segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A PONTE DO JAGUARÉ E UM POUCO DE SUA HISTÓRIA


A ponte entregue em novembro de 1938 (Folha da Manhã)

Como praticamente todos os dias acontece, passo pela manhã ao lado da Ponte do Jaguaré, no rio Pinheiros. Eu, no caso, estou vindo pela Marginal Esquerda, ou avenida Engenheiro Billings, como ela se chama naquele local, e passo debaixo das duas pontes "novas" - construídas entre 1972 e 1974 - e tendo ao meu lado esquerdo as ruínas da ponte velha do Jaguaré, que ficam exatamente entre as duas pontes mais novas.

É uma ponte já em concreto e em arco, construída em 1938, quando o rio estava terminando de ser retificado em seu primeiro trecho, desde a foz no Tietê até exatamente onde foi construída a ponte, que, em novembro desse ano já estava pronta, mas não podia ser utilizada, pois a avenida que lhe dava acesso (a avenida Jaguaré) ainda não estava construída.

Em 1930, antes da canalização do rio Pinheiros, o círculo mostra onde seria oito anos mais tarde entregue a ponte. À esquerda, no canto inferior, a Vila Lageado e a Estrada de Itu (Sara Brasil)

A ponte, com largura suficiente para a época, teve sua construção iniciada em novembro de 1937 pela Sociedade Imobiliária Jaguaré, que detinha os direitos de loteamento do bairro, que, aterrado e com o rio retificado, deixava de ser um pântano. A prefeitura entrou com um auxílio de 500 mil réis. Possuía, na verdade, três arcos, sendo o maior o vão central com 50 metros - o único que ainda subsiste hoje - e dois menores, dois vãos laterais de 20 metros cada um, um de cada lado do rio e que deveriam ficar sobre as avenidas marginais "que ali estão sendo abertas".

Tinha também dois encontros de 12 metros cada um, que, juntamente com os arcos, totalizavam 114 metros de extensão total da ponte, com 12 de largura. Sua grande vantagem, na época, era alardeada como sendo facilitar o acesso à cidade "para quem viesse de Itu se dirigisse a Campinas e vice-versa".

Anos 1940: a ponte com seus três arcos e o rio Pinheiros canalizado somente até ela. À esquerda, onde hoje é o parque industrial do Jaguaré e zona também de favelas e conjuntos habitacionais

A avenida projetada e ainda não construída em fins de 1938 seria, como já dito, a atual avenida Jaguaré e também sua continuação, a Queiroz Filho. Começava na Estrada de Itu (hoje Corifeu de Azevedo Marques), "pouco depois de onde acabava o asfalto", ou seja, na confluência desta com o córrego do Jaguaré (este hoje canalizado sob a avenida Escola Politécnica) e seguiria até a rua Colle Latino, na Lapa - atual rua Cerro Corá.
Em 1969, o CEASA já existia e a ponte pode ser vista à esquerda, quase no canto

A ponte funcionou ininterruptamente depois da abertura da avenida Jaguaré, algum tempo depois, até o início do ano de 1972, quando foi interditada para a construção das duas pontes atuais, uma de cada lado da ponte velha. Durante esse tempo - 2 anos - todo o trânsito que cruzava o rio tinha de fazê-lo pela ponte da Cidade Universitária, congestionando bem esta região. Disso lembro-me bem: nessa época, eu estudava na Cidade Universitária e tinha de cruzar esta ponte todos os dias. O trânsito sobre ela e em seus acessos piorou muito, da noite para o dia.
Em 2007, as três pontes vista de cima: no centro, a velha ