quinta-feira, 27 de maio de 2010

LÍNGUA INDÍGENA PAULISTA

É sabido que os paulistas falavam o neengatu. Falavam a língua geral, ou tupi-guarani. Ou guarani? Há vários nomes para o que os paulistas, descendentes de indígenas em geral, pois os portugueses chegaram aqui na aurora do século XVI sem mulheres. Os que aqui ficaram somente tinham a opção de se acasalar com as nativas. Elas foram as mães, as avós, as bisavós de boa parte dos paulistas.

Como em geral a língua que os filhos falam é a materna, nada de estranho em saber que os paulistas dos séculos XVI, XVII e XVIII falassem uma língua que seria ou a própria língua indígena ou a mistura do português com o guarani, ou seja lá qual fosse o nome. Digo isto porque realmente tenho muitas dúvidas acerca do nome da língua. Leio muita coisa acerca disso que não bate.

Os relatórios para a Corte, no entanto, eram em português. As Câmaras dos Vereadores, por exemplo, tinham sus atas escritas em português. Afinal, a língua dos indígenas não era escrita. Diversas palavras pelo Brasil inteiro, Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia - neste dois últimos países o guarani é uma das línguas oficiais - têm origem no tupi, ou guarani, ou tupi-guarani, ou neengatu, ou língua geral, esta aqui na terrinha. Qual é o nome certo? Haveria outras línguas parecidas e com nomes diferentes? O que os paraguaios falam é qual delas?

Minha ignorância sobre o assunto é enorme. O certo é que o Marquês de Pombal proibiu o ensino da língua geral em meados dos anos 1700, de forma que o portugês, aos poucos, retornou como língua dos paulistas e de outras capitanias, depois províncias. Porém, no século XIX muita gente ainda falava a língua geral.

Reparemos nos nomes das cidades paulistas (sim, há várias também em outros Estados): Parnaíba, Barueri, Carapicuíba, Piracicaba, Itaquaquecetuba, Itu, Sorocaba e muitas, muitas outras. Rios como o Mogy, o Anhembi, depois Tietê, o Paranapanema, o Paraná, o Paraíba e muitos outros. São nomes que vêm de há muito tempo, muitos séculos. Muitos deles até de antes da chegada dos portugueses.

Mesmo assim, é comum que vamos à procura do significado desses nomes e nem sempre os estudiosos concordem. Há quem diga que Barueri não é palavra indígena, viria do francês. Até Parnaíba foi identificado por um deles como tendo vindo do protuguês perna. Porém, seja qual for a verdade, isso apenas prova que a língua guarani, ou tupi ou neengatu ou seja lá como se chame, sem escrita, dificultava muito o seu estudo.

Por isso é que soa um tanto ridículo a conversão de nomes de cidades, no final dos anos 1800, graças ao nacionalismo e o positivismo reinantes pouco antes e depois da proclamação da República. Cidades como Morro Pelado, Penha do Rio do Peixe e Bica de Pedra, por exemplo, tiveram nessa época seus nomes alterados respectivamente para Itirapina, Itapira e Itapuí, traduções literais, ou quase, de seus nomes portugueses para o guarani.

Mais tarde, isso continuou a existir, principalmente na época das muitas trocas de nomes de municípios, distritos e estações ferroviárias em 1944, advindas da lei federal que proibia o nome repetido dessas unidades no País. Teoricamente, a localidade mais nova era obrigada a trocar de nome e muitas delas escolheram - ou pelos políticos ou pela população - a mudança para nomes índios: nessa brincadeira, que causou uma confusão enorme na época e por muito tempo, Cascavel virou Aguaí e Cristais virou Guapuã e Pau D'Alho virou Ibirarema. Houve casos de mudanças que reverteram ao nome anterior da cidade acrescentada de terminações como "do Sul", "do Oeste", "do Norte", "Paulista" e outras. Isto acontecia quando a população se revoltava com a nova denominação.

Porém, o que me pergunto é: essas palavras índias foram na maioria dos casos inventadas. Em teoria significavam a mesma coisa, mas, na prática, quem é que sabia se essas palavras existiam, numa língua já em boa parte esquecida pelo tempo e sem escrita?

Para quem for me criticar, vou deixar bem claro que a minha ignorância no guarani, língua geral ou seja lá que nome queiram para a língua indígena predominante nesta região, é enorme. Perdoem-me, pois, por qualquer enorme bobagem que possa ter escrito acima. Mas que é tema para discussão, é, sim.

3 comentários:

  1. Concordo com o teu raciocínio, também acho que várias dessas palavras "indígenas" foram inventadas, só convertidas e que dificilmente eram palavras de uso corrente. Mas o trecho que diz que "teoricamente, a localidade mais antiga era obrigada a trocar de nome", penso que foi um engano. Talvez seja a localidade mais nova é que devia trocar, será que não?

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  2. Sim, escrevi trocado. Já estou corrigindo a própria postagem.

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  3. Olá Ralph,

    Há alguns atrás me interessei pelo tema da lingua geral. Existia um núcleo de estudos na USP sobre a língua que deveríamos estar hoje falando, não fosse a imposição, por decreto, do Português.

    Tem uma informação que para mim não confere tampouco. O nhengatu seria a língua geral amazônica - falada no norte do país e a língua geral paulista seria falada no sul e sudeste. Lembro-me que ela também tinha uma demoninação particular. Não consegui resgatar qual era esse nome nos artigos que pesquisei. Mas vou continuar procurando.

    Um abraço,

    Carlos Alberto

    P.S.
    Você chegou a assistir o vídeo no Youtube que mostra um circo sendo transportado por trem?

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