terça-feira, 5 de agosto de 2014

EM 31 DE DEZEMBRO DE 406 D.C., OS BÁRBAROS CRUZARAM O RENO E DESTRUÍRAM O IMPÉRIO ROMANO; HOJE, DESTRUÍMOS NOSSAS CIDADES

Staffs jogados em Jundiaí - foto Amilton de Arruda Sampaio
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Falar sobre conservação de construções, ferrovias, materiais em geral no Brasil é realmente falar sobre tragédias.

Enquanto o país vai se enfeiando e se tornando cada vez mais bárbaro (esta é a palavra, não? Mas no sentido dos bárbaros do Império Romano...), nossos povo, que obviamente inclui nossos governantes, nossos proprietários de bens, cada vez menos se importam com a preservação histórica dos bens brasileiros.
Um dos staffs: Campinas a Boa Vista-Velha - Foto Antonio de Arruda Sampaio
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Como já cansei de dizer, isto molda (ou não) uma nação. Sem dúvida, há problemas e motivos para isso ser relevado tanto ao Deus dará. Um dos motivos, por exemplo, é a contante demolição de residências antigas e muito bonitas que, mesmo não tão bem conservadas, às vezes até em ruínas, ainda preservam sua beleza. E o motivo destas demolições geralmente está ligado ao dinheiro.

Enquanto muitas famílias de décadas atrás podiam conservar suas belas casas, cheias de detalhes arquitetônicos internos e externos, seus filhos, netos e bisnetos muitas vezes não têm dinheiro para tanto. Uma mão de obra que era baratíssima há cem anos, hoje é cara e com qualidade inferior, bem inferior. Hoje, no lugar dessas construções, grandes ou pequenas, simples ou imponentes, constroem-se caixotes de concreto ou, pior ainda, prédios altíssimos que aumentam a densidade populacional e ensombrecem, escurecem as cidades.

Há cem, cento e cinquenta anos, pessoas de posse doavam para as comunidades igrejas e até pequenas vilas para que eles se instalassem. Hoje, raramente pessoas de posses doam imóveis para a comunidade para serem conservados. Preferem ficar mais ricos, acabando um pouquinho mais com a cidade.

A resposta sempre é: "ah, mas a construção civil gera empregos". Certo, gera. E com isso, destroem a beleza de uma cidade, destroem a própria cidade.

Nas ferrovias, tema de que gosto mais do que as casas paulistanas, paulistas, brasileiras e mundiais, a situação é pior ainda. Chama-se aqui em nosso país essas estradas de ferro de superadas, de algo do século XIX. Preferimos os poluentes ônibus e os incômodos aviões, estes com longas esperas em aeroportos e um serviço em geral pavoroso.

Não que ônibus e aviões não devam existir. Mas deveríamos poder escolher entre eles e mais o trem. Não podemos, a não ser que você more na região de Carajás ou do rio Doce, em Minas.
Material ferroviário que foi retirado dos trilhos da antiga Sorocabana em Bauru e que levavam o ramal à sua estação - Foto Divulgação/Polícia Federal de Bauru - cessão Mario Favaretto
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As ferrovias foram esquartejadas e sua família julgada infame até a quinta geração (desculpem-me pelo erro, esse foi Tiradentes, ferrovias não têm famílias...). Seu solo foi salgado e desertificado (ah, desculpem! Esta foi Cartago...).

Escrevo tudo isto, não apenas por escolher o tema jogando dados para o alto. Escrevo por que hoje recebi fotografias de um roubo de material ferroviário que em teoria pertencia ao espólio da RFFSA em Bauru, de staffs de ferrovias, artigos hoje realmente superado, mas de uma importância histórica e beleza, quando bem cuidados, pela relação que mantêm com as velhas estações e ferrovias. Eram usados especialmente nas ferrovias de linhas singelas (a grande maioria no Brasil) para autorizar a saída de trens sem que ele se encontrasse de frente com outro vindo em sentido contrário entre duas estações. (Nota: existiam outros tipos de staffs com outras formas e materiais).
Sobrados demolidos na rua Lucas Obes, bairro do Ipiranga, São Paulo, em 2013 - Foto Douglas Nascimento/São Paulo Antiga
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Finalmente, a notícia, até um tanto atrasada, da demolição de dois sobrados geminados no bairro do Ipiranga, em São Paulo, de uma beleza singela que nos faz dar vontade de reconstruí-los para lembrar aquela época, anos 1930, quando li uma postagem do site São Paulo Antiga, do meu amigo Douglas Nascimento. Já a notícia do roubo do material ferroviário veio com fotos do Mário Favaretto e a foto dos staffs esparramados num canto qualquer das antigas oficinas da saudosa Companhia Paulista vieram do Amilton de Arruda Sampaio.

Meus filhos, meu neto, não vereis país nenhum.

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