segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

OS TRENS DE PASSAGEIROS ESTARIAM MESMO VOLTANDO?


Mais uma vez é alardeado no jornal - no caso, O Estado de S. Paulo, edição de hoje - que a CPTM vai investir em trens de passageiros de longa distância. No artigo publicado hoje, fala-se em trens ligando São Paulo a Sorocaba e a Santos. Outro que vinha sendo estudado, o São Paulo-José dos Campos, está "congelado", pois o TAV fará essa função.

O mesmo artigo fala em trens entre Campinas e Ribeirão Preto e Campinas e Piracicaba. Foi publicado também artigo sobre isso em Campinas.

Coincidência ou não, recebi um artigo publicado em um blog que fala sobre projetos federais para trens de longa distância. Nesse texto fala-se sobre trens mineiros, como o de Belo Horizonte a Ouro Preto e também a Conselheiro Lafayete e outro ligando Bocaiúva a Montes Claros e a Janaúba, no sertão mineiro.

Supondo que tudo isso seja sério, devemos lembrar que, pela história brasileira que teima em jamais mudar, ferrovias levam em geral muuuuito tempo para serem construídas e chegarem ao seu dia de inauguração para trens comerciais. Portanto, que quem torce para que isso tudo se realize não deve esperar nada disso para antes de 2018... seis a sete anos, portanto, a partir de agora.

Depois, deve-se também imaginar que serão trens diferentes dos que já existiram. Para quem não sabe, existiram, sim! Todos os que foram citados aqui e muito mais do que isso também. A pergunta, então, pode ser: se já existiram e hoje querem-nos de novo, por que alguém acabou com eles? Boa pergunta.

Se o leitor perguntar para algum burocrata das antigas FEPASA e RFFSA, vai ouvir que "eles eram deficitários, a maioria vivia vazio, os próprios passageiros não os prestigiavam". Se perguntarem para os antigos usuários, vão dizer que "nunca deviam ter parado, o governo forçou a barra para acabar com eles, parou de dar manutenção, não os modernizou, dava horários cada vez mais inconvenientes", etc.

Há verdades em todas as afirmações. E mentiras também. Já escrevi muito sobre esses assuntos neste blog em velhas postagens e não quero ser mais repetitivo do que já estou sendo. Porém, há verdades históricas: trens de passageiros somente não são deficitários quando rodam sempre cheios; por outro lado, para sobreviverem, têm de ter manutenção e modernização e atualização constante. Coisas que deixaram de existir no meio do caminho.

Também não se espere que voltem os trens exatamente do jeito que eram antes, se não, vão ser a mesma porcaria. Nem serão tão baratos quanto antes. Nem deverão eles pararem em qualquer vilarejo no meio da zona rural. Isso não existe mais. Se for para fazer isso, melhor nem fazer.

Por enquanto, devemos mesmo é torcer para quem estiver divulgando tudo isso, tanto do lado federal quanto do lado paulista (lembremos sempre que, para o governo federal, São Paulo tem de sobreviver sozinho, pois tem dinheiro, isto vale desde a revolução de 1930), continuar fazendo o que deve fazer para que floresçam essas linhas pelo menos para esses trechos sempre cantados e jamais realizados. Tudo isso é altamente necessário, pois, depender somente de estradas sempre cheias de problemas e lotadas já se provou que não é mais possível.

Que venham os trens de passageiros.

10 comentários:

  1. Na parte que diz sobre o VLT pra São José dos Campos, acho que você trocou na hora de escrever sobre o trem-bala, será que não? Mas isso não muda nada da idéia do texto, que está excelente como de costume. Concordo 100%.

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  2. Isso mesmo, leia-se TAV e não VLT. Aliás, já consertei na própria postagem.

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  3. Na parte entre Campinas e Ribeirão, vão ter que refazer a malha toda. Os dormente estão todos podres. Isso sem contar que a bitola é métrica. Não sei se conseguiriam a velocidade que estão alardeando.

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  4. Refazer a malha é necessário em praticamente todos os casos, especialmente a métrica. Além disso, como fica a concessionária de cargas que quer ter preferência, como sempre?

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  5. E o resto do estado como que fica? Sera que nao existe gente nas regioes de Bauru, Botucatu, Araçatuba, S.J.do Rio Preto, etc...
    Ou a CPPTM pensa que no "interiorzao" do estado so existe plantaçao de cana e cafe?

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  6. Bom, aí já se trata de não ter grana para fazer tudo. Na verdade, se ela conseguir fazer nos próximos nove anos tudo o que ela está apregoando, já será surpreendente. Mas concordo: Bauru, Prudente, Rio Preto, Botucatu, Marília... tem muita coisa a ser feita, já que destruíram tudo que fizeram em cem anos.

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  7. Na verdade, pra ter alguma chance de dar certo, as linhas teriam de ser refeitas com os melhores padrões técnicos atuais, ou então reaproveitando-se as poucas variantes com traçado moderno que já foram feitas. Trem bão em linha ruim não deu certo - o material rodante das ferrovias paulistas era bem razoável, mas as linhas mal-feitas do século XIX ou início do XX não ajudavam em nada.

    Mas, francamente, ainda assim não sei se daria certo... hoje até mesmo os ônibus intermunicipais penam pra manter boas taxas de ocupação. É mais barato ir de van ou de moto - ou, conforme o número de passageiros, até mesmo de carro. O transporte individual ficou barato demais e, em tese, possui a vantagem de dar plena liberdade a seu usuário - desde que ele não leve um congestionamento pela proa.

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  8. Eu acho que um trem Campinas a Ribeirão bom, hoje, teria a grande maioria de passageiros fazendo trechos curtos pelo percurso. Campinas a Ribeirão, mesmo, pouquissimos. O negócio hoje é tipo CPTM com intervalos de estações maiores.

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  9. Eu acho que de Bauru para Araçatuba, Campo Grande e de Bauru para Marilia, Tupã, e nas outras partes como São Jose do Rio Preto, dificilmente voltarão. No caso especifico de Araçatuba, mesmo que voltar, dúvido que tenha passageiros, talvez no inicio sim, mas mais por causa da nostalgia do que por necessidade, mesmo porque a localização da estação atual é muito fora da cidade, é uma pena!

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  10. Olha, um dos trens de passageiros mais lotados até o fim da FEPASA em 1998 eram os do trecho Tupã a Panorama, repleto de estudantes. Por que não valeria a pena? Esse nunca deveria ter parado, Afinal, a linha nesse trecho nunca é usada pela ALL.

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