Rio Negro, 2006 (Ralph M. Giesbrecht)
Oito anos atrás. Eu estava em Campo do Tenente, município pequeno no sul do Paraná e li no jornal da região que o Prefeito era questionado porque queria fazer um pavilhão de exposições na cidade. E a pergunta era: "para que? Campo do Tenente não tem nada para expor! Nem a vizinha Rio Negro, cidade bem maior tem e olhe que eles têm um número razoável de indústrias!"
Araraquara: em frente ao Hotel Uirapuru, o terminal de ônibus que não deu certo (Ralph Giesbrecht)
Poucos dias depois, em Araraquara, estava num bar e ouvi o garçon dizendo que “se depender de mim, o Prefeito não será reeleito, Não depois dos absurdos que ele fez no terminal de ônibus lá no centro”. E explicou o que acontecia. A mudança ocorrera havia um ano e, apesar dos usuários se queixarem desde então, nada foi alterado.
Estação de Jacareí e os trilhos que não existem mais, em 2002 (Adriano Martins)
Logo depois, o Prefeito de Jacareí retirou os trilhos centenários da antiga Central do Brasil que cruzavam a cidade. Fez festa com a população, mas também é sabido que, para o povo de lá, tanto fazia haver trilhos ali. Isto porque não passava lá um trem sequer já havia nove anos. Jacareí é uma cidade que não tem trânsito que justifique a construção de uma nova avenida – essa era a intenção da Prefeitura – e, portanto, nada se alteraria. Questionava-se o fato de se gastar muito dinheiro para se arrancar trilhos, dormentes, pedras e se construir a avenida, que nunca teria um trânsito que justificasse sua existência, a não ser que a cidade viesse a ter um boom de desenvolvimento. O pior é que a Prefeitura desrespeitara uma ordem do Ministério Público que impedia a remoção. E, pior ainda, a linha estava nos planos para ser utilizada como linha turística numa linha que ligaria Mogi das Cruzes a Jacareí ou ainda, a São José dos Campos.
De lá até hoje a situação não se alterou. Claramente, os governantes nesses casos não ouviram a população onde elas deviam ser ouvidas. Enquanto não formos um País sério, com governantes que realmente ouçam o que o povo deseja – claro, dentro do exeqüível, como foram os casos relatados acima – vai ser difícil de se ter um local digno para se viver. Pavilhões de exposições não trazem progresso. Modificações em terminais podem ou não melhorar as coisas. Se não melhoram, que se volte ao que era. Trilhos no meio da cidade não trazem o progresso, mas também não o evitam: ao contrário, eles são a imagem de um passado em que o progresso existiu por causa deles, onde eles são história viva.
sábado, 11 de dezembro de 2010
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