segunda-feira, 30 de abril de 2012

FERROVIAS NO NORDESTE: O QUE ESTÁ ACONTECENDO POR LÁ?

Estação ferroviária de São Pedro, na abandonadíssima linha Mossoró-Souza, trecho paraibano: no meio do sertão, tudo abandonado - linha, pátio e estação. Trens não trafegam por ali há mais de quinze anos.

Nós, admiradores e palpiteiros sobre ferrovias, ficamos aqui discutindo diversos aspectos do (mau) desempenho das estradas de ferro no Brasil, mas recebemos pouquíssimas notícias sobre o que acontece com elas no Nordeste... vamos dizer, do rio Doce para cima.

O que sabemos, embora sem grandes detalhes, é que a Transnordestina está sendo construída a passo de tartaruga e a fiscalização das obras parece ser quase inexistente. Então, uma linha que já deveria estar pronta há pelo menos dois anos, pelo menos o trecho que liga a antiga Linha do Sul da extinta RVC do Ceará, em Missão Velha, ao porto de Suape no Recife, continua sendo construída quando Deus quer. E como não é sempre que Deus quer...

Também no sul do Ceará, o Estado aproveitou uma linha sem uso convenceu um empresário a montar uma fábrica de VLTs lá perto, em Barbalha, e está rodando o primeiro trecho de VLT - para quem ainda não sabe, Veículo Leve sobre Trilhos, uma espécie de bonde moderno - no Brasil desde 2009 (Ah, sim, o primeiro trecho desde que desativaram os únicos que existiram na terrinha, o do Rio e o de Campinas).

Em Sobral, o governo está querendo fazer a mesma coisa, mas está tropeçando nas exigências ambientais e dos seus adversários políticos. Já o de Maceió está em testes. Há outros planos, mas ainda nada muito concreto.

Há quase dois anos, um "tsunami fluvial" levou a linha que ligava o sul de Pernambuco a Sergipe e a concessionária, que já não usava a linha, mas estava reformando pois foi obrigada a tal, está fazendo vistas grossas para a sua obrigação (mas, cá entre nós, se ninguém usa, reformar para que? Seria bom convencer alguém para usá-la...).

Na Bahia, há alguns meses, o pessoal que mora em Mapele, localidade no Recôncavo onde a pobreza impera e as estradas são péssimas, fez uma manifestação nas ruas para a volta do trem metropolitano, que já passou por ali nos anos 1980, levando gente até Candeias por um lado e até Simões Filho por outro (sim, Mapele era um entroncamento), sempre lembrando que o polo petroquímico de Camaçari tem uma linha que o liga ao porto e que passa por Mapele... e que nesse polo trabalha gente pra burro.

Do outro lado, surpreendi-me que de vez em quando rodam alguns trens na região entre Camaçari e Alagoinhas, fazendo trechos curtos "catando" pessoal das cidades em trens turísticos patrocinados pela FCA (pela Petrobrás também? Afinal, quem sustenta aquela região é ela, com alguns poços pioneiros no Brasil). Mas é sempre a mesma coisa: se patrocinam trens turísticos (meio inúteis, só servindo para dar "pão e circo" ao povo), por que não se aliam às prefeituras da região e voltam com os trens de passageiros?

Só para não dizer que basta, as ferrovias estão abandonadas no Rio Grande do Norte e no Piauí, bem como na Paraíba - que perderá o ramal de Campina Grande e Patos assim que (e se) entregarem a Transnordestina para operar. Já perdeu a linha que a cruza de norte a sul entre o RN e PE e também a que ligava Souzas a Mossoró, no RN.

E não nos esqueçamos da ferrovia Oeste-Leste, que deve um dia cortar o sul da Bahia ligando Goiás a Ilhéus. Esta parece estar fadada a ser mais uma das lorotas ferroviárias no meio de tantas que já se contaram no Brasil.

Brasil, um país que necessita urgentemente de ferrovias, mas não tem governantes capazes de construi-las, nem fiscalizá-las e muito menos operá-las.

8 comentários:

  1. A Transnordestina está até num ritmo bom de construção, mas as obras já foram bem mais rápidas; já há alguns trechos prontos, perdidos no Sertão.

    As obras da Leste-Oeste, Ralph, já começaram e estão até rápidas. O primeiro trecho ligará Ilhéus a Caetité, no sertão baiano.

    Segundo a CBTU, saiu a grana para implantar o VLT em João Pessoa, substituindo o velho trem que ainda roda nos serviços suburbanos. O de Recife (o chamado Trem Diesel da MetroRec) está em fase de testes entre Cabo e Cajueiro Seco (Recife).

    Sobral já retomou as obras do seu VLT, tanto que a primeira composição já chegou à cidade. Fala-se também em usar VLT's Bom Sinal em Arapiraca e Campina Grande.

    A antiga linha da Leste Brasileiro para Minas Gerais continua em operação total, inclusive com expresso de containers Belo Horizonte-região de Salvador. Já há planos de levar os trens cargueiros de volta a Salvador, com a reconstrução do trecho Paripe-Mapele.

    O resto, Ralph, está como você falou bem: abandonado. A única linha de carga que a CFN/Transnordestina está operando é a Fortaleza-Teresina, além de um trem de combustíveis entre São Luís e Teresina (onde ainda roda o Metro de Teresina). O resto está abandonadíssimo...

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    1. É, não coloquei os suburbios das capitais nordestinas pois eles já são manjados, mas esqueci-me de alguns projetos de VLT. De todos os que v. citou, somente não tinha notícia do de Campina Grande. Obrigado pelas notícias, tão raras por aqui pelo Sul...

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  2. Tem também o Metro de Salvador e os trens urbanos da mesma cidade.Estes últimos são elétricos de bitola métrica.

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    1. Como já respondi, não falei sobre os trens metropolitanos por já serem manjados. Todos são da métrica (menos o metrô de Recife). Claro, tem o trem de Salvador-Paripe, o metrô de lá e de Fortaleza (Se vierem a funcionar um dia), o trem de Teresina com os húngaros, o de Fortaleza, o de Matal, o de Maceió, o de João Pessoa. Tem o VLT de Fortaleza também.

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    2. Aliás, os trens urbanos de Salvador estão em situação precária demais; tá pior que na época da CBTU (hoje, o sistema é da prefeitura local).

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  3. Entendi direito? Então quer dizer que se um dia a Transnordestina finalemtne for concluída, o ramal que corta a Paraíba, partindo do entroncamento de Arrojado CE, será suprimido? É isso mesmo?

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    1. Evidente, "João-Ninguém". Não terá mais nada a oferecer e como ninguém tem a competencia de estabelecer trens de passageiros...

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  4. Jeová Barboza de Lira Cavalcanti
    3 meses atrás
    Pena é que algumas concessionárias, como a TRANSNORDESTINA LOGÍSTICA S.A., que acampou toda a malha ferroviária do Nordeste, mediante contrato de concessão firmado em 30/12/1997, comprometeu-se a remodelar todo o sistema existente, no total 4.328 km, eliminar os gargalos e construir novos ramais e tornar-se exemplo em logística do transporte ferroviário de carga (excluído aí o de passageiros). Acontece que que quando o Governo Lula em 2004 acenou com um projeto que previa a construção de 800 km de novos ramais ferroviários, mais e remodelação de 1.200 km do modelo antigo com o objetivo de atingir os portos de Pecém no Ceará e Suape em Pernambuco, com um segmento até Eliseu Martins no Piauí, com um custo previsto de 4,5 bilhões de reais; o que alegaram os dirigentes dessa empresa e as autoridades governamentais engoliram: "QUE REMODELAR O VELHO NÃO ERA VIÁVEL E BOM SERIA FAZER TUDO NOVO". Então lá se vai o estudo e elaboração de um novo projeto para a construção da nova TRANSANORDESTINA, implicando em desapropriações, problemas de meio ambiente e outros impasses, mas resolvida questão, inicia-se em 2006 a construção da ferrovia, monta-se em Salgueiro a maior fábrica de dormentes do mundo e o dinheiro do PAC vai sendo gasto, algum tempo depois começam os percalços e a transnordestina já consumiu cerca de 6,3 bilhões e encontra-se totalmente paralisada e sob suspeita do TCU, o que equivale a dizer que o que foi até agora construído não leva nada a lugar nenhum. Daí vem minha pergunta: se o governo tem sido firme e feito finca-pé para que o projeto apresentado em 2004 fosse realizado, será que hoje os trens não estariam deslizando pelos trilhos do progresso, conduzindo as riquezas produzidas no Nordeste? Atualmente, nem se concluiu o grande projeto e a malha antiga está completamente abandonada. De quem é a culpa? Os senhores do poder que respondam!!!

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