sábado, 26 de fevereiro de 2011

POR QUE O PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO ESTÁ ABANDONADO HOJE

A estação em 1999, como eu a encontrei então
No município de São João da Boa Vista, próximo a Águas da Prata, no estado de São Paulo, próximo à divisa com Minas Gerais, existe um pequeno bairro rural de nome Bairro Alegre, entre as sedes dos dois municípios citados.

Estive nesse local no ano de 1999, buscando por sua estação ferroviária. Nesse dia eu estava percorrendo de automóvel as imediações do ramal de Caldas, que liga Aguaí a Poços de Caldas, Minas Gerais, desde o já longínquo ano de 1886. Uma curiosidade: de todos os muitos ramais da Companhia Mogiana, esse foi o único que sobrou em atividade até hoje, com trens carregando bauxita que vem da divisa de Minas para, depois de um caminho tortuoso, chegar à cidade de Alumínio, entre Mairinque e Sorocaba. O outro ramal ainda existente, mas completamente abandonado é o ramal de Sertãozinho, sem tráfego pelo menos desde o ano de 1996.

Nesse dia descobri, no meio de mato alto, o simpático prediozinho da estação ferroviária de Bairro Alegre. Totalmente depredado, já sem piso de madeira, foi até difícil conseguir tirar fotografias, tal a altura do mato em volta. Não percorri, devido ao avançado da hora, o restante do bairro. E nunca mais retornei lá.
A estação em 2008 - Foto Cesar Augusto Tonetti
Há poucos dias recebi uma simpática mensagem por e-mail de um antigo morador da estação. Transcrevendo o texto enviado pelo Sr. Daniel Cândido Moisés: "Venho através deste parabenizá-lo pela matéria que achei na internet sobre as estações ferroviárias do Brasil, em destaque a de Bairro Alegre no município de São João da Boa Vista SP.
Tal prestígio se dá pelo fato de ter passado minha infância toda lá naquela estação, pois meus avós paternos tornaram-se moradores do imóvel 2 anos após a desativação da estação mantendo de pé um imóvel que , a meu parecer, deveria ter sido tombado e mantido os moradores para conservação. Assim tornando o local refúgio em finais de semana e todo o período das minhas férias escolares.
Eles saíram de lá em 1995 devido a uma notícia de que todos os moradores de imóveis da antiga RFPSA (Fepasa) seriam retirados das casas.
Assim, meu avô como cidadão pacato, comprou um terreno com tamanho de 1/5 daquele e construiu uma casinha pra ele e minha avó.
Depois de sua saída o casarão foi invadido por ciganos, andarilhos, desocupados, usuários de droga e teve arrancados todo seu piso e forro de madeira, bem como janelas e portas.
Se meus avós estivessem lá teriam preservado o imóvel como original até hoje, tenho certeza disso.
A duas semanas estive lá para relembrar meus passos.
Ótimas recordações...
"

O que ele escreveu nos permite entender por que existem tantos imóveis das ferrovias abandonados por aí. Um dia veio a dona dele, no caso a FEPASA, dizendo que ele teriam de sair pois ela precisaria do prédio. Porém, graças à própria incompetência e descaso dos donos, ele foi abandonado. Os avós de Daniel, que cuidavam do local, saíram e ninguém jamais se importou com a casinha. Por que não se as deixaram habitadas, afinal?

2 comentários:

  1. Além do prejuízo físico desses bens patrimoniais se degradando, tem um outro patrimônio muito maior que é perdido por esse descuido: as famílias que já moravam há muitas décadas nesses prédios (me refiro principalmente às casas de turma e casas de ferroviários, etc). Muitas delas, que nunca moraram em outro lugar, tiveram que sair às pressas, gerando mais problemas sociais, culturais e econômicos. Essas famílias são o maior patrimônio ferroviário brasileiro. São descartadas. Sua importância é mais difícil de ser reconhecida do que a dos prédios físicos. É uma pena.

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  2. E a crônica acerca de PATRIMÔNIOS ABANDONADOS se repete Brasil afora!
    Em Piquet Carneiro-CE, de há muito se iniciou um diálogo, travado com quem de direito, sobre a possibilidade de se aquisitar o prédio da vetusta estação ferroviária - um edifício, mais que centenário, pois foi inaugurado em 15 de novembro de 1907.
    Até dezembro de 1988, nossa estação era o "palco" do encontro de parentes e amigos à hora da "passagem" do trem de passageiro.
    Hoje o que se vê é um prédio entregue à ação de cupins, servindo de "habita" a morcegos, pardais e andorinhas. NUMA PALAVRA: TOTALMENTE ABANDONADO. Uma lástima! Justo esta ESTAÇÃO, que é a CERTIDÃO DE NASCIMENTO de nossa cidade. NUnca é de mais (além da conta!) bradar ao mundo que nossas ferrovias serviram de "ponta pé" inicial face ao surgimento de vilas e cidades que, no decurso do tempo, se emanciparam e "viraram" MUNICÍPIO!
    Espero que o atual ocupante do Poder Legislativo em Piquet Carneiro, o prefeito Expedito José do Nascimento, ultime, de fato, ações, que permitam a aquisição do prédio de nossa estação e, neste, seja instalado , como está previsto, o MUSEU MUNICIPAL.
    OSMAR LUCENA FILHO - Memorialista
    PIQUET CARNEIRO - CEARÁ

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