Para quem gosta de ler sobre história do Brasil, o nome Parnaíba sempre aparecerá em diversos temas. Ele é de origem indígena e já deveria existir havia gerações, quando Suzana Dias e seu marido Manoel Fernandes Ramos acharam um bom local para se "esconderem" quando não estavam na então jovem cidade de São Paulo, no já longínquo ano de 1580. Junto à que veio a ser chamada Cachoeira do Inferno, aquele local, Parnaíba, cujo nome possivelmente já existia, recebeu uma capela em devoção a Santo Antonio. Logo em seguida, outra capela a substituiu evocando então Santa Ana - Santana.
Rio Tietê em Santana de Parnaíba, 1901. Desenho feito pela Light and Power na época. Hoje as ilhas que aparecem aí já não mais existem, pois o curso e a profundidade das águas foram alterados em 1954. A barragem à direita foi feita sobre a antiga Cachoeira do Inferno e existe até hoje.
O nome significaria "rio de muitas ilhas", em alusão às ilhotas que existiam logo após a citada cachoeira, mas há também outras interpretações.
Suzana e seu marido acabaram se fixando no lugar, a cerca de 40 quilômetros da Praça da Sé. Às margens do então rio Anhembi, o hoje Tietê, o local acabou gerando uma vila que rivalizaria por muitos anos com a de São Paulo, que, aliás, ainda não era capital de nada. Em 1625, ganhou autonomia e tornou-se realmente uma "villa"- município autônomo, na época. Era então boca-de-sertão, ou seja, o local que recebia tudo que vinha do interior pouco desbravado e ponto de saída de muitas bandeiras, sempre realizadas com a companhia de seus rivais paulistanos. É difícil saber realmente quais bandeirantes viviam ali ou em São Paulo durante a história dessas duas cidades.
O tempo passou e Santana de Parnaíba - mais conhecida então como somente Parnaíba - entrou em decadência, mas os desbravadores que dali partiam sempre lembravam de seu nome e das coisas de sua terra. No Mato Grosso surgiu outra Santana do Parnaíba, hoje Paranaíba. Esta vila estava (e ainda está) às margens do rio do mesmo nome, pouco antes do seu encontro com o rio Grande para formar o rio Paraná, a cerca de uns 60 quilômetros da divisa tripla SP/MG/MT. Quem lê os relatórios anuais da Companhia Paulista de Estradas de Ferro do final do século XIX encontra que "o objetivo da ferrovia era levar seus trilhos até Santana de Parnahyba". Parece aqui do lado da Capital, certo? Não era, era a outra. Os trilhos, no entanto, jamais chegaram lá.
Na Parnaíba paulista, as atas da Câmara Municipal mostram, no século XIX, os nomes de Parnahyba, Paranahyba, Santana de Parnahyba ou Paranahyba e Santana da Parnahyba ou Paranahyba. Notem: nunca é usada a preposição+artigo "do". No Piauí, no século XVI, bandeirantes saídos daqui nomearam ali um grande rio, o Parnaíba, que hoje divide o Piauí do Maranhão. Da mesma forma, fundaram uma das primeiras cidades do Estado. O nome? Parnaíba.
Rio Paranaíba, na divisa Minas Gerais/Mato Grosso, não muito distante da cidade de Parnaíba matogrossense. Foto www.obrasdeengenharia.zip.net
A decadência da vila paulista por diversos motivos a partir do século XVIII fê-la cair praticamente no esquecimento. Jamais perdeu a autonomia, embora isso quase tenha ocorrido nos anos 1930. Mas, então, de onde surgiu, por exemplo, o título do Visconde e depois Conde de Parnahyba, no final do século XIX? Veio, na verdade, do rio Paranahyba (notem que a presença ou ausência do "a" não muda muito a situação), rio que deveria ter sido alcançado pela linha principal da Mogiana, ferrovia da qual o Conde era diretor e, mais tarde, seu presidente.
Rio Parnaíba, no Piauí. Foto www.deltadoparnaiba.com.br/parnaiba.htm
O navio que levou Dom Pedro II do Rio de Janeiro para a Europa foi o vapor "Parnahyba". Os navios recebiam nomes dos principais rios brasileiros. Neste caso, do rio piauiense.
