O palacete, em fotografia de 1977 publicada no jornal O Estado de S. Paulo, pouco antes de sua demolição
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José Paulino Nogueira, campineiro de família poderosa do século XIX, atuante na antiga Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e na Companhia Funilense, depois anexada à Sorocabana, também teve sua casa na capital paulista.
Este magnífico palacete foi erigido em 1893 na então elegante rua Conselheiro Crispiniano, entre a rua Barão de Itapetininga e a rua de São João, hoje avenida.
Em 1919, a casa foi vendida pela família e passou a ser ocupada pelo Quartel-General do 2o Exército, sediado em São Paulo. Assim o foi até 1968, quando o Exército dali se retirou. Sem interessados pelo palacete vazio, a Prefeitura acabou por adquiri-lo em 1973.
Boas notícias: Não, péssimas. A cidade ainda sofria da síndrome de "a cidade que mais cresce no mundo" e, com isso, belíssimos palacetes ainda iam caindo, uns após os outros. Somente como exemplo, o belo casarão de René Thiollier havia sido derrubado pelo seu filho Alexandre em 1972, que pouco se importou com os "pedidos de clemência", que uma parte incipiente chegou a fazer na época.
O prédio da rua Conselheiro Crispiniano ficava já num local onde chamava pouca atenção, pois o "centro novo" (o antigo Bairro do Chá) já não era o centro das atenções paulistanas como o havia sido até o início dos anos 1960. E, em 1977, o prédio foi sumariamente (e eu acrescento, criminosamente) demolido por ordem do prefeito Olavo Setúbal.
Curiosamente, os descendentes de José Paulino conseguiram entrar na casa no início de sua demolição, com a autorização de conseguir retirar alguns objetos. A porta de jacarandá foi parar na entrada da sede do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
No mapa da Sara Brasil de 1930, o palacete aparece no centro do recorte acima. Junto a ele, na esquina da rua Conselheiro Crispiniano com a rua de trás do Teatro Municipal, aparece o célebre, mas tambémm já demolido, Palácio Trocadero.
No lugar da casa demolida, foi criado, já em 1978, o "Recanto Monteiro Lobato". Apesar de que tenha sido um consolo pelo fato de não haver ali sido construído outro edifício, que seria certamente colado ao do lado, que ocupava o Cine Marrocos, a área foi praticamente toda impermeabilizada, como a desastrosa Praça Roosevelt o foi, dez anos atrás. E, como todas as praças construídas na área central nessa época, tornou-se um centro de reunião para mendigos e sujeira. Depois, foi abandonado de vez. Somente recentemente foi reformado, mas seu futuro não deverá ser muito diferente do tal recanto, espremido entre altos edifícios.
A bela mansão de José Paulino, que deu seu nome à rua do Bom Retiro e à cidade de Paulínia, sumiu para sempre, em vez de ser mais uma representante da era de ouro da nobreza paulista. Restauram poucas fotos, como a que aparece acima. A memória paulistana foi para o chão, nem pela primeira, nem infelizmente pela última vez, com a demolição desta bela casa.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
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Conheci bem esse local, pois trabalhei pelos anos 1960 no Edifício Rex na esquina da São Joao. De fato o QG do Exercito ficou nesse local até 1968, mudando-se para o Ibirapuera nessa ocasião. Hoje esse "Recanto Monteiro Lobato", faz parte do projeto "Praça das Artes", do prefeito Kassab, já concluído. Eu sabia que a mansão era de um tal de José Paulino Nogueira, e intitulava-se Mansão Tedesco porém desconhecia que o proprietário tinha relação com a Rua José Paulino e que havia nascido em Paulínia na cidade de Campinas e agradeço tal informe. A tal mansão, segundo o Almanack Paulistano, foi "Construída por Ramos de Azevedo com a colaboração de Domiziano Rossi em 1896, para residência de José Paulino. Foi depois a famosa Vila Tedesco, ocupada por moças de fino trato, dirigida por Madame Nina Della Paulera.".-
ResponderExcluirMuito interessante o que v. falou sobre a mansão... ela foi bordel de luxo quando? Anres ou depois da saída do 2o Exercito do local? Outra coisa: eu ao disse que José Paulino nasceu em Paulinis. Disse que o nome da cidade foi dado em homenagem a ele, pois ele tinha muitas terras ali. Abraços
ResponderExcluirValeu. Segundo se entende pelo tal Almanack Paulistano, o bordel sucedeu à estada da família José Paulino, mas não cita os anos dessa locação. Efetivamente, o local só viria a ser QG do Exército em 1954, segundo o Histórico Militar do Sudeste. E uma incógnita saber quanto tempo essa mansão foi "dominada" pela tal Madame Nina e quando o Exercito se apropriou efetivamente do imóvel, colocando, talvez, serviços burocráticos no local, tão logo desocupado o bordel. Tenho algumas imagens do local quando era do Exercito, se lhe interessar mande-me e-mail que respondo anexando.
ResponderExcluirValeu. Segundo se entende pelo tal Almanack Paulistano, o bordel sucedeu à estada da família José Paulino, mas não cita os anos dessa locação. Efetivamente, o local só viria a ser QG do Exército em 1954, segundo o Histórico Militar do Sudeste. E uma incógnita saber quanto tempo essa mansão foi "dominada" pela tal Madame Nina e quando o Exercito se apropriou efetivamente do imóvel, colocando, talvez, serviços burocráticos no local, tão logo desocupado o bordel. Tenho algumas imagens do local quando era do Exercito, se lhe interessar mande-me e-mail que respondo anexando.
ResponderExcluirAcho que tem um engano na data , quando disse que o Exercito desocupou o prédio em 1.968 , Eu servi extinta 7.cia. de guardas , Quartel Parque D.Pedro ,dei guarda nesse prédio que era a sede do Qg.do 2° Exercito até 1.970.
ResponderExcluirVou ter de checar isto. Obrigado.
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