Um artigo de Pedro Queiroz Leite publicado no jornal FOLHA DE SÃO PAULO no dia 27 de março, “Entre a salvação e a ruína”, denuncia pela enésima vez que há descaso na conservação de imóveis no Brasil. Depois de citar o mau estado em que estão diversas igrejas na cidade mineira de Mariana (conhecida mundialmente), afirma: “se isso foi possível na turística capital de Minas Gerais, com suas imponentes igrejas da Sé, de São Francisco, de São Pedro dos Clérigos e de Nossa Senhora do Carmo – cujo interior, riquíssimo, foi praticamente devorado pelo fogo, em 1999 –, imagine o que poderia ocorrer em distritos afastados da sede do município. Pois já não é preciso mais imaginar: já está acontecendo, em Santa Rita Durães, distante pouco mais de 20 km de Mariana (...) (onde) dois preciosos templos estão se desfazendo ante os olhos da população (...)”.
Santa Rita Durães é um dos inúmeros “lugares esquecidos” do Brasil. Coloco as aspas na expressão, porque eu a uso como título de um sub-site, ou seja, um site dentro de meu site Estações Ferroviárias do Brasil, que mostra diversos locais no Estado de São Paulo que foram esquecidos por todos – prefeitura, administrações regionais e até pela população –, mas que ainda existem, muitos deles com construções (igrejas, casarões, casas, armazéns, escolas e outros) que um dia foram magníficas e que hoje, mesmo malcuidadas, envolvidas por plantas ou em ruínas, ainda impressionam por sua beleza e principalmente pelas memórias que despertam mesmo em pessoas que jamais estiveram no local antes.
Antes que me esqueça, aliás, as quatro fotos acima não são desse local. São apenas exemplos de locais que estão na mesma situação de abandono em outros pontos do Brasil. De cima para baixo: casarão no bairro afastado de Cardoso de Almeida (foto de Paulo Leuzzi em 2005), no município de Paraguaçu Paulista e abandonado desde a revolução de 1924, quando os revoltosos fugitivos de São Paulo, invadiram-no e depredaram-no; casas abandonadas e tomadas pelas plantas de colônia de fazenda em São Bento, bairro rural de Araras, SP (foto minha, 1998); casa entre Nova Paulicéia e Gavião Peixoto, SP (foto Ana Maria Giesbrecht, 2003); ruínas do convento de Ventaneio, no município de São Francisco do Conde, BA (foto minha, 2006).
Existe vida nesses lugares, todos abandonados. Não há ninguém neles, mas dizem que pessoas e locais não morrem enquanto todas ou pelo menos algumas lembranças sobre elas continuarem vivas na memória de quem as conheceu.
Os lugares são tantos neste país afora, que o meu site – que até agora somente tem alguns poucos lugares no Estado de São Paulo – teria de ser atualizado com uma nova colocação de locais por dia durante pelo menos cinco anos, uma estimativa que pode ser até tímida. Visitei inúmeros desses lugares, e sei que não conheço nem um por cento deles. De diversos, vi em revistas ou jornais, ou recebi informações de amigos. Já deu para perceber que não sou um turista típico – sou um turista de lugares esquecidos, onde, para chegar, é preciso às vezes rodar muito, perder-se e atolar o carro, principalmente porque nas cidades onde esses locais existem, pouquíssima gente sabe como chegar a eles. E não conte com informações de moradores das proximidades. Eles quase não existem e quando você os encontra, nem sempre eles sabem lhe indicar onde é, pois muitas vezes “nunca ouviram falar”.
Esse abandono e esquecimento vêm do fato de que, em 1930, 70% do País morava em áreas rurais (e uma porcentagem bem maior antes disso), enquanto hoje o número está abaixo de 20%. Todos migram, e continuam a migrar para as cidades, preferindo viver em favelas, mas estando perto da riqueza, do que a viver uma vida pobre mas digna nos lugares esquecidos. De quem é a culpa do êxodo rural (fenômeno mundial, mas que afeta, mesmo, o terceiro mundo, onde, queiram ou não, está grande parte do Brasil)? Da atração pela cidade e seus empregos. O que causa a atração pela cidade grande, que a esmaga hoje por causa de uma infra-estrutura que não atende a todos? Bom, entre muitas outras coisas aventadas, a falta de uma educação escolar voltada para a área em que se vive. Em qualquer escola do Brasil, esteja em área urbana ou rural, no interior do Mato Grosso ou na cidade de São Paulo, o programa é o mesmo: mostra as maravilhas da cidade.
Quem quiser ler algo mais sobre isto deve ler o livro “A Crise Brasileira de Educação”, de Sud Mennucci (1892-1948 – meu avô), um livro que, em grande parte, é surpreendentemente atual, mas que foi escrito em 1930. Onde encontrá-lo? Aqui: http://www.scribd.com/doc/3463161/A-Crise-Brasileira-de-Educacao-Sud-Mennucci.