Com a fixação dos nomes de logradouros ocorrida durante o século XX, a cidade paulista virou Santana de Parnaíba, abolindo-se o hy. A Parnaíba piauiense ficou com o nome simples e a mineira abandonou o Santana e ficou como Paranaíba - com o "a". Aquela que deu origem a tudo não recebeu nenhuma homenagem e permaneceu esquecida.
Por causa deste esquecimento, a cidade, hoje parte dos 40 municípios da Grande São Paulo, manteve sua tradição e sua memória. Isolados, somente a partir do inchaço do município da Capital e de seus vizinhos na região noroeste a cidade passou a ser "invadida" por bairros periféricos que "entravam" dentro de seus limites. Um deles foi Alphaville, que hoje responde por mais de 70% do faturamento de impostos do município. Outro foi a Fazendinha, que também tem várias indústrias, mas seu faturamento de impostos é inferior.
Por causa disto, a população de Santana de Parnaíba aumentou de cerca de 20 mil para 110 mil habitantes nos últimos 20 anos. Isto é bom, segundo alguns. Mau, no sentido de que cidade começa a perder sua identidade que manteve a tanto custo. Seu centro histórico, no entanto, a deixa muito diferente de qualquer outro município naquela área e talvez de qualquer outro da área metropolitana. Com casas que remontam até o século XVII, seus quarteirões centrais são uma joia em termos de arquitetura simples, mas bonita.
Rio Tietê em Santana de Parnaíba, 1901. Desenho feito pela Light and Power na época. Hoje as ilhas que aparecem aí já não mais existem, pois o curso e a profundidade das águas foram alterados em 1954. A barragem à direita foi feita sobre a antiga Cachoeira do Inferno e existe até hoje.
O nome significaria "rio de muitas ilhas", em alusão às ilhotas que existiam logo após a citada cachoeira, mas há também outras interpretações.
Suzana e seu marido acabaram se fixando no lugar, a cerca de 40 quilômetros da Praça da Sé. Às margens do então rio Anhembi, o hoje Tietê, o local acabou gerando uma vila que rivalizaria por muitos anos com a de São Paulo, que, aliás, ainda não era capital de nada. Em 1625, ganhou autonomia e tornou-se realmente uma "villa"- município autônomo, na época. Era então boca-de-sertão, ou seja, o local que recebia tudo que vinha do interior pouco desbravado e ponto de saída de muitas bandeiras, sempre realizadas com a companhia de seus rivais paulistanos. É difícil saber realmente quais bandeirantes viviam ali ou em São Paulo durante a história dessas duas cidades.
O tempo passou e Santana de Parnaíba - mais conhecida então como somente Parnaíba - entrou em decadência, mas os desbravadores que dali partiam sempre lembravam de seu nome e das coisas de sua terra. No Mato Grosso surgiu outra Santana do Parnaíba, hoje Paranaíba. Esta vila estava (e ainda está) às margens do rio do mesmo nome, pouco antes do seu encontro com o rio Grande para formar o rio Paraná, a cerca de uns 60 quilômetros da divisa tripla SP/MG/MT. Quem lê os relatórios anuais da Companhia Paulista de Estradas de Ferro do final do século XIX encontra que "o objetivo da ferrovia era levar seus trilhos até Santana de Parnahyba". Parece aqui do lado da Capital, certo? Não era, era a outra. Os trilhos, no entanto, jamais chegaram lá.
Na Parnaíba paulista, as atas da Câmara Municipal mostram, no século XIX, os nomes de Parnahyba, Paranahyba, Santana de Parnahyba ou Paranahyba e Santana da Parnahyba ou Paranahyba. Notem: nunca é usada a preposição+artigo "do". No Piauí, no século XVI, bandeirantes saídos daqui nomearam ali um grande rio, o Parnaíba, que hoje divide o Piauí do Maranhão. Da mesma forma, fundaram uma das primeiras cidades do Estado. O nome? Parnaíba.
