Conselheiro Lafayette, VEJA, 28/10/1970
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Eu não gosto de escrever sobre locais que não conheço ou conheço muito pouco. Da cidade de Conselheiro Lafayette, em Minas Gerais, por exemplo, somente conheço o pouco que há sobre ela no meu site de estações ferroviárias, cuja página pode-se ver aqui.
A estação ferroviária de Conselheiro Lafayette já se chamou Queluz, mas a um determinado momento, teve o nome, que era o da sede do município, alterado para o atual. Nos anos 1940, o município acabou adotando o nome da estação. Ela ficava afastada do centro do município, cerca de 1 km. Hoje, tudo já se juntou e o nome de Queluz ficou mesmo com o município paulista que fica na divisa com o Estado do Rio de Janeiro.
E era na estação de Lafayette, como é mais comumente chamada hoje e que fica na antigamente chamada Linha do Centro da Central do Brasil (esta linha começava - e ainda começa - na estação Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, e segue até Monte Azul, no norte de Minas e bem próximo à divisa com a Bahia) que a linha passava de bitola larga (1,60 m) a mista, ou seja, um terceiro trilho fazia com que trens de duas bitolas (larga e métrica - 1,00 m) passassem a percorrer o trecho dali até a estação de Miguel Burnier (chamada também, por duas vezes, com outro nome, São Julião). Aí, acabava a bitola mista e dali para a frente, somente trens de bitola métrica podiam trafegar até Monte Azul.
Os trens de passageiros, no entanto, partiam de Burnier para o "sertão" e não de Lafayette.
No entanto, a linha métrica de Lafayette até a estação de General Carneiro foi completamente abandonado durante a privatização de 1996/7. Os trens de passageiros que partiam de Burnier (e mesmo de Lafayette, por algum tempo) desapareceram nos anos 1980.
O fato, entretanto, que me levou a escrever sobre o local é que em 1970 houve um fato que teria colocado a cidade em polvorosa: a Rede Ferroviária Federal, que nunca primou pela racionalidade em suas decisões, principalmente quando se tratava de eliminar trechos ferroviários "anti-econômicos", como se os chamava na época, decidiu eliminar a linha mista do pátio da estação de Lafayette até a estação de Joaquim Murtinho, mantendo somente a de bitola larga.
Na época, pela reportagem que li na revista Veja desse ano, a cidade tinha 50 mil habitantes e sua economia dependia em 50% da fábrica "de vagões e de carros ferroviários" da Santa Matilde, que era atendida por um desvio ferroviário que saía da linha métrica e ficava um pouco à frente da estação. Perderia, portanto, a fábrica, o seu desvio e seu acesso ao sul do país. O terceiro trilho e o desvio seriam retirados eno final de janeiro do ano seguinte.
Segundo a prefeitura e os empregados da fábrica, isso reduziria drasticamente os impostos pagos, a oferta de emprego cairia e a produção da fábrica era somente de carros e vagões de bitola métrica. Segundo a RFFSA, a retirada do terdeiro trilho seria para atender "às necessidades da nova sinalização automática" da linha e que a solução seria simples: transferir a fábrica para Três Rios, no estado do Rio de Janeiro.
Eu realmente não sei o que aconteceu. Todos os políticos estavam preocupados, bem como os habitantes, inclusive os que não trabalhavam na fábrica. Alguns garantiram que tal não ocorreria, pois haviam feito promessas para Nossa Senhora Aparecida. Apenas as prostitutas pareciam não se incomodar: "nós nos mudaremos para Três Rios, uai"!
Mais um exemplo de como a RFFSA pensava apenas no suposto prejuízo de suas linhs (que eram muito mal administrdas) e não em toda a economia que girava em volta dessas ferrovias, que em muitos casos era altamente lucrativa.
Enfim, se alguém souber mais sobre este rumoroso caso que ocorreu - ou que iria ocorrer e talvez não tenha acontecido - há quase quarenta e cinco anos, que se manifeste.
sábado, 2 de agosto de 2014
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