segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A FERROVIA QUE O TEMPO ESQUECEU

Ruínas da estação de Ridavavia Corrêa
Mais um exemplo (e como tem exemplo, caro brasileiro!) de como se joga dinheiro fora na terrinha. A Viação Férrea do Rio Grande do Sul - VFRGS - resolveu construir um ramal ligando a cidade de Alegrete ao rio Quaraí, na divisa do Rio Grande do Sul com o Uruguai, começando sua construção nos anos 1920 - ou, pelo menos, atingindo a estação de Severino Ribeiro no anos de 1924.

Somente onze anos depois ela chegou ao rio Quaraí-Mirim, um afluente do Quaraí, para em 1939 atingir a estação de Quaraí, às margens do rio e na divisa com o país vizinho.
Vista do Google Maps mostrando o que existe entre Alegrete e Quaraí: nada
Em pleno sudeste do Rio Grande do Sul, um ramal que passava por nada - não conheço o local, mas nas fotografias vê-se uma enorme planície deserta de gente - de vez em quando, gado. No meio desse nada, que dá a impressão de uma civilização destruída por uma bomba atômica, estações - que atendiam a quem, Deus do Céu?

O ramal foi extinto em 1980. Na verdade, a data não é precisa, mas ele não pode ter durado muito mais do que esse ano, pelas poucas indicações que consegui. O local era tão deserto - ainda é - que os nomes das estações recebem todas, com exceção da de Quaraí-mirim e de Quaraí, nomes de pessoas, em geral ilustres desconhecidos, por absoluta falta de referências para se conseguir nomes para estações perdidas. Curiosamente, uma delas, Baltazar Brum, leva o nome de um antigo presidente... do Uruguai!
Ruínas da estação de Severino Ribeiro. Perto dela, quase nada, fica no meio de um campo de pedras. Ali havia também um triângulo de reversão.
A cidade de Quaraí existe como município desde 1875. Hoje tem apenas 36 mil habitantes. É o ponto mais baixo do ramal, se bem que a diferença de altitude entre a primeira estação do ramal, Vasco Alves (184 m), e Quaraí (112 m) é de apenas 72 metros. Vasco Alves, por sua vez, está 92 metros acima de Alegrete, o que mostra que o trem subia bastante para chegar à estação vindo de Alegrete, em 22 quilômetros de ferrovia.
Estação de Baltazar Brum.
De trem, deveria ser uma modorrência só. Eram, como já dito, 123 km de linha, que os trens de passageiros percorriam em pouco mais de 3 horas, em trens mistos... que geralmente não respeitavam horários. Não dá para acreditar que houvesse muitos passageiros, ligando uma cidade de 78 mil e outra de 26 mil habitantes - essas são as populações atuais.
Estação de Quaraí, bem conservada hoje.
O ramal pode ter sido construído por ser estratégico: ligar de trem uma região de fronteira deserta de gente, onde somente existem duas cidades: Alegrete e Quaraí, separadas por 120 quilômetros (por ferrovia). Ou por pressão política. O fato é que nem continuação no Uruguai esse ramal tinha. Muito estranho. Não foi à toa que desapareceu.
Ponte sobre o arroio Inhanduí.
Sempre vale a pena lembrar que diversas linhas no estado gaúcho foram construídas pela Engenharia do Exército - como estado de fronteira, tinha ali um exército, pelo menos em teoria, muito forte. Portanto, é possível que eles tivessem uma influência muito forte sobre a Viação Férrea.
Fim da linha do ramal, ou, o que sobrou dele. Curiosamente, a termoelétrica é nova: foi inaugurada 28 anos depois da extinção do ramal. O ramal, provavelmente, atendeu à cooperativa que existe ali por algum tempo após sua extinção.
Das estações somente sobraram inteiras as de Quaraí e de Baltazar Brum, O resto são ruínas ou foram demolidas. Reparem pelas fotos neste artigo que ficavam em meio a regiões totalmente vazias, onde nem vilarejos existiam - apenas as próprias paradas.
O que sobrou da estação de João Marcelino, longe de tudo que se possa imaginar.
Ainda existe, além das estações, um pequeno pedaço do ramal saindo de Alegrete e chegando até a Cooperativa Agroindustrial Alegrete, bem próxima à rodovia BR-290. A extensão do trecho não sei.
A pequena estação - uma parada, na verdade - de Quaraí-Mirim, abandonada mas em pé.
E as pontes. Pelo menos duas, uma sobre o Quaraí-Mirim e outra sobre o arroio Inhanduí, que hoje não servem rigorosamente para nada.
Ponte sobre o Quaraí-Mirim
Esta postagem não seria possível sem a colaboração do Gunnar, um uruguaio que entrou por Quaraí de carro e teve de percorrer longos trechos no meio de fazendas de gado, não tendo em muitos pontos nem trilhas para se orientar. Conseguiu chegar a todas as estações, hoje sem trilhos, claro, menos à de Vasco Alves e esta apenas por que a noite chegou antes que Gunnar pudesse alcançá-la. As fotos são todas dele.

3 comentários:

  1. Em alguns post , como o de 29/09, vc cita "são quase 20 tuneis" na mairinque-santos, o quantidade certa são 27 tuneis, sendo o ultimo o tunel 27 entre Eng. Ferraz e Evangelista de Souza.
    http://www.panoramio.com/photo/1347725
    Nesta pagina vemos o tunel já com linha dupla e tres trilhos, remodelados pela ALL, sentido Evangelista, Site Ricardo Koracsony

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  2. En Quaraí, en los últimos años del s. XIX, se instaló un saladero muy importante, que tuvo su apogeo en la primera década del s XX, al que se sumó otro en 1908. Debido a motivos políticos y económicos, la actividad decayó hacia la década de 1920, prácticamente terminando con la Ley de Desnacionalización del Charque de Getulio Vargas. Los habitantes de Quaraí pedían la construcción de la vía férrea desde los últimos años del s. XIX para sacar la producción con costos razonables, lo que se hacía por los ferrocarriles uruguayos vía Montevideo. Hasta los alimentos venían de Argentina y Uruguay vía Salto. Recién cuando llegó el tren a Severino Ribeiro, con el negocio saladeril en decadencia, se hizo un servicio de camiones desde Quaraí hasta la punta de la línea. Cuando el tren llegó a Quaraí, posiblemente por motivos estratégicos, la ciudad ya sufría los efectos de la pérdida de su industria que no llegó a instalar un frigorífico (como en Santana do Livramento), tal vez por falta de comunicaciones.
    Gunnar Gil

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  3. No período em que a ferrovia esteve funcionando estas estações, em locais totalmente ermos nos dias atuais, eram ponto de chegada e partida da população que vivia nas fazendas e distritos(vilarejos) do interior do município.

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