sexta-feira, 27 de março de 2009

NAS FERROVIAS BRASILEIRAS, TUDO “VAI SER”

Recebo todos os dias um e-mail da Revista Ferroviária com um resumo das últimas notícias sobre ferrovias no Brasil. Há varias atualmente. Dez anos atrás, eram em número muito menor. Isto é bom? Depende de como analisamos as notícias. Especificamente ontem chegaram 6 notícias sobre ferrovias que vão ser construídas. Veja bem: vão ser. Vão mesmo?

Infelizmente, a maior parte das notícias sobre ferrovias que “serão” construídas dão em nada. Não sei de quem é a culpa, e nem estou dizendo que a possível construção de cada uma delas seja um erro ou não. O que estou dizendo é que desde que acompanho as estradas de ferro no Brasil, e lá se vão treze anos, não houve quase nada em termos de quilometragens de construção de novas linhas ou de recuperação de alguma linha desativada.

As notícias que recebi ontem da Revista Ferroviária falam de seis delas: linha Maracaju-Dourados-Cascavel (ou seja, continuação da atual linha da Ferroeste, no PR e MS); trecho Alto Araguaia-Rondonópolis, MT (a continuação da Ferronorte); a ferrovia Oeste-Leste, na Bahia (ligando o oeste ao litoral do Estado); um VLT em São Bernardo do Campo (para ligar o centro desta cidade à estação de Santo André da CPTM); um trem turístico na região de João Pessoa, PB; um VLT no Cariri, Ceará (ligando Juazeiro do Norte ao Crato). Pergunto: quantas delas realmente estarão em tráfego daqui a, digamos, oito anos? Se olharmos para os últimos treze anos, a resposta deveria ser: uma delas, no máximo.

As três primeiras já vêm sendo anunciadas há pelo menos dois anos. A quarta, há relativamente pouco tempo. Todas estas não têm ainda um quilômetro de linha instalado e nem devem ter durante este ano pelo menos. As duas últimas têm trilhos, vão se utilizar de linhas já existentes. No Cariri, os trens já estão prontos, mas não as paradas, que ainda nem começaram a ser construídas. As primeiras notícias sobre este VLT afirmavam que em março do ano passado o VLT já estaria correndo. Dá para acreditar?

Quais ferrovias ou projetos para linhas de trens em linhas já existentes foram anunciados nos últimos treze anos e não avançaram em termos físicos (digo aqui: instalação de via permanente) absolutamente nada até hoje: De memória, vou listar várias: Transnordestina, em seus vários trechos no CE e em PE; prolongamento da Trensurb, no RS; ligação Lapa-Engenheiro Bley, no PR; ligação Passaúna-Curitiba, para substituir o antigo ramal de Rio Branco do Sul; VLT Santos-Samaritá; reativação do VLT em Campinas; trem do Aeroporto, em São Paulo e Guarulhos; TGV entre Campinas, Rio e São Paulo; trem de passageiros Campinas-Poços de Caldas, utilizando o leito da antiga Mogiana; ligação São Francisco do Sul-Imbituba, em SC; reativação do trecho Mafra-Porto Uniao-Marcelino Ramos-Passo Fundo, em SC e RS; reativação dos ramais de Juquiá e Cajati e do de Piracicaba, em SP; reativação do ramal de Sertãozinho e de Ribeirão Preto-Itaú de Minas (antiga São Paulo-Minas); reativação da linha entre Tupã e Panorama, em SP; reativação da antiga linha Cataguases-Ponte Nova e do ramal de Ponte Nova, em MG; reativação do trecho Laranjeiras, SE, a Recife, PE. Devo ter me esquecido de algum.

O que foi construído neste mesmo tempo? Apenas um trecho da Ferronorte da divisa de São Paulo até Alto Araguaia, no MS; pequenos trechos da Norte-Sul. A Norte-Sul, por sua vez, está avançando para Goiás, as obras realmente estão andando. Fora isto, algumas construções de anéis ferroviários em algumas cidades do interior (Barretos, SP e Campo Grande. MT, entre mais alguns), e linhas de metrô em São Paulo – a linha 4 vai avançando, embora esteja atrasada em relação ao cronograma original. Alguns trens turísticos foram realmente implantados, mas são trechos curtos. A ABPF conseguiu trechos em Minas Gerais, Jaguariúna, SP e Piratuba, SC, enquanto o Serra Verde faz um trem de Castro a Cascavel.

As obras não avançam, nem começam, na maioria dos casos: as causas são a burocracia, as promessas, os pedidos, as mudanças, a falta de dinheiro, a falta de vontade. Nos jornais, diz-se que as ferrovias são a solução para o País, mas na prática nada evolui. Por quê? Por que as notícias são sempre do que “vai acontecer” e nunca do que “foi inaugurado”? É tempo demais para a tomada de decisões. No passado, houve ferrovias que, quando foram finalmente abertas ao tráfego, já estavam ultrapassadas tanto em relação aos objetivos de suas construções, como da tecnologia em que foram construídas. Já eram obsoletas antes de ser abertas. Houve até ferrovias que foram construídas e usadas por um mês, um ano, quatro anos e só. Por mais que haja gente que tente explicar, não há explicação. E eu gosto de ferrovias. Imagine se não gostasse.

3 comentários:

  1. Oi.

    estou fazendo um trabalho da faculdade sobre alguns trechos ferroviários,para saber quais ainda são usados (carga ou turismo),como esta a infra-estrutura, consegui muita coisa em seu blog...mas tem dois trechos que não estou conseguindo encontrar, se possível gostaria de ter sua ajuda. Os trechos são Itatiaia/Volta Redonda e o outro Campinas/Poços de Caldas.
    Att.
    Tuana

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  2. Não consegue encontrar no blog ou no site? No site: http://www.estacoesferroviarias.com.br/p/pcaldas.htm e http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_rj_ramalsp/efcb_spaulo.htm

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  3. Outra coisa: cmo v. deve saber, há poucos trens turisticos e menos ainda de passageiros regular. Nos dois trechos que v. mencionou nenhum deles existe.

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