Santa Rita Durães é um dos inúmeros “lugares esquecidos” do Brasil. Coloco as aspas na expressão, porque eu a uso como título de um sub-site, ou seja, um site dentro de meu site Estações Ferroviárias do Brasil, que mostra diversos locais no Estado de São Paulo que foram esquecidos por todos – prefeitura, administrações regionais e até pela população –, mas que ainda existem, muitos deles com construções (igrejas, casarões, casas, armazéns, escolas e outros) que um dia foram magníficas e que hoje, mesmo malcuidadas, envolvidas por plantas ou em ruínas, ainda impressionam por sua beleza e principalmente pelas memórias que despertam mesmo em pessoas que jamais estiveram no local antes.
Antes que me esqueça, aliás, as quatro fotos acima não são desse local. São apenas exemplos de locais que estão na mesma situação de abandono em outros pontos do Brasil. De cima para baixo: casarão no bairro afastado de Cardoso de Almeida (foto de Paulo Leuzzi em 2005), no município de Paraguaçu Paulista e abandonado desde a revolução de 1924, quando os revoltosos fugitivos de São Paulo, invadiram-no e depredaram-no; casas abandonadas e tomadas pelas plantas de colônia de fazenda em São Bento, bairro rural de Araras, SP (foto minha, 1998); casa entre Nova Paulicéia e Gavião Peixoto, SP (foto Ana Maria Giesbrecht, 2003); ruínas do convento de Ventaneio, no município de São Francisco do Conde, BA (foto minha, 2006).
Existe vida nesses lugares, todos abandonados. Não há ninguém neles, mas dizem que pessoas e locais não morrem enquanto todas ou pelo menos algumas lembranças sobre elas continuarem vivas na memória de quem as conheceu.
Os lugares são tantos neste país afora, que o meu site – que até agora somente tem alguns poucos lugares no Estado de São Paulo – teria de ser atualizado com uma nova colocação de locais por dia durante pelo menos cinco anos, uma estimativa que pode ser até tímida. Visitei inúmeros desses lugares, e sei que não conheço nem um por cento deles. De diversos, vi em revistas ou jornais, ou recebi informações de amigos. Já deu para perceber que não sou um turista típico – sou um turista de lugares esquecidos, onde, para chegar, é preciso às vezes rodar muito, perder-se e atolar o carro, principalmente porque nas cidades onde esses locais existem, pouquíssima gente sabe como chegar a eles. E não conte com informações de moradores das proximidades. Eles quase não existem e quando você os encontra, nem sempre eles sabem lhe indicar onde é, pois muitas vezes “nunca ouviram falar”.
Esse abandono e esquecimento vêm do fato de que, em 1930, 70% do País morava em áreas rurais (e uma porcentagem bem maior antes disso), enquanto hoje o número está abaixo de 20%. Todos migram, e continuam a migrar para as cidades, preferindo viver em favelas, mas estando perto da riqueza, do que a viver uma vida pobre mas digna nos lugares esquecidos. De quem é a culpa do êxodo rural (fenômeno mundial, mas que afeta, mesmo, o terceiro mundo, onde, queiram ou não, está grande parte do Brasil)? Da atração pela cidade e seus empregos. O que causa a atração pela cidade grande, que a esmaga hoje por causa de uma infra-estrutura que não atende a todos? Bom, entre muitas outras coisas aventadas, a falta de uma educação escolar voltada para a área em que se vive. Em qualquer escola do Brasil, esteja em área urbana ou rural, no interior do Mato Grosso ou na cidade de São Paulo, o programa é o mesmo: mostra as maravilhas da cidade.
Quem quiser ler algo mais sobre isto deve ler o livro “A Crise Brasileira de Educação”, de Sud Mennucci (1892-1948 – meu avô), um livro que, em grande parte, é surpreendentemente atual, mas que foi escrito em 1930. Onde encontrá-lo? Aqui: http://www.scribd.com/doc/3463161/A-Crise-Brasileira-de-Educacao-Sud-Mennucci.
Prezado Sr Ralph Mennucci Giesbrecht;
ResponderExcluirDesculpe-me por usar este espaço para comunicar-me.
Em pesquisas na internet tomei conhecimento do seu site http://www.estacoesferroviarias.com.br/. Quero parabenizá-lo pelo maravilhoso documento histórico disponibilizado, trabalho que só pode ter sua qualidade reconhecida por quem aprendeu o valor da memória de um povo.
Estou desenvolvendo algumas pesquisas sobre a malha de transportes ferroviarios de cargas que interliga o sudeste do pais ao nordeste e tenho encontrado dificuldades quanto às linhas ferreas ainda em atividade. Assim gostaria que se possível disponibilizasse informações adcionais a respeito, ou mesmo alguma instituição ou site na internet onde possa obter estas informações.
Desde já agradecido;
Juray de Castro
Juca - a interligação entre linhas do sul e do norte do país é feita desde 1950 somente por uma linha, que passa por Monte Azul, no norte de MG e se liga ali com a antiga VFFLB baiana, seguindo para Salvador, dali para Alagoinhas, Sergipe, Alagoas, Pernambuco etc. A linha é obsoleta e passa por pelo menos uma serra muito difícil no sul da Bahia.
ResponderExcluir