sexta-feira, 29 de outubro de 2010

UM FESTIVAL DE ABSURDOS

Túnel da linha Mairinque-Santos em construção nos anos 1930, na serra do Mar. Arquivo FGV

É bastante difícil ser um pesquisador das ferrovias brasileiras. Difícil no sentido que estudá-las mostra uma quantidade enorme de absurdos feitos durante os mais de 150 anos de sua existência. 156, para ser exato. E mais seis meses. O pior é que os absurdos continuam nos dias de hoje. Aliás, um dos maiores deles é que as nossas ferrovias tenham sobrevivido aos últimos 30 anos, mesmo com todas as sacanagens, abusos, descaso, falta aboluta de atenção, péssimos dirigentes, corrupção e, atualmente, concessionárias que fazem o que querem sem qualquer fiscalização.

Ler as notícias é, na maioria das vezes, um desespero. Exemplos? Bom, o primeiro: nos últimos dias a ALL anunciou que "vai usar vagões "double stack" para tirar carga dos caminhões", ou, em português claro, vai colocar containers em "dois andares" sobre vagões-prancha para descer a serra de Mairinque pelas linhas que ligam a região de Paulínia ao porto de Santos. Legal - à primeira vista, a notícia é boa.

Porém, quem acompanha pelo menos um pouco do assunto "estradas de ferro" no Brasil sabe que para isso a ALL teria de elevar o teto dos túneis no caminho (ou aprofundar o leito dos túneis). Na serra, são quase 20 túneis relativamente baixos para uma operação dessas. Como a ALL não quer gastar esse dinheiro nem interromper o tráfego que já tem para fazer uma obra cara dessas, ela afirma que vai usar o "double-stack" durante um bom trecho, e na região dos túneis vai fazer um rápido transbordo para "um andar" apenas até o porto. "Em contêineres, a ALL quer abocanhar parte das 30 milhões de toneladas de carga movimentadas em Santos, cerca de 97% disso por caminhão".

Só que... ao contrário do que muita gente pensa, não há túneis somente na serra. Os túneis começam na região de Itu! São menos, realmente, do que na serra, mas... existem e não são tão poucos. São em tamanho suficiente para atrapalhar o plano. Então, a ALL fará o que? Vai fazer dois andares de conteineres somente de Paulínia a Boa Vista? Seria uma brincadeira.

O que parece mesmo que se quer com a notícia é anunciar um fato relevante para chamar a atenção da mídia ignara sobre um "grande projeto", mostrando que a concessionária está preocupada em melhorar seu desempenho. Enfim, ou alguém mente ou a mídia está publicando algo que teria sido explanado de uma forma e escrito de outra por algum tipo de mau entendimento... muito, muito estranho.

Mais absurdos? Tem no Rio de Janeiro: nada a ver com o assunto acima, mas com a depredação de bens que tinham algum valor, aliás, nada pequeno. Foi publicado num outro blog e, se tiverem paciência e estômago para lerem tudo... está tudo aqui.

Enquanto tudo isso acontece, as ferrovias que dizem que estão sendo construídas no Brasil e também as que vão ser construídas seguem tropeçando na incompetência, no marasmo, nas mentiras, nos entraves, nas demoras para se tomar decisões, etc. etc. etc.: Transnordestina, Ferroeste, Ferrofrango (tem nome pior do que este para uma ferrovia?), metrô de Salvador, VLTs por todo lado, linha 5 do metrô (esta última é assunto para amanhã).

3 comentários:

  1. a all e uma mentira uma empresa falisa precisa criar uma falsa imagem para nao preocupar os acionistas, sabe porque bernardo hess saiu da presidencia sa all? porque esta sendo investigado pela federal sobre desvio de bens publicos isso eles nao falao nem falao que perderam a concessao da ferronorte. a all esta mal das pernas nao vai durar muito tempo ja fechou duversas estaços rubiao mairink araçatuba tudo esta sendo fechado

    veja esta materia vinculada na record em bauru http://www.youtube.com/watch?v=iA1_uJVXO9I

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  2. É também temos dois túneis aqui na região de Botucatu. E temos também, alguns dormentes soltos no percurso. Um tombo aqui outro lá, o proximo onde será.

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  3. Desde que postei este blog - 6 meses atrás - a ALL somente piorou o índice de acidentes. Os jornais publicam um monte de besteiras sobre ela ao mesmo tempo em que noticiam os acidentes, causados quase sempre por descaso na manutenção das linhas. E a vida continua...

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