quarta-feira, 24 de novembro de 2010

DE SÃO PAULO A BARUERI HÁ 135 ANOS

Barueri em 1875

Vamos embarcar no trem da Sorocabana que saía no final de 1875, alguns meses após a abertura da linha, e seguia até a estação de Barueri. Como se houvesse um trem metropolitano naquele tempo. A Sorocabana fazia então o percurso São Paulo-Sorocaba, do tipo vai-num-dia-volta-no-outro. Ou seja: se v. fosse a Barueri hoje de trem, só voltaria amanhã. Bom, mas o que você iria fazer em Barueri naquele longínquo ano de 1875?

Bem, o trem partia de manhã, às oito horas. A estação modesta de então, quase ao final da rua do Bom Retiro (hoje Couto de Magalhães), esperava o trem apitar e sair. Nas ruas à sua frente, uma ou outra casa no bairro de Santa Ifigênia, ainda relativamente novo então. Fazendo uma curva para o noroeste, o trem acompanhava a linha da Ingleza (escrevia-se com "z" naquele tempo) à sua direita e as casas começavam a desaparecer.

Dali até a Barra Funda, apenas uma ou outra chácara. Numa delas, cinco anos mais tarde, apareceria à esquerda de quem estava no trem o bairro dos Campos Elíseos. O trem andava por uma região já rural até chegar à Barra Funda. Ao contrário de alguns anos depois, ele não parava ali. Era um local em que já se viam as construções de um ou outro galpão da linha da Ingleza. Seguia reto, mas nos campos onde apenas mais tarde surgiria a fábrica da Matarazzo. Ao longe, se via à esquerda, afastada, a estrada de Campinas (rua Turiassu). Cruzava então o córrego da Água Preta e seguia pela Água Branca, ainda tendo como companhia, agora bem mais perto, a velha estrada - hoje rua Guaicurus. Quem estava à direita do trem podia ver ao longe a igreja da Nossa Senhora do ó, no alto do morro lá do outro lado do Tietê.

Estação de São Paulo, da Sorocabana, em 1875 - só seria chamada de Julio Prestes, num prédio ao lado, em 1951.

Chegava à Lapa. Aliás, a lugar nenhum, lá não havia praticamente nada, nem o nome. A um certo ponto, os trilhos da Ingleza se afastam, indo para o lado do Tietê. A partir daqui, pode-se ver o rio corcoveando à direita do trem. A vista mostra campos com algumas araucárias. No ponto onde hoje está o pontilhão da Vila Anastácio, o rio encostava na ferrovia. Nada de galpóes ou oficinas ali, ainda.

Finalmente, o trem cruzava o rio - o Pinheiros, não o Tietê, aliás, como hoje. Seguia pela mata, passando por um lugar que apenas vinte anos depois teria algumas casas, uma estaçãozinha e seria conhecido como Osasco. Ali era mata praticamente virgem. Nesse local, do trem novamente podia ver o Tietê, ainda à direita e sempre corcoveando. Ao longe, o Jaraguá.

Seguia o trem no mesmo marasmo, passando agora pela fazenda Quitaúna. Aqui acabava o município de São Paulo e começava o de Parnahyba - mas quem sabia disto? Cruza então o rio Carapicuíba e segue, entrando na fazenda do mesmo nome. Aqui se podia ver o gado pastando. Terra de invernada.

Até aqui, nenhuma parada, nada. Parar para que? Seguia o comboio apitando ao longo da várzea. Mais à frente, a pontezinha sobre o rio Cotia. Faz uma curva para a direita, acompanha a curva do morro à sua esquerda, enquanto à direita aparece o rio São João, já próximo de sua foz; passa pela minúscula e já tri-centenária Aldeia de Barueri, semi-abandonada e alguns minutos depois diminui a marcha até parar na estação de Barueri, quase à margem do rio São João. Nenhuma capela, nada, apenas um ou outro barraco remanescente do acampamento de obras que ali se instalou três anos antes justamente para construir a ferrovia e a estaçãozinha.

São 8 horas e cinquenta e cinco minutos. Não muito diferente de hoje, para ir da Julio Prestes ao mesmo lugar com TUEs modernos da CPTM... que, no entanto, param em onze estações transportando muita gente embarcando e desembarcando no meio de uma floresta de edifícios.

Seguimos, então, rumo a Cotia, a São João (Velho), com destino final Sorocaba. São outros tempos, afinal. Até São João, mais perto ou mais longe, o rio do mesmo nome estará à nossa direita. Já à nossa esquerda, estará a estrada real de Ytu. Mas nós descemos em Barueri e agora vamos descobrir como iremos até Parnahyba, 13 quilômetros ao norte. Nossa escolha: um carro de boi ou a pé, mesmo. Certamente demoraremos mais do que a viagem de 55 minutos pelo trem. No futuro isto mudará.

Um comentário:

  1. O incrivel é eu acompanhando o texto e mesmo sem quase nenhuma foto, eu praticamente quase ver essa viajem...devia ser perfeito..o que eu não daria para poder voltar no tempo agora.

    ResponderExcluir