quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ERROS HISTÓRICOS PAULISTANOS

Capa de um Guia de São Paulo - ano de 1963 (não aparece, mas é). Acervo Ralph M. Giesbrecht

Confiar plenamente em mapas de cidades antigos para traçar a história da urbanização não é algo que se recomende. A consulta serve como guia para a pesquisa; porém, todas as consultas que faço e coloco em meus estudos têm sempre a nota: "de acordo com o mapa tal, publicado em...", dado a constantes erros que existem e que nem sempre podem ser detectados.

Nos muitos anos - décadas, já - em que tenho estudado diversos mapas da capital paulista, já constatei erros claros e possíveis erros em diversas oportunidades. Desde nomes de ruas que mudam ao sabor dos mapas (por exemplo, a rua Cardeal Arcoverde se chama Arcoverde e Joaquim Arcoverde em mapas mais antigos, mas este não é um erro tão grave) até ruas traçadas de forma errada ou que, por exemplo, são traçadas de forma correta em relação a hoje, mas não nos dão a certeza de que esta rua já existia em dada época, ou que fosse então apenas um projeto a ser implantado.


Vejamos alguns casos. No mapa acima, a avenida Sumaré aparece com o seu curso terminando na rua Varginha no ano de 1937. Pode ser real. No entanto, vemos ruas tracejadas (devem ser projetos) à direita que não foram implantadas dessa forma.


Já no outro mapa (acima), a avenida aparece no ano de 1963 traçada somente até a rua Professor João Arruda e com uma praça oval no entroncamento das ruas Atalaia e Grajaú. Ora, esta praça jamais existiu (sei pois morei a um quarteirão dali por pelo menos 24 anos); quanto ao final da avenida na rua citada, isto era parcialmente real. Em 1963, a avenida era pavimentada com paralelepípedos, ainda em pista única e mais estreita do que é hoje, entre as ruas Tácito de Almeida e Atalaia/Grajaú. Dali para a frente, sentido Perdizes, era de terra e sem ser mais larga a partir do final da sua pavimentação, até a rua João Arruda, e daí para a frente era um córrego a céu aberto, praticamente sem ter nenhuma construção ao longo dela, até a rua Turiassu, onde hoje termina a avenida.


Vendo um mapa do Braz publicado em 1963 (acima), encontrei a Avenida Alcântara Machado bem mais larga do que as outras ruas na época - ver acima. Porém, uma boa parte dela, mais especificamente o trecho a partir do viaduto sobre a via férrea, sentido leste, é a rua dos Trilhos, que jamais teve essa largura. Erro crasso. Quanto à avenida antes da linha férrea, já seria ela larga nessa época? Pelo mapa, sim.


Voltando às Perdizes, o mapa feito pela empresa SARA BRASIL (acima) a pedido da Prefeitura e publicado em 1930 mostra uma linha de bondes unindo a avenida Doutor Arnaldo ao alto da rua Cardoso de Almeida na rua Caiubi. Até onde se sabe, não encontrei nenhuma referência ao fato de esta linha de ligação (a linha efetivamente existiu do cruzamento da rua Caiubi para o norte e da avenida Doutor Arnaldo, entre a Cardeal Arcoverde e a rua Teodoro Sampaio para o leste) ter em alguma época existido. Teria ela sido feita e depois retirada rapidamente? Era um projeto que a SARA aceitou como real? Este mapa da SARA em teoria é um dos mais confiáveis dos já emitidos. Outra coisa que se nota nesse mapa: para quem conhece bem a região, vai notar que a rua Macaé tinha um traçado muito diferente do que tem hoje e que a rua Veríssimo Glória não aparece. Foi mesmo assim? Ou somente nos primeiros mapas do bairro?

Há muito mais erros. Não dá para mostrar tudo, teria de escrever um livro sobre o assunto e aprofundar-me em muitas pesquisas mais. Sempre lembrando que até em mapas de ruas recém-publicados em São Paulo (e em diversas cidades) existem erros. Mesmo assim, acho o assunto realmente fascinante.

3 comentários:

  1. Falhas em mapas infelizmente são muito comuns e existem até hoje em recursos sofisticados, como GPS, GoogleMaps, etc. Creio que ainda seria muito caro agilizar o processo de detecção e correção desses erros, mesmo tendo acesso muito mais fácil a fotos aéreas como a proporcionada pelo GoogleMaps.

    Por sinal, outro dia tive de retificar um trajeto proposto pelo GPS usando as fotos do GoogleEarth, as quais efetivamente mostram a situação real, ao contrário dos mapas. A questão é dispor de fotos aéreas recentes que retratem a situação atual do local.

    Taí... será que não existe nenhum software que trate as imagens das fotos aéreas e gere mapas mais fidedignos a partir das imagens reais dos arruamentos, rios, etc.?

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  2. Na verdade a Alcântara Machado foi aberta sobre a Conselheiro Justino que aparece na página 53 entre a Frei Gaspar e a João Caetano. Na aerofoto de 1958, no Geoportal, a Alcântara Machado já era bem larga só até a altura da rua Piratininga, um pouco antes do viaduto sobre a EFSJ.

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  3. O pior é que eu tenho um guia de 1960 da mesma editora, e na mesma página 53 está o mesmo erro. Eles tiveram 3 anos para corrigir mas mantiveram o erro.
    E a abertura da avenida não adiantou nada em 3 anos?

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