinheirinho. Alugou um quartinho e resolveu rever seu mundinho em volta. Que tal Pistoia, a cidade em que se casara? Tão pertinho dali.

Andando pela cidade, sentou-se numa mesa de bar, perto da estação. De repente, fixou os olhos numa moça que viu ao longe, passeando com seu marido. Ela o lembrava alguém. Ali? Mas quem? Ele foi se aproximando lentamente. A moça o intrigava demais. Tomou coragem e perguntou ao casal se eles eram dali. A moça disse que sim.

Amedeo olhou para ela e disse: "Seu marido pode ser daqui, mas você não é. Você tem sotaque bem brasileiro. Eu sei, porque vivi lá, muito tempo atrás, por isso sei." A moça ficou contente: "Senhor…" "Amedeo. Amedeo é meu nome." Ela respondeu: "Senhor Amedeo, estou contente de encontrar alguém que gosta de meu país. Eu vejo poucos — ou nenhum — brasileiros aqui. Casei-me lá com meu marido, que era daqui e fatalmente voltaria para cá no fim de seu contrato." E completou: "Foi um prazer conhecê-lo. Qual é mesmo seu sobrenome?" "É Mennucci, moça. Amedeo Mennucci."

A moça empalideceu. Disse, meio emocionada: "Meu nome é Verônica. Desculpe, esqueci de lhe dizer. Mas… meu pai é um Mennucci. E agora me lembro… o bisavô dele se chamava Amedeo, como o senhor; e o seu filho, Sud, era avô dele. Fora meu pai, eu não os conheci."

Amedeo teve de se sentar. Ele havia descoberto algo inacreditável: essa moça simpática era sua trineta. E estava ali, em frente a ele. Mas, se ele respondesse que ele era o próprio, como ela reagiria? Seria difícil de acreditar. Ele olhou nos olhos dela, que estava com lágrimas pelo rosto. Ela sabia. Ele não precisava dizer mais nada. Eles se abraçaram por longos minutos, e ninguém precisou explicar nada nem contar uma história simplesmente extraordinária.

2 comentários:

  1. Uma historia um pouco maluca, mas emocionante pra mim! Eu ia adorar ter alguem da minha familia aqui comigo!

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