sexta-feira, 4 de novembro de 2011

ROUBO DE FIAÇÃO PÁRA TRENS DA CPTM

Fiação aérea no pátio de Iperó, SP, nos anos 1990 com a "Loba" utilizando-as. Foto Carlos Guerreta

Anteontem, 2 de novembro, a CPTM informou "que, por volta da 1h30, desta quarta-feira, ocorreu um ato de vandalismo no sistema de energia elétrica que alimenta os trens entre as estações Vila Clarice e Pirituba, na Linha 7-Rubi [Luz - Francisco Morato], ocasionando a interrupção da circulação das composições em ambos os sentidos. (...) Equipes de manutenção da Companhia já estão atuando no local para restabelecer a operação".

Mais uma vez, bandidos roubaram os fios das catenárias aéreas da ferrovia. Não é a primeira vez que isto acontece. Coisa de brasileiro com pouca educação? Brasileiro é tudo ladrão? A miséria leva a essas coisas? Podem pensar o que quiser, mas isso não é tão simples assim para simplesmente sair alardeando tais coisas e metendo o pau no país em que se vive... por mais defeitos que vive, são de mais de 99% as chances de você viver aqui pelo resto de sua vida.

O problema não ocorre aqui somente nas ferrovias: como exemplo, na zona rural de Itanhaém, SP, o telefone para de funcionar pelo menos uma vez por semana. O motivo, não divulgado oficialmente, é sempre o mesmo: roubo de fios.

Quando o estrangeiro acha que aqui só tem futebol, mulata e floresta amazônica, o brasileiro chia, no entanto muitos de nós deliramos na hora de falar de Primeiro Mundo... mas o que o povo precisa mais é assistir mais da RAI, BBC, DW, TV5, etc, especialmente os telejornais locais dessas estações. Delitos como furtos de cabos são mais comuns do que se imagina no dito Primeiro Mundo. Nos EUA o Corredor Nordeste da Amtrak e as linhas suburbanas irradiando a partir de NYC já foram alvos de ataques do gênero.

E já apareceram casos de furto de trilhos de ramais "adormecidos". Um museu ferroviário em Nova Jersey teve uma locomotiva GE de 45 t saqueada em todas as suas bronzinas de mancal - os meliantes tiveram o saco de levantar cada um dos mancais com macaco para extrair as peças... Na Europa partes da periferia de Paris são suscetíveis aos mesmos tipos de crimes. Nem o patrimônio histórico escapa - várias ferrovias turísticas na Grã-Bretanha já foram invadidas e roubadas. Em um caso os ladrões sumiram com uma coberta de válvula de segurança de bronze maciço (iguais às da Mogiana, imagine o peso...) e mais recentemente, com uma locomotiva a vapor em miniatura tipo "live steam" inteira!

Ferrovias que têm de guardar vaporosas esperando revisão em espaços a céu aberto hoje retiram todas as peças não-ferrosas e as guardam a sete chaves. A diferença é que lá uma hora mais cedo ou mais tarde o "longo braço da lei" alcança os perpetradores. No meio termo, fica o incômodo, as interrupções e a dor da perda de partes do patrimônio.

Na Grã-Bretanha a Railtrack e a TfL (Transport for London) estão numa guerra aberta contra o roubo de cabos, que se tornou endêmico em certas áreas. Nos últimos anos não há mês sem que ocorra algum episódio com consequente bagunça.

Sempre achamos que que o roubo de cabos no Brasil tornou-se muito comum porque a mercadoria tem alta liquidez - ou seja, a receptação é fácil (até porque se funde o material e perde-se a rastreabilidade). Parece coisa de crime organizado. Mas o que ocorre nos países que aparentemente possuem instituições menos fracas que as nossas, como os europeus?

Na ferrovia americana New Haven, locomotivas elétricas EP4 (das quais a V8 era "clone") foram encostadas no final da década de 1950. Com a retomada da tração elétrica, poucos anos depois, a ferrovia tentou reativá-las, mas elas estavam detonadas demais, inclusive pelo vandalismo (entenda-se: depenadas por ladrões).

Às vezes temos a impressão que o mundo está se "abrasileirando", ou seja, ficando mais parecido com o que julgamos serem características negativas brasileiras. Porém, as causas dessa degradação global podem ser similares em todos os países - educação liberal demais, apelo exagerado ao consumismo, perda da influência moral das religiões, etc. - o que muda é o nível de intensidade com o que ela ocorre. Se o sistema judiciário é menos tolerante a situação tende a ser menos grave. (Colaboraram Antonio Gorni, Nicholas Burmann e Carlos Roberto de Almeida).

2 comentários:

  1. quando a policia começar a prender os donos de ferro velho que compra esses material sem comprovar a origem e pedir pesadas fianças, o roubo acaba, como por magica...

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  2. Ola Ralph

    Nos anos 50 (eu ainda criança) meus tios que eram funcionários da E.F.S.comentavam sobre o
    roubo dos mancais de bronze dos vagões
    utilizando-se macacos como mencionado no "blog"

    Nos anos 60 quando morava em S.Caetano do Sul (próximo a estação ferroviária) cheguei a ver
    vários vagões de carga danificados por esta
    atividade) .....

    Vandalismo existe em qualque lugar do planeta
    só que na "terrinha" é demais e com um monte de
    leis brandas ... acaba não acontecendo nada com
    os meliantes ( incluir ai os políticos)....

    Daniel Gentili

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