quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

PRESERVAÇÃO – QUEM QUER, AFINAL?

A única fotografia da estação ferroviária de Ibitiúva que conheço. Será a única que existe?

Vendo aqui as estações ferroviárias a atualizar no meu site, abri a página da estação de Ibitiúva. Este bairro é um distrito do município de Pitangueiras, no norte do Estado de São Paulo, região de Bebedouro. Estive lá no ano de 1999 em uma viagem de três dias que fiz na época para fotografar estações mais distantes no Estado.

Era um local muito simples, à beira da rodovia que liga Pitangueiras a Bebedouro, lado esquerdo de quem vai nesse sentido. Poucos quarteirões de ruas quadriculadas e a estação ferroviária, esta ao lado da linha que naquele ponto acompanha a rodovia bem de perto. A estação era uma estação rodoviária, já que, embora os trens de passageiros ainda passassem por ali, numa frequencia baixíssima (foi a época daqueles trens ridículos, vazios e mal-cuidados que a Ferroban tocou até março de 2001), ele não parava. Se parava, a pedido de algum passageiro, a estação já estava desativada havia anos.

Havia um bar também nela. Estava malcuidada, mas em pé e tinha uma função. Tirei uma fotografia – uma, apenas. Era ainda o tempo dos filmes, não havia máquina digital, ou, se havia, eu não a possuía. Não dava para tirar muitas fotos sob pena de acabar o filme. Essa foto, no entanto, acabou sendo a única que já vi dessa estação. Em 2002, veio-me a notícia de que ela já estava em ruínas e sem telhado; alguns meses depois, já não havia mais nada ali, foi tudo derrubado. Coisa da Prefeitura, segundo me passaram.

O prédio havia sido construído no final dos anos 1920 pela Companhia Paulista e tinha a mesma tipologia do prédio da estação de Passagem, no mesmo município: duas plataformas, uma para cada linha: afinal, até 1966, dali saía um ramal de bitola métrica para Viradouro e Terra Roxa. A linha principal de um lado, o ramal de outro. Descia-se num, atravessava-se o corredor interno do predinho e já do outro lado estava-se na plataforma para pegar a vaporosa do ramal.

Parece, no entanto, que a demolição da estação somente incomodou a mim e a alguns poucos outros. Se ela fosse tão importante assim para as pessoas do vilarejo, de alguma forma eles não teriam deixado que ela fosse saqueada e, no final, demolida. Certamente alguns lamentaram, mas também parecem não ter se esforçado para evitar o baque.

Enfim: a quem interessa, mesmo, este País, a conservação do patrimônio construído? Quando eu me lamento e choramingo no meu site ou no meu blog que não conservam nada, não preservam nada, derrubam tudo, quantas pessoas estou realmente representando? Eu comecei a catalogar estações ferroviárias em 1996. De lá para cá, posso garantir que pelo menos cinco estações que estavam em pé foram derrubadas. Isso, que eu sei e que estou me lembrando neste momento. Uma delas foi a de Pacaembu, outra, a de São Vicente. Houve outras. Fora as que estavam em bom estado e hoje estão em ruínas, como George Oeterer e Saudade, esta no Rio de Janeiro. Há certamente muitas outras.

É verdade que algumas foram restauradas, em melhor ou pior qualidade: Pederneiras, Pitangueiras e outras. Nunca fiz a conta de quantas estações, nas quase 5 000 que existem ou existiram no Brasil, foram derrubadas, quantas estão em bom estado, quantas ainda são estações (estas, poucas). O fato é que este número se altera rapidamente e é impossível saber qual é a situação neste momento. Tento ser o mais atual possível no meu site, mas de vez em quando recebo uma bronca de alguém dizendo que a estação que estava em péssimo estado foi restaurada, ou a que estava em pé foi para o chão, ou que está sendo usada para uma coisa e não para outra. Corrijo imediatamente. Com certeza, porém, há dados incorretos ou desatualizados no site.

E, enquanto isso, continuam a depredar prédios ferroviários pelo Brasil afora, infelizmente.

5 comentários:

  1. Particularmente, acredito que devemos preservar a memória ferroviária, mas de maneira seletiva. Afinal, nem tudo o que temos por ái é passível de ser preservado, nem mesmo justifica-se preservar tudo sob pena de não avançarmos.As estações em geral valem preservar quando representam marcos arquitetônicos, ou então quando o local virou parte importante da história. Estações produzidas "em massa" ao longo da linha, todas iguais, acho questionável preservar todas, ao menos uma ou outra para representar.

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  2. Eu não discordo. Porém, quando falo em preservar, no entanto, digo-o em qualquer estágio, seja federal, estadual ou municipial, ou mesmo, um "acordo de cavalheiros". Muitas cidades por aí têm uma estação como sua origam. Ibitiúva é uma delas. Se o povo se sente bem com o velho prédio ali, que não se o derrube, seja com tombamento, seja não. A questão é: a maioria das pessoas da cidade REALMENTE acha isso? Não fiz nenhuma pesuiqsa em Ibitiuva, lógico, mas acho que a maioria não se importou com a derrubada.

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  3. Ola Ralph

    Realmente preservar todas é impossível, no ano passado quando fotografei varias estações, preservadas,abandonadas, demolidas e até " inexistentes" deu para perceber que poucas pessoas realmente se preocupam com a preservação...mas acho que o grande mal foi mesmo a falta de interesse e de visão das nossas "otoridades" em relação as ferrovias, isto sem falar em "outros interesses"

    Daniel

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  4. A mim você representa, não tenha dúvida. Preservar é o que importa. Mas li onde? Acho que na entrevista do Bolivar Lamonier neste fim de semana na Veja: o brasileiro não tem uma cultura solidária, participativa... para o que importa. Assim, ninguém se une pelas coisas boas em que, individualmente, até defende. Por exemplo: não se uniriam pra trocar esse nome horrível de cidade (ou distrito, não sei): Ibitiúva. É quiném Itupeva. Eca! Tem que demolir esses nome!! (rsrs) Valeu!

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  5. Eh eh... e olhe que o nome é antigo, não é desses inventados por tradução para o indigena...

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