segunda-feira, 23 de março de 2009

PARA QUÊ UM PLANO DIRETOR?

Neste domingo, o Estadão publicou uma reportagem que diz que doze distritos da Capital – na prática, distritos são bairros – já atingiram o “limite de verticalização”, ou seja, “em oito deles, a construção de grandes edifícios ficou praticamente inviável, por conta da necessidade de se encontrar grandes terrenos”. Enfim, não há lugar para grandes prédios nos bairros de Campo Grande, Cambuci, Jaguaré, Vila Leopoldina, Morumbi, Vila Guilherme, Liberdade e Limão. Em outros quatro, Lapa, Ipiranga, Cursino e Capão Redondo, falta ainda um pouco.

Bom, qual é o problema? A cidade precisa mesmo de mais prédios de apartamentos “grandes”? Não se pode morar em outros lugares? Quantas pessoas, realmente, se mudam para esses prédios, grande parte deles construídos nos últimos anos durante o “boom” da construção civil em todo o Brasil. E quando elas se mudam, o que fazem das residências anteriores? Se a maioria deve se mudar da Capital para a própria Capital, conseguem vender ou alugar o que ficou para trás? Para quem? A população da cidade tem crescido tanto assim?

Se há um plano diretor, vamos respeitá-lo – ele foi feito, cremos, exatamente para isso. Só que estávamos enganados. Se ele não dá mais conta, que se o mude! Ora, mas muda um plano diretor não faz muito sentido – afinal, ele existe exatamente para que não possa ser mudado, apenas para ter correções esporádicas. É lamentável, porque o que já se fala exatamente agora é exatamente em mudá-lo. Ele tem apenas 7 anos. O seu autor defende as mudanças. Diz a Prefeitura: “a ideia de verticalização costuma ter conotação negativa. Mas uma cidade compacta (???) pode ser interessante para todos, caso haja transporte público e condições viárias adequadas para que os bairros sejam adensados. Se constatarmos que há capacidade, vamos permitir o adensamento”.Vejam só. São Paulo não tem transporte público suficiente (isto é levantado praticamente diariamente nos jornais). Condições viárias, nem pensar (mesma ressalva). Portanto, a resposta para o “se constatarmos que há capacidade” é... não vão constatar.

A não ser que se queira constatar que sim na marra. O papel aceita tudo. E muitos de nós vamos aceitar qualquer coisa que nos mostrarem, mesmo que não seja verdade, ou seja, a mentira maquilada, para viver nos “paraísos”. E, pelas notícias, o plano vai mudar sim. Vamos acordar? Há menos de uma semana, escrevi aqui neste blog se “precisamos mesmo de tudo isto”. Por que não se experimenta congelar mesmo as áreas de construção, e fazer com que se reforme e se restaure o que já existe, sem aumentar área construída, mas transformando as casas e prédios que já existem mas são antigos e/ou malcuidados em locais em que as pessoas queiram viver? Assim, não adensaríamos a cidade em si, melhoraríamos o que está velho e mal conservado, não geraríamos quantidades imensas de entulho sem ter onde jogar, pois as demolições seriam muito menores do que são hoje, e não ocuparíamos os poucos terrenos vazios para impermeabilizá-los.

Bom, deverão ser palavras ao vento. Serei considerado um maluco, um sujeito que “não entende do assunto”... ficam aqui minhas palavras contra algo que considero uma aberração. Afinal, para que um Plano Diretor se quando ele cumpre o seu objetivo é imediatamente alterado para que seus objetivos não sejam atingidos, porque isso não interessa ao poder? Então, que não se perca tempo e dinheiro fazendo planos, e se largue a cidade ao Deus-dará.

Nenhum comentário:

Postar um comentário