Rio Paranaíba, na divisa Minas Gerais/Mato Grosso, não muito distante da cidade de Parnaíba matogrossense. Foto www.obrasdeengenharia.zip.net
A decadência da vila paulista por diversos motivos a partir do século XVIII fê-la cair praticamente no esquecimento. Jamais perdeu a autonomia, embora isso quase tenha ocorrido nos anos 1930. Mas, então, de onde surgiu, por exemplo, o título do Visconde e depois Conde de Parnahyba, no final do século XIX? Veio, na verdade, do rio Paranahyba (notem que a presença ou ausência do "a" não muda muito a situação), rio que deveria ter sido alcançado pela linha principal da Mogiana, ferrovia da qual o Conde era diretor e, mais tarde, seu presidente.
Rio Parnaíba, no Piauí. Foto www.deltadoparnaiba.com.br/parnaiba.htm
O navio que levou Dom Pedro II do Rio de Janeiro para a Europa foi o vapor "Parnahyba". Os navios recebiam nomes dos principais rios brasileiros. Neste caso, do rio piauiense.
Com a fixação dos nomes de logradouros ocorrida durante o século XX, a cidade paulista virou Santana de Parnaíba, abolindo-se o hy. A Parnaíba piauiense ficou com o nome simples e a mineira abandonou o Santana e ficou como Paranaíba - com o "a". Aquela que deu origem a tudo não recebeu nenhuma homenagem e permaneceu esquecida.
Por causa deste esquecimento, a cidade, hoje parte dos 40 municípios da Grande São Paulo, manteve sua tradição e sua memória. Isolados, somente a partir do inchaço do município da Capital e de seus vizinhos na região noroeste a cidade passou a ser "invadida" por bairros periféricos que "entravam" dentro de seus limites. Um deles foi Alphaville, que hoje responde por mais de 70% do faturamento de impostos do município. Outro foi a Fazendinha, que também tem várias indústrias, mas seu faturamento de impostos é inferior.
Por causa disto, a população de Santana de Parnaíba aumentou de cerca de 20 mil para 110 mil habitantes nos últimos 20 anos. Isto é bom, segundo alguns. Mau, no sentido de que cidade começa a perder sua identidade que manteve a tanto custo. Seu centro histórico, no entanto, a deixa muito diferente de qualquer outro município naquela área e talvez de qualquer outro da área metropolitana. Com casas que remontam até o século XVII, seus quarteirões centrais são uma joia em termos de arquitetura simples, mas bonita.
Olá,
ResponderExcluirMe chamo Francisco Brandão e sou editor do www.proparnaiba.com Trata-se de um portal de notícis de Parnaíba no Piauí. Tomei a liberdade de reproduzir seu artigo no seguinte link: http://www.proparnaiba.com/redacao/cidades-saiba-quais-s-o-parna-bas-do-brasil.html
Demos, claro, os devidos créditos.
Parabéns pela publicação!
Como piauiense, não deixei de observar um pequeno deslize em seu relato, qual seja, a afirmação de que o rio Parnaíba seja o limite natural entre o Piauí e o Ceará; Na verdade o citado rio é na verdade o limite entre o Piauí e o Maranhão. Obrigado!
ResponderExcluirE gostei muito do post.
Nossa! Erro cabal meu. Vou corrigir no texto. Estava distraído mesmo.
ResponderExcluirEstive apenas uma vez em Santana de Parnaiba, em um dia quase sem movimento, e curti o casario colonial emanando tranquilidade. Valeu!
ResponderExcluirRalph, muito legal seu blog, seus textos, abordagens, tudo muito rico. Temos um jornal semanal em Santana de Parnaíba há 4 anos. Toda terça são 15 mil exemplares nos mercados, padarias e algmuas bancas de jornal onde ficam nossos displays. Nosso site é www.jornalcomunicacao.com.
ResponderExcluirGostaria muito de publicar um texto/artigo seu se você nos autorizar. O que acha?
Abraço, Fátima Morina Cruz - Jornal Comunicação de Santana de Parnaíba (SP)
Fatima, por favor, pode publicar, claro. Avise-me quando sair. Como se chama o jornal?
Excluir"...Rio Paranaíba, na divisa Minas Gerais/Mato Grosso, não muito distante da cidade de Parnaíba matogrossense. Foto ww.obrasdeengenharia.zip.net..."
ResponderExcluirDivisa é com MATO GROSSO DO SUL.
E a cidade que fica próximo é PARANAÍBA SULMATOGROSSENSE