Estação de Boituva em 1982. Foto Carlos Roberto de Almeida
O ano era 1982. Quase trinta anos atrás. A ferrovia já era cada vez mais desprezada pelos governos estaduais e federal no Brasil, mas ainda havia vários trens de passageiros de longa distância circulando. Poucos comparado a vinte anos antes, mas muito comparados com os dias de hoje, quando circulam em pouco mais de 2.000 km de linhas (há 28 mil quilômetros de linhas no país).
Um desses trens era da Fepasa circulando na antiga linha-tronco da Sorocabana, São Paulo-Presidente Epitácio. Somente nesta linha, eram 830 quilômetros utilizados pelo trem de passageiros. Apenas mais um ramal da ex-Sorocabana ainda tinha estes trens também circulando: a linha Santos-Juquiá.
Na linha de Epitácio, um passageiro ainda corriqueiro nas ferrovias paulistas estava nesse dia apenas observando o movimento na estação de Boituva. Nesse dia, ele não embarcou. Mas guardou sua lembrança do descaso que já era farto nesse transporte:
Nesse ano, os trens de passageiros já não iam mais para Itapetininga e Itararé. Então, obrigatoriamente tinha que usar ônibus numa viagem direta para São Paulo ou com baldeação. No dia da foto voltava de Itapetininga, indo para Campinas fazer um passeio e, em seguida, retornar para casa de trem.
A linha de ônibus existe até os dias atuais e liga Itapetininga a Campinas, parando em Tatuí, Boituva, Porto Feliz, Salto, Itu e Indaiatuba. O comum era descer em Boituva e embarcar no PS 6 com destino a São Paulo.
Um episódio que presenciei na estação de Boituva em meados dos anos 1990 foi que o PS 1 chegou com apenas três carros e abarrotado de passageiros. Na plataforma tinha cerca de 50 pessoas desejando embarcar. Mas como? No final das contas, depois de cerca de 10 minutos, o trem foi embora sem ter embarcado nenhum passageiro. A ironia é que este trem circulava com 3 carros sob alegação de baixa ocupação. Mas nem em dias como aquele, um final de semana quando a demanda costuma aumentar, a Cia colocava carros a mais. A conclusão lógica é que era proposital para desestimular o uso do trem.
Para quem imagina que o seu relato seja apenas "teoria da conspiração", posso dizer que, como pesquisador, ouvi diversos casos como este em diversas linhas férreas, e casos que já remontavam aos anos 1960. Carlos Almeida, o relator, tinha razão, sem dúvida.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
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Tenho vergonha de ser brasileiro...
ResponderExcluirOla Ralph
ResponderExcluirEra assim mesmo viajei "em pé" várias vezes de S.Paulo a Botucatu (anos 60) e a viajem demorava cerca de 6 horas...mas como era jóvem tudo era divertido....me lembro bem da estação de Boituva
"troquei" endereço com uma garota para "correspondência" era o e-mail da época....normalmente nas cidades pequenas por onde o trem passava e parava por algun minutos
principalmente nos fins de semana e no começo da noite existia o "footing".....bons e felizes tempos....
Danie Gentili
Ralph, de fato ocorreu isto aqui em Ribeirão Preto também!!!!se aqui tivesse o trem que fosse direto á Campinas ou até mesmo até Araguari não baixaria á demanda de passageiros no techo da antiga Cia Mogiana....
ResponderExcluirMeu pai presenciou cena parecida numa viagem entre Campinas e Rio Claro nos anos 1980, já na FEPASA. O trem vinha lotado, o guarda cobrava a passagem nos lugares onde não tinha bilheteria, mas não entregava o bilhete para o passageiro. Conclusão: para a ferrovia, viajavam poucos passageiros porque eram poucos bilhetes vendidos, mas dentro do trem tinha gente saindo pelo ladrão porque o guarda embolsava a grana. Engraçado que a Cia não se preocupava em averiguar isso. Isso chama-se Brasil. Abraços, T+.
ResponderExcluirMeu pai me conta que quando ele viajava de trem pelo interior de SP ele ia em pé a viajem inteira tamanha era a lotação. Por acaso descobri o seu blog essa madrugada, estou muito emocionado, pois tudo o que meu vô e meu pai me contam eu estou lendo agora no seu blog. Obrigado
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