quarta-feira, 13 de junho de 2012

O TELEFONE FANTASMA


Eu e a Ana Maria compramos um terreno em Alphaville em 1979, no município de Santana de Parnaíba. Um ano depois, eu deixei a Shell e fui trabalhar na DuPont, que, na época, estava no início da rua da Consolação, em frente à Biblioteca Nacional.

Na época que eu entrei lá, nós já havíamos decidido construir uma casa no terreno. É a casa em que moramos até hoje. Entrar na DuPont foi coincidência: eu não sabia que eles também estavam construindo no mesmo bairro - só que no lado de Barueri.

Em julho de 1981, mudamos de escritório. Saímos do centro de São Paulo para trabalhar no isolado mundo de Alphaville, Barueri. Agora, eu, que já estava construindo desde o início do ano, poderia facilmente ir todos os dias à obra. Eu, nessa época, estava morando no bairro do Sumaré. Trânsito nas Marginais e na Castelo Branco? Nem pensar, nunca era problema nessa época. Para ir do escritório à obra, então, eram cinco minutos.

Eu havia comprado um telefone pelo plano de expansão da Telesp no final do ano anterior. Perspectiva de instalação? Sem informações. Garantiam apenas que em dois anos seria instalado. Porém, Santana de Parnaíba, na época, não tinha telefone de sete algarismos e muito menos DDD.

Em agosto, eu precisei verificar um probleminha da obra na prefeitura de Parnaíba. Porém, ir até lá pela Estrada dos Romeiros demorava cerca de meia hora a partir do escritório da DuPont. A estrada atual que liga Alphaville a Parnaíba era praticamente inexistente. Pedi para a telefonista da empresa que ligasse para lá, ao que ela me respondeu: "Parnaíba? É na Bahia, não é"? Respondi-lhe: "olhe pela janela para aquelas montanhas no fundo. Do outro lado é Parnaíba". Surpresa, ela me perguntou por que o eu não ligava pelo DDD? "É tudo 011, não é?" Respondi-lhe que não havia o sistema lá. "Passe o telefone", disse ela. Eu falei: "256". Ela disse: "e o resto?" Finalizei: "acabou". Incrédula, ela tentou a ligação. Cinco minutos depois, disse-me que a conexão demoraria meia hora e ela me chamaria.

Desisti. Peguei o carro e fui até a prefeitura. Afinal, não havia o trânsito de hoje. Resolvi o problema e voltei, uma hora e pouco depois.

Em setembro, a Telesp apareceu no terreno e instalou o telefone no barraco de obras. No residencial, deveria haver naquele momento cerca de nove obras apenas; nenhuma casa pronta ainda. Eles disseram que o telefone deveria funcionar apenas quando a central telefônica da cidade ficasse pronta, o que deveria ocorrer em novembro e levaria meu telefone e os da cidade a passar a utilizar da nova estação 424. Na semana seguinte, eu resolvi tentar telefonar do Sumaré para a obra, usando o telefone que eu já sabia qual era: 424-1261. Surpreendentemente, um dos pedreiros atendeu. Funcionava!

A conta não veio quando esperada. A cidade de Parnaíba continuava com seus telefones de três algarismos, mas o meu telefone funcionava. Liguei para a Telesp para perguntar quando viria a conta, ao que eles responderam que tal somente ocorreria quando o telefone funcionasse. Eu falei: "já funciona, estou falando dele". Responderam que isso não era possível e que eu deveria estar enganado. Deixei para lá. A primeira conta somente veio um mês depois da abertura da estação no final do ano. A cidade ganhava um telefone decente, mais de dez anos depois da implantação do DDD no estado.

3 comentários:

  1. Essas histórias da telefonia "antigamente" (nem faz tanto tempo assim) parecem coisa de outro planeta! Fora o preço que custava uma linha, né?

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    1. O Alphaville chegou a ter o telefone mais caro do Brasil: Por volta de 1990, uma linha no mercado paralelo custava 10 mil DOLARES!

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  2. Em 1976 ainda reinava em São Carlos a TCP - Telefônica Central Paulista, empresa privada. Os telefones só tinham quatro dígitos - lembro-me o do meu avô até hoje, 4372, instalado em 1966, ocasião em que houve uma grande expansão do sistema na cidade. Por causa da empresa particular, até o final da década de 1970 não havia DDD em São Carlos, para gáudio da vizinha rival, Araraquara, onde o sistema já era da Telesp e o DDD funcionava à toda. Para poder providenciar uma ligação com a Capital, a TCP tinha de ligar primeiro para Araraquara e de lá é que era feita a ligação para SP. Em 1976 essa ligação podia demorar até uma hora para ocorrer; poucos anos mais tarde o intervalo passou a ser mínimo, a telefonista auxiliar fazia a ligação na hora para o usuário. Mas os são-carlenses eram felizes e não sabiam: a taxa mensal cobrada pela TCP era fixa, independentemente do número ou duração das chamadas locais. No final dos anos 1970 a Telesp encampou a TCP e, alguns meses depois, o DDD foi implantado - mas junto com a então inédita cobrança dos "pulsos" - ou seja, tanto o número como a duração da chamada passaram a ser cobradas. Mesmo a Telesp, até então, só cobrava por ligação; São Carlos, por ter recebido equipamento novo no final da década de 1970, praticamente inaugurou a cobrança também por duração das ligações que, naquela época, ainda não era feita, por exemplo, na capital do estado. O são-carlense sofreu no bolso mas, pelo menos, não tinha mais complexo de inferioridade em relação à cidade vizinha...

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