domingo, 7 de fevereiro de 2010
A MOGIANA ESQUECIDA
Reparem os que gostam de estradas de ferro brasileiras ou paulistas que a velha Mogiana - quarta ferrovia a ser inaugurada em São Paulo, em 1875 - é uma das de que menos se fala ou escreve. Qual seria o motivo?
É verdade também que não há muitos livros específicos sobre ferrovias no Brasil - nem a lendária Paulista tem um livro sobre ela, com exceção daquele álbum escrito em 1918 que comemorava seus 50 anos, hoje um livro raro e caro. Lembro-me apenas da São Paulo Railway e da Sorocabana em São Paulo. Nem a Santos a Jundiaí tem um livro próprio - contando-se que a SPR foi operada com esse nome até 1946, e é até esse ano que o livro sobre ela conta sua história.
Nas listas de discussão na Internet, fala-se bastante das ferrovias paulistas, mesmo porque a maioria das pessoas que as frequenta está no Estado de São Paulo, mas mesmo assim a Mogiana é das menos comentadas. Qual teria sido o motivo? Falta de admiradores? Bem, eu conheço vários. O que me vem à mente são alguns fatos que podem ser motivos para a literatura não tão ampla sobre a Mogiana: ela passa por uma região de população relativamente baixa em seu tronco principal (lembrando que ela começa em Campinas, uma das maiores cidades do Estado e passa por Ribeirão Preto, também grande cidade, mas outras cidades não têm o mesmo destaque hoje). São Simão, Mogi Mirim e Casa Branca, por exemplo, eram cidades mais importantes relativamente ao Estado na época em que a ferrovia foi implantada. Hoje não têm nem de longe a mesma importância relativa.
Além disso, praticamente a metade das linhas da Mogiana estava em território mineiro e não paulista, com linhas que foram quase em sua totalidade extintas há muito tempo: só sobrou, mesmo, a linha que segue para Araguari. Os espaços entre Uberaba, Uberlândia e Araguari são pouco povoados, e, no triângulo mineiro, somente estes três municípios têm linhas da velha ferrovia hoje em dia.
O rápido declínio em termos financeiros da Mogiana também pode ter contribuído para isto: afinal, desde os anos 1920, a Mogiana entrou em queda livre, faturando anualmente muito menos do que o valor de suas dívidas. Foi estatizada por pressão não governamental, mas sim de seus acionistas, em 1952 - acionistas que queriam ainda receber alguma coisa pelo espólio de uma ferrovia falida.
Tal fato veio como consequências de fatos como a cara baldeação em Campinas, por causa da troca de bitolas; do investimento em ramais inúteis, como (principalmente) o de Jataí/Guatapará e o ramal de Juréia; do endividamento feito para a construção de um ramal para o porto de Santos que acabou não sendo construído, tendo sido o dinheiro desviado para a construção de ramais como os dois já citados e os outros dois que partiam de Guaxupé, que jamais deram os resultados esperados; da depredação da ferrovia no seu lado mineiro pelo Governo Federal durante a Revolução de 1932; da sua linha-tronco mal construída, com excesso de curvas que aumentavam demais as distâncias e diminuíam a velocidade dos trens, linha que somente começou a ser substituída nos anos 1920 e foi terminada apenas na época da Fepasa em 1979 - tendo ainda sobrado o trecho Mato Seco-Lagoa Branca, que ainda é o original.
Com tudo isto, não tinha muito de bom para se recordar. A Mogiana foi, ainda, a última das grandes ferrovias paulistas a ter carros de aço (1960) em lugar dos já antigos e obsoletos carros de madeira. Mesmo assim, seus admiradores fiéis - entre os quais, eu - não têm até hoje um livro em que se fale da grande Mogiana. Esperamos que um dia ele saia, e como um bom livro em que tudo possa ser analisado dentro da história desta ferrovia, que hoje teria 135 anos de idade.
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Ola Ralph
ResponderExcluirAcho que a NOB também é esquecida...até aqui em
Lins que era "importante" como cidade "ferroviária" não encontro informações......
Daniel
Ola Ralph
ResponderExcluirAcho que até a NOB é esquecida....aqui em Lins
que era uma cidade "ferroviaria" praticamente não
se fala ou se escreve sobre a ferrovia.......
Daniel
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Sr. Ralph, boa noite.
ResponderExcluirSeu artigo sobre a Rua Domingos de Moraes - lá no site 'Ferrovias...', coincidiu com a Reportagem da TV Cultura de ontem, sobre a Vila Mariana (com direito a Villa Kyrial e tudo).
Sobre a Mogiana, fique conhecendo mais um admirador: eu.
Sobre o livro, o Sr. poderia escrevê-lo.
Sim, eu poderia escrever. Desde que alguém financiasse. Chega de escrever livros e não ter retorno nem para cobrir os gastos. Abraços
ResponderExcluirAdmiro sua sensibilidade e percepção para assuntos históricos.
ResponderExcluirQuanto a escrever livros, realmente no Brasil ainda é uma prática cara.Publiquei gratuitamente um romance http://clubedeautores.com.br/book/2977--O_Distrito tudo feito on line, depois eu mesmo o comprei para tê-lo encadernado.
A Mogiana não foi tão esquecida assim.Nos anos 70 um governador paulista comprou 80 locomotivas eletricas francesas para ela.O material encaixotado ainda está no deposito ferroviario de Araraquara enferrujando.Escandalo financeiro governamental e diplomatico.Estas locomotivas não poderiam ser aproveitada num Pré-metro de uma capital brasileira?
ResponderExcluirBom, Marcos, já era FEPASA na época, e desde que o governo assumiu a Mogiana em 1952 ele já estava investindo na linha-tronco, nas variantes. Depois, as locomotivas desmontadas não servem mais para nada, são sucata. As duas que foram montadas já são antiquadas, e sim, podem sempre ser usadas, mas sabe como são as decisões no governo.
ResponderExcluirDaniel, quanto à NOB, existem vários livros sobre ela, sendo que o melhor deles é o do Paulo Cesar Cimó, embora verse somente sobre a Noroeste mato-grossense.
ResponderExcluirCaro Ralph, quando menino, aí por volta de 1957 ou 1959, sofri um acidente ferroviário, perto de São Simão - SP, e queria encontrar algum dado a respeito. Você saberia me indicar uma fonte?
ResponderExcluirMuito obrigado! Nicanor de Freitas Filho
nicanordefreitas@gmail.com
Caro Ralph meu avô materno se chamava João Mesquita. Ele foi chefe de algumas estações na Mogiana. Vc tem algum dado ou informação sobre os chefes de estação? Um abraço
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