Segundo a foto do jornal, esta seria a frente do terreno ameaçado
Eu mal conheço Bertioga, no litoral de São Paulo. Estive lá quando criança, lembro-me vagamente da saída da balsa que era mais ou menos no que era a cidade praticamente inteira. Anos 1960. Depois, cresceu, claro, mas não tanto assim, Depois que foi aberta a ligação por terra com Santos e Guarujá - antes havia de se atravessar por balsa, ou vir pela praia, apanhando muito, desde São Sebastião, descendo a serra antes vindo de São José dos Campos - e a Mogi-Bertioga, lá por 1982, aí sim houve condições para crescimento.
Em 1991 virou município, separando-se de Santos. Aí, a filosofia é sempre crecer, crescer, crescer. Mas a quem interessa crescer? A população ganha o que com isso? Bom, em princípio, ela passa a se suprir na própria cidade em vez de ter de viajar para Santos ou Guarujá - estou falando no caso de Bertioga. Depois, se o dinheiro começa a entrar por arrecadação, seja qual for o motivo, as ruas são asfaltadas, o esgoto chega, o suprimento de água melhora, a eletricidade e a telefonia crescem... mas o dinheiro tem de vir de algum lugar. Em muito municípios que são criados, o dinheiro vem de fundos federais para sustentar uma cidade que não tem indústria, a agricultura é fraca, o comércio também, o turismo não existe...
Em Bertioga sempre existiu turismo, ainda que raquítico até os anos 1980. Afinal, o acesso às praias era somente para aventureiros. Depois, veio a Riviera de São Lourenço, maia afstado do centro, que povoou toda uma praia de pesacadores. Aí, a cidade começou a crescer no sentido dela.
Tudo isto estou falando sobre a reportagem publicada em O Estado de São Paulo de domingo, dia primeiro de abril. Porém, por ela se vê que a população da cidade monta a quase 48 mil pessoas e que, com a possível construção de um empreendimento num dos poucos lugares ainda desertos entre a cidade velha e a Riviera, ela pode até duplicar. E isso me fez pensar: isto é bom ou é ruim?
A construção de um empreendimento desses, um conjunto de prédios que vai arrasar com 25 % de mata nativa junto à praia, mantendo teoricamente os restantes 75%, trará novos habitantes à cidade, tanto os que podem pagar pelos apartamentos, quanto os que vão tentar viver mais modestamente desse aumento de população mais aquinhoada.
Se fosse em São Paulo, a resposta para a pergunta "essa cidade precisa mesmo disso?", a meu ver, seria não, sem maiores análises. Mas em Bertioga, qual é a resposta? Em minha opinião, poderia até ser sim - ou melhor, bom, pode ser bom para Bertioga - mas isto é realmente analisado hoje pela prefeitura local?
Geralmente, prefeitos e vereadores querem que a cidade cresça para terem mais votos e mais dinheiro para dividir para investimentos de infra-estrutura, que realmente são bons para a cidade, e de outras coisas que muitas vezes somente interessam a uma quantidade limitada de investidores. Por isso, investimentos com os desses prédios não são analisados realmente a sério.
A outra pergunta é: se a cidade precisa disso, precisa ser ali onde se quer fazê-lo? As consequências para a ecologia são ruins. O local é bonito e deveria permanecer público e mantido no máximo possível como virgem. Porém, o terreno é particular - pode-se influir nisso sem prejudicar os seus donos? A mata que se manterá depois das construções dará acesso apenas para os moradores do local e não para as pessoas que hoje podem usufruir do lugar, que, aparentemente, permie a passagem de quem quiser.
Conclusão: para realmente se investir no desenvolvimento de uma cidade, há que se analisar muito mais do que a permissão para se construir num lugar vazio. Tudo deveria depender da real previsão de ganho para todos os habitantes. E isso nunca é feito. Apenas se diz que será feito.
terça-feira, 3 de abril de 2012
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Em muitos lugares, obviamente fora do brasil, no Velho Mundo, existem filosofias de restricao do crescimento das cidades, apesar das pressoes do mercado imobiliario e de todo o potencial de lucro dos empreendimentos. A consequencia eh a transformacao e densificacao das cidades, substituindo casario antigo por edificios um pouco maiores, nao exageradamente altos, pois normalmente existe um controle do gabarito maximo dos edificios, nao eh como esse frenezi adotado em sao paulo, onde basta pagar uma quantia que voce pode construir torres altissimas. A logica nesse caso eh criar e manter uma cidade boa de se viver e bonita tambem.
ResponderExcluirCada caso eh um caso. Acho que cidades pequenas em regioes ricas em mata e recursos naturais poderiam ate passar por alguma densificacao. isso sempre reduz as distancias e a necessidade de transporte, fora custos de infra estrutura. No caso de sao paulo, a cidade tem que parar de crescer mesmo e a densificacao numa cidade deste tamanho so eh benefica se ocorrer perto de seus principais centros, senao eh certa a sobrecarga no sistema de transporte.
Mas no brasil, realmente procede a logica que revela neste post, o crescimento eh feito pensando apenas em repercussoes politicas. Isso eh uma pena e uma maldicao, afinal, perpetua esse modelo de crescimento que soh faz criar cidades horriveis de se viver.