domingo, 10 de outubro de 2010

O FIM DE UMA RUA PAULISTANA

Uma das casinhas que ainda sobra na rua Cardeal Arcoverde, na altura da rua Alves Guimarães

A rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, era uma rua relativamente calma até os anos 1960, pelo que me lembro dela. Afinal, eu morava a apenas três quarteirões do seu início na avenida Doutor Arnaldo. No final dessa década, o trânsito que descia a rua Teodoro Sampaio - então com duas mãos e bondes - foi transferido para a Cardeal. Esta passou a ter mão única no sentido Pinheiros e a Teodoro ficou com a mão inversa.

Como sempre acontece, o enorme afluxo de trânsito de automóveis e principalmente de ônibus começou a afugentar os seus moradores. As muitas casinhas que existiam na rua começaram a ser substituídas ou fortemente descaracterizadas para a instalação de estabelecimentos comerciais. Alguns prédios chegaram a ser construídos, mas o trânsito também não era muito receptivo para eles.

De qualquer forma, até cerca de um ano atrás, você poderia dirigir do início ao fim dessa rua com seu carro. Congestionamento constante, mas era possível. No final do ano passado (2009), a rua foi seccionada em sua parte baixa na região do centro do bairro de Pinheiros. Na rua Cunha Gago, a rua seguia com uma curva para a esquerda, cruzando depois a avenida Brigadeiro Faria Lima e depois a Teodoro Sampaio para atingir o seu final na avenida Eusébio Matoso. A partir do fechamento do quarteirão entre a Cunha Gago e a Faria Lima, seu trânsito foi desviado para a rua que seguia em frente quando ela virava para a esquerda e depois entrou pelo meio do bairro depois da Faria Lima.

Quando abriram novamente o trecho fechado, verificou-se que a rua foi seccionada. Quam entra pelo antigo trecho é obrigado a entrar em uma pequena rua à esquerda num terminal de ônibus que começa agora a funcionar. Ou seja, de carro, não é mais possível chegar à Faria Lima pela velha rua.

Pode-se pegá-la novamente a partir da Faria Lima até a Eusébio Matoso - mas esse é o trecho mais deteriorado de toda a artéria. Está bem, em termos de trânsito, isso são contingências. Porém, espero que no futuro o trecho seccionado não venha a ter seu nome tradicional alterado.

Além do mais, diversas das poucas casas que ainda sobrevivem na parte mais alta da rua, ainda no antigo bairro de Cerqueira César, começam a ser demolidas. Quatro delas o foram na semana passada;neste sábado, já estavam em ruínas com uma placa de uma construtora que diz que vai aumentar a sua qualidade de vida demolindo as velhas casinhas. Para mim, isso é um verdadeiro despropósito. Seja o que for construído ali, prédio ou estacionamento, isso apenas deteriorará mais ainda a velha rua.

Seu trecho mais alto, para quem não sabe, é registrado em um mapa pela primeira vez em 1897, seguindo até a altura de onde ela cruza um dos braços do rio Verde, na rua João Moura. O nome era apenas Arcoverde, em outros mapas, Joaquim Arcoverde, e, mais tarde, nos anos 1910-20, começa a aparecer Cardeal Arcoverde. Esperamos que, dado a religiosidade do nome, Deus não se esqueça desta rua.

Um comentário:

  1. Maravilhoso, Ralph, maravilhoso. Seu blogue é um exemplo do cronista (moderno cronista digital!) que recupera a história dessa cidade - cidade tão desmemoriada - com estilo agradável e, mais importante de tudo, com sensibilidade. Sou seu fã, parabéns pelo trabalho.

    ResponderExcluir