domingo, 22 de março de 2009

O CARTÃO DE VISITA DE MIGUEL COSTA













Nos cartões de visita do arquivo de meu avô Sud Mennucci (1892-1948) existe uma série de cartões de gente que já se foi há muito; muitos são nomes de ruas, de escolas e de outras coisas por aí. Este, no entanto, foi um dos que ficaram meio esquecidos pela história – pelo menos, pela história paulista. O General Miguel Costa (1884-1959), argentino de nascimento, mas que veio ainda criança para o Brasil, foi um dos revoltosos de 1924 em São Paulo e, logo depois, um dos principais membros da Coluna Miguel Costa-Prestes, que perambulou pelo Brasil e pela Bolívia durante os três anos seguintes perpetrando toda sorte de invasões, vandalismos, saques e roubos, além de enfrentar as tropas do Exército Brasileiro, primeiro pelo interior de São Paulo, quando seguiram a rota Estação da Luz-Bauru-Botucatu-Presidente Epitácio e desceram o rio Paraná para começar a longa peregrinação.

Dá para notar que ele era um dos dois principais homens da Coluna, pois o seu nome formava o próprio nome da Coluna; com o fim da mesma, o tempo passando e o, digamos, marketing político de Luiz Carlos Prestes, passou a ser este o único (?) líder do então já desaparecido grupo. O nome de Miguel Costa se foi. É verdade que parte dos integrantes se tornaram comunistas e parte não – e muitos destes apoiaram Getulio Vargas no golpe de outubro de 1930. Miguel foi um destes últimos e estava no trem que subiu com Vargas desde o Rio Grande do Sul até São Paulo e Rio de Janeiro para terminar destituindo de vez o então Presidente da República Washington Luiz.

Miguel Costa tornou-se, com isso, o chefe das milícias no Estado de São Paulo, algo como uma espécie de governador militar. Os interventores nomeados por Vargas para o lugar que deveria ser do Governador do Estado tinham de ser aprovados por Miguel. Assim foi até as vésperas da Revolução Constitucionalista de 1932, quando a desgastada relação entre ele e Vargas acabou por causar seu afastamento do cargo. A partir daí, pouco se ouve falar ou se lê sobre o General, que caiu no ostracismo. Porém, no ano e meio em que ele ficou à testa das milícias por aqui, ele tinha uma equipe em volta dele: um deles foi meu avô, Sud Mennucci. Segundo palavras de Sud, o motivo de seu apoio aos revolucionários de 1930 foi a sua desilusão com os rumos da educação no País, que nada teria progredido como deveria durante os vinte anos anteriores a 1930. Com gente nova, entretanto, isto poderia ocorrer.

Era Sud quem escrevia os discursos de Miguel Costa – não sei se todos, mas pelo menos muitos deles. Eles se davam bem e assim foi até a saída de Miguel – quando isto ocorreu, em maio de 1932, Sud deixou o cargo que ocupava, de Diretor-Geral do Ensino, hoje o equivalente ao Secretário Estadual de Educação. Como Miguel, Sud não tomou parte na revolução – e foi perseguido por isto. Já Miguel foi preso e depois libertado, tendo sido cassado por Vargas em 1935. Morreu durante um programa de televisão, em 1959.

Conheci um de seus filhos, Miguel Costa Junior, em 1997, em Carapicuíba, cidade da Grande São Paulo, onde ele morava. Ele me disse que conheceu meu avô em 1936, na única vez que o viu, e trocaram conversa. Júnior era jornalista e foi ele quem conseguiu convencer a Fepasa a alterar o nome da estação do Quilômetro 21 para General Miguel Costa, em 1987. Hoje estação da CPTM, ela fica em Osasco, na divisa com Carapicuíba e tem parte dela debaixo do viaduto do Rodoanel. Explicou-me também por que seu pai foi homenageado ali: ele visitava o local constantemente no início dos anos 1920 com amigos.

Como todo mundo que conhece alguém no Governo faz, Miguel, que também era Governo e politicamente mais forte do que Sud, também pedia ao Diretor-Geral da Educação que arranjasse cargos de professor ou fizesse transferências convenientes para amigos ou amigos de amigos. É a um desses casos que se refere o cartão acima mostrado em frente e verso.

3 comentários:

  1. Olá Sr. Ralph.
    Gostei do seu artigo e gostei mais ainda de saber que o Sr é neto de um amigo do Miguel Costa. Será que o Sr tem ainda os discursos preparados pelo seu avô ao Miguel Costa?
    colo um link que remete a uma breve biografia do Miguel Costa.
    http://cansadodeserexplorado.blogspot.com/2008/07/genral-miguel-costa.html
    obrigado

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  2. Yuri, acredito que tenha um deles... teria de procurar em meus arquivos. Obrigado pelo link

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  3. Ok... vou ficar aguardando. Obrigado
    yuriabyaza@gmail.com

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