sexta-feira, 27 de abril de 2012

CAFAJESTADA


O sexo no Brasil de 1915 é revelado numa carta de um amigo de meu avô. Hoje em dia, com "mulher pelada" e sacanagem a céu aberto em qualquer banca de jornais da cidade e, nos últimos dez-quinze anos com sites pronográficos a rodo na Internet (sim, aquela mesma que seu filho de três anos sabe acessar quando v. larga o computador e esquece que ele sabe mexer naquilo), para que se preocupar com a cozinheira quando mulheres bonitas e feias de qualquer idade se mostram, profissional ou amadorísticamente, em fotografias que rodam o mundo inteiro?

Nesses tempos de cem anos atrás, quando nem Carlos Zéfiro existia, nunca era sequer imaginado que no facebook da época (o "correio elegante" das revistas semanais, quinzenais e mensais) alguém escrevesse um palavrão ou qualquer termo chulo como os que eu leio hoje inadvertidamente quando fuço na rede social. Eu, com meus sessenta anos, jamais fui um caretão, mas o que vejo hoje me deixa envergonhado até quando estou sem ninguém ao lado.

Em 1915, as conversas e relatos de façanhas eram escritas em cartas particulares para pessoas que você sabia que não iam mostrar para ninguém. Suponho que meu avô jamais as mostrou naquela época, mas guardou-as, de forma que caíram em minhas mãos oitenta anos mais tarde. Afinal de contas, quem escreveu e quem recebeu esta carta já havia morrido em 1995. E nem assim eu digo quem foi o escritor da carta... só o receptor.

Enfim, o texto é interessante e confessor:

"(...) o interessante é que, justamente na tarde de hoje, pouco após, recebo um bilhete duma minha ex-amante (tu te lembras, da caboclinha cozinheira?), pois recebi-o, que me chamava e ás (a crase era assim mesmo, naquela época) onze horas lá fui para o antigo retiro.

Que me queria? Nada; apenas participar-me de que sou o pae de um feto de seis a sete mezes que lhe "em fina o ventre". Não pude deixar de lhe rir na cara, o que lhe provocou uma scena misero-pathetica.

Fiquei para averiguar mais de perto. Era "exacto": apalpei-lhe o ventre onde se remechia a victima do meu "crime maior do que o assassinato", coitei com a cumplice e deixei-lhe o que ela desejava: 20$000... (...)". (Traduzindo: vinte mil réis)

Coisa meio de cafajeste, certo? Mas, sim, os anos 1915 não eram nada puros quanto aparentam hoje.

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