sábado, 29 de janeiro de 2011

SONHOS

Ao lado de minha linda Ana Maria, qualquer cidade é um sonho

Meus amigos acham estranho quando eu lhes conto sobre a minha viagem a Viena, em 1995. Sim, Viena, na Áustria. O meu sonho – ou um deles – sempre foi conhecer Viena. Tive a oportunidade de viajar para Milão, numa das duas únicas viagens que fiz à Europa em minha vida, ambas a serviço. Ao final de duas semanas trabalhando, peguei um avião de Milão para Viena num dia de semana e cheguei às 6 da tarde em Viena. Ali, fui para o hotel, deixei as malas e saí – a pé – andando pelas margens do Danúbio até o Anel, como se chama a área mais antiga da cidade, e onde existem os grandiosos palacetes que regiam a Áustria Imperial e que hoje ainda estão lá, numa imponência de fazer inveja a qualquer construção. Andei ao redor do Anel e dentro dele, até quase 11 horas da noite. Aí voltei para o hotel. Na manhã seguinte, bem cedo, peguei o metrô numa estação subterrânea ao lado do Danúbio e segui até o Palácio de Schönbrunn, aonde a Família Imperial ia durante parte do ano. Não pude entrar no atual museu, era muito cedo, mas os jardins e a visão do prédio valeram a pena. Voltei para o hotel, eram cerca de 9 e meia da manhã quando tomei o ônibus de volta para o aeroporto. Acabou-se a curta viagem. Dali, numa seqüência de troca de aviões, fui-me embora para o Brasil, onde cheguei na manhã seguinte. De Viena trouxe algumas fotos, algumas memórias e algumas folhas de plátano caídas nas ruas. Era outono. Valeu muito a pena, apesar do tempo curtíssimo.

A Viena de meus sonhos era diferente da realidade. Neles, aquele velho Imperador de bigodes brancos e às vezes com um chapéu de tirolês, Francisco José, era feliz com sua esposa, a Imperatriz Sissi, aquela, dos dois ou três filmes dos anos 1950 em que Romy Schneider fazia o papel de esposa feliz. Na realidade, Sissi separou-se do marido, foi assassinada mais tarde em Linz e seu filho Rodolfo, herdeiro do trono, suicidou-se antes mesmo da morte dela. Francisco José, que acompanhava feliz as valsas em seu castelo, não percebeu que o mundo à sua volta mudara e morreu ao som dos canhões da Primeira Guerra Mundial. Seu sobrinho-neto, que o sucedeu, foi deposto dois anos depois e morreu quatro anos mais tarde. O Império acabou. Afinal, Habsburgo quer dizer castelo de abutres. O que se esperar de uma família com esse nome?

Mas qual é o seu sonho? Num recente seriado de televisão a cabo, no capítulo de abertura, o médico rico famoso e insensível tanto com os clientes e com a família em Nova York tem a sua vida virada de cabeça para baixo quando sua esposa morre num acidente de carro. Sentindo-se culpado pela sua morte e por não ter dado a atenção que ela merecia dele, o médico volta nos dias seguintes ao hospital e pouco antes de operar um paciente desenganado, desite da operação e lhe faz uma pergunta. “Onde você gostaria de estar agora?” A resposta vem seguida do nome de uma cidade pequena na Pensilvânia. “Então vá para lá” – diz o médico – “vá aproveitar o que ainda tem de vida na cidade que você ama, porque essa é a melhor solução para você agora. Se você for operado, você não poderá ir para lá e não terá mais tempo de vida que sem a operação”. Por sua vez, ele se muda com os dois filhos para uma cidadezinha nas montanhas do Colorado. Era essa cidade que sua esposa, anos antes, havia dito que era ali que queria viver. Ela somente a conhecia por fotografias e reportagens.

Qual é o seu sonho? Qual é a cidade em que você gostaria de viver hoje? Aquela em que você vive? Ou outra, que você conheceu em alguma época em sua vida? Pequena ou grande? São Paulo? Santana de Parnaíba? Curitiba? Santa Cruz das Palmeiras? Rio de Janeiro? Salvador? Ribeirão Preto? Porto União? São Carlos? Ponta Grossa? Joinville? A cidade da qual gostamos pode ser bonita ou feia, pode ter os nossos amigos ou podemos dela ter uma lembrança inesquecível da única vez em que eventualmente fomos lá. As cidades que listei foram as que vieram primeiro à minha cabeça, cidades de que, por um motivo ou por outro, eu gosto, eu me lembro com satisfação. E quando pensamos em cidades muito grandes, como São Paulo, a pergunta é: Qual São Paulo? A Vila Mariana de minha infância? A Higienópolis de minha namorada, que hoje é minha esposa? O Sumaré onde eu morava? O centro velho, para onde eu ia de bonde? Várias das lembranças que tenho das cidades existem ainda, outras não. Em algumas cidades as quais revisitei depois de muitos anos, eu não consegui nem sequer achar o local que eu tinha na memória – a cidade, o local mudou tanto, que nada mais existia. Aí vem a frustração. Onde era a chácara de meu avô em Mogi das Cruzes, que eu visitava nos anos 1960? Tentei achar, mas não consegui nada, nem uma informação – mal sei em que parte da cidade ela ficava.

Mas temos de ter sonhos. Temos de ter um objetivo, para quando, se tivermos de escolher onde vamos viver o resto de nossas vidas, tenhamos o que escolher.

5 comentários:

  1. Muito bom o post. A minha cidade dos sonhos é São Petersburgo, depois Moscou. Também quero muito conhecer Praga, Paris, Londres, Liverpool, Budapeste e várias cidades da Itália. Quero conhecer também Havana, São Francisco e algumas cidades do México. Quero conhecer Fernando de Noronha, Brasília, Monte Verde... Quero voltar a morar em Beagá um dia. Quero poder frequentar Tiradentes com mais frequência, e a Serra do Cipó. A São Paulo que me agrada é a de Santa Cecília. Minha vida tem que ser muito grande, pra comportar todas as cidades dos meus sonhos!

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  2. Ralph, bela foto da Estação de Ribeirão Preto ...mas minha cidade do coração se chama Pontal....

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  3. Tô enganado ou o seriado a que se refere é o Everwood? Voltar à cidade do Porto, onde estive uma vez, passear pela Itália, conhecer Chicago, isso bastaria para mim. Ter uma pequena chácara em Piracaia ou em Óleo é o meu sonho de consumo para o fim da vida. E vamos de São Paulo enquanto Deus quiser.

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  4. A cidade do meu coração se chama Ouro Preto. Mas pretendo conhecer Coimbra (Portugal) e Pescopennataro (Itália) que são de onde vieram meus atepassados. Mas como ficar longe de Santo André ou melhor, de Paranapiacaba? Na verdade o Alto da Serra, como dizia meu avô(nasceu lá e viveu até os 15 anos).

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