terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UM FILME PARA O IMPERADOR DO BRASIL


Hoje vi por acaso na Internet a indicação de um Oscar para um filme de nome "O Discurso do Rei". Seria um filme sobre um rei, mesmo? Gosto dessas coisas. Fui conferir. O desinformado aqui nunca tinha, pelo visto, ouvido falar do tal filme. Mas li a sinopse e gostei. O rei Jorge VI, pai da rainha Elisabeth II, é o astro principal, representado pelo simpático Colin Firth. Certamente vou assistir ao filme, que, segundo o que li, entra em cartaz no Brasil no final de janeiro - se bem que, para alguém que não tem paciência para ir a cinemas, vou assisti-lo mesmo quando chegar aos DVDs nas "boas locadoras do ramo".

Não é, evidentemente, o primeiro filme sobre um ou uma monarca. Diversos já estiveram na tela, principalmente os ingleses. Vejam o caso de Henrique VIII no seriado The Tudors, já em sua quarta temporada com suas seis esposas e guerras imbecis. Esta última temporada, aliás, termina exatamente hoje aqui na terrinha, com a morte do rei e sua sucessão por seu filho Eduardo VI.

Houve muitos monarcas na Europa e apenas quatro aqui na América: dois no México, cujos reinados não duraram mais do que seis anos juntos, e dois aqui em Terra Brasilis. Dois imperadores, na verdade: Pedro I e Pedro II. Fora, claro, Dom João VI e sua mãe Maria I, reis de Porugal que reinaram também por aqui entre 1808 e 1820.

Pedro I já teve seu filme em 1972: por mais que se critique a atuação de Tarcisio Meira, feita na época da ditadura militar etc., foi uma tentativa de se retratar o monarca e sua importância indiscutível para a própria existência do Brasil, com todos os defeitos que ele certamente teve.

Já seu filho Pedro II, pelo menos que eu tenha conhecimento, jamais teve o seu. Para mim, um verdadeiro absurdo. Sua vida num filme benfeito certamente seria muito bom de se ver. Poderia até ser feito por americanos, mestres em fazer filmes de época - apesar de seus inúmeros e absurdos erros anteriores, especialmente em filmes sobre outros países. Em termos de filmagem, no entanto, são bons demais. Basta juntar a isso um diretor e produtor realmente interessados em não retratar um Brasil com erros, principalmente quando montam cenários iguais aos do México num filme que deveria se passar aqui.

Se o filme for sério, então, melhor ainda - não com aquela mania dos brasileiros de caçoar das coisas que não necessariamente são merecedoras disto. Já vi muitos exemplos de filmes que denigrem nossos costumes de forma mentirosa e irreal. Pedro II tem uma biografia muito interessante: sua cultura, seu interesse pela cultura, suas viagens pelo planeta numa época em que tudo era difícil e demorado, seu drama com duas mortes prematuras de dois filhos herdeiros - os dois Afonsos, sua conversa com Graham Bell na feira internacional dos Estados Unidos em 1876, sua deposição e seu governo, sem contar sua atuação na Guerra do Paraguai, em diversas revoluções internas, nos problemas com a libertação tardia dos escravos e sua deposição, já doente, em 1889.

Um filme que, bem trabalhado, daria com certeza um dos épicos do cinema mundial. Por que ainda não agarraram esta oportunidade, eu realmente não sei. Mostra, realmente, que temos vergonha de nosso passado... ou uma total falta de interesse por aquele que, depois de seu pai, foi o maior responsável pela unidade dos brasileiros num enorme país.

Um comentário:

  1. Não fazem não porque não querem, mas porque é conveniente.

    O Imperador é o exemplo de governante que viveu do próprio ordenado. As suas viagens não eram bancadas com dinheiro público, ele pagava do próprio bolso. E quando faltava, pegava um empréstimo com o Banco Mauá.

    Era um homem à frente de seu tempo. Culto, amante das artes e das ciências. Um dos monarcas mais respeitados e admirados de seu tempo. Mecenas de Graham Bell, Vagner entre outros.

    Existe um imaginário nacional que aponta a monarquia como uma época feliz. Uma memória que a república tentou destruir, sem sucesso.

    Celebrar a memória de Pedro II seria evidenciar a canalhice e a imcompetência de nossa classe política atual. É conveniente para muitos deixá-lo esquecido.

    Particularmente, tenho certeza que se esse país tivesse permanecido uma monarquia, teríamos um país muito melhor hoje, pois as referências eram outras.

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