segunda-feira, 16 de março de 2009

VELHAS HISTÓRIAS, NOVAS CIDADES

Ontem o jornal Vale Paraibano publicou uma notícia que já se tornou costume em cidades do interior. Fala sobre retirada de trilhos, que estejam ou não sendo utilizados. Agora a cidade é São José dos Campos.

Nunca entendo isto direito. Conheço muitas e muitas cidades do interior, especialmente as que têm linhas de trem, ativas ou não. Em nenhuma, a linha realmente atrapalha – especialmente quando, como neste caso, ela está inativa há pelo menos 14 anos. Por que essa linha, que cruza a Dutra vindo de Jacareí, na divisa deste município com o de São José dos Campos, passa pelos campos ainda não habitados paralelamente à avenida Cassiano Ricardo, cruza o Vidoca – ou melhor, cruzava, pois a Prefeitura retirou o cruzamento, dizem, sem autorização, no final dos anos 1990 – e aí segue para costear o Banhado até chegar à estação da cidade, no fim do Banhado.

Afinal, o que é o Banhado? Hoje, é uma enorme área que se vê praticamente do centro da cidade a 2 quarteirões da Igreja Matriz, e que fica num desnível de sei lá quantos metros – uma verdadeira parede para quem está embaixo. Quem olha do outro lado da rua que o costeia pelo alto pensa que ali é o fim da cidade – como se houvesse uma praia à frente. Não é, é uma vista de quilômetros até a serra longínqua da Mantiqueira. A linha passa encostando na “parede”. Trilhos hoje enferrujados carregaram os trens da Central do Brasil por setenta anos. Com a construção da linha da “variante do Parateí”, em 1952, essa linha começou a ser abandonada, mas acabou, sabe-se lá exatamente por qual razão, somente desativada de vez em 1995. As duas linhas – a velha e a ativa – se encontram na estação até hoje.

Dizem – e parece que não há por que duvidar – que ao Banhado era uma floresta cuja vegetação foi vendida à Central do Brasil em 1917 para servir de lenha, numa época em que a Primeira Grande Guerra tornou proibitivos os preços do carvão importado para tocar as locomotivas a vapor. Com isso, sendo devastada por anos, o Banhado tornou-se uma espécie de pântano deserto – hoje é o que se chama de “ecossistema” – e que, com a exceção de uma pequena favela às margens da linha, continua deserto. Tornou-se área de edificação proibida já há anos pela Prefeitura, “congelando” as favelas já então existentes. Nem por isso alguma desapareceu de lá.

Construir uma avenida que ligue o inicio e o fim do Banhado em nada vai ajudar a sua conservação, com certeza. A maior probabilidade é que estimule novas construções ao longo dela. Por outro lado, vai mesmo ajudar a cidade? Por que? O trânsito em São José dos Campos não tem problema nenhum. Já cansei de ir à cidade em dias de semana e jamais peguei um congestionamento que fosse. E mais: por que não se constrói a avenida e se deixa os trilhos ali? Podem ser eles a passagem para um VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, dos quais tanto se fala ultimamente no Brasil e que quase nada se faz. É um bonde modernizado, em outras palavras, nada mais do que isso. Se eliminarmos os trilhos, o leito vai junto – e aí, de reduzida possibilidade para transporte sobre trilhos, passaremos à probabilidade zero. A memória dos trens na cidade vai “para o saco” de vez, já que a variante do Parateí já passa fora da região central (e não tem trens de passageiros já há tempo demais).

Enfim, é uma boa desculpa da Prefeitura: por causa da falta de autorização dos órgãos competentes do Governo Federal, a cidade não pode crescer nem se pode fazer uma avenida. Como prefeitos gostam de avenidas, que somente serve para deteriorar os locais, muitíssimo mais do que uma linha de trem ainda por cima não mais usada. Não preciso provar o que digo: basta ver as outras cidades que construíram grandes avenidas nos últimos 40 anos. E, abaixo, transcrevo a notícia publicada em 15 de março, gentilmente enviada por meu amigo Marco Giffoni, de Caçapava.

Linha férrea atrasa obra da Via Norte

Considerada vital para a solução dos gargalos de trânsito da região norte de São José dos Campos, a segunda etapa Via Norte, uma das 'vitrines' da administração do prefeito Eduardo Cury (PSDB), deverá ser concluída somente no segundo semestre deste ano, com pelo menos dez meses de atraso. Se o cronograma da obra, orçada em R$ 15,3 milhões, tivesse sido executado de acordo com o previsto, a avenida deveria ter ficado pronta em janeiro deste ano e a população já poderia estar usufruindo do corredor viário. Entretanto, o prazo para a finalização dos serviços foi dilatado porque a prefeitura ainda não conseguiu autorização da União para a passagem do corredor viário por áreas não operacionais da extinta Rede Ferroviária Federal, às margens do Banhado. Até o final do ano passado, a Secretaria Municipal de Transportes trabalhava com a expectativa de que o impasse seria resolvido no início deste ano.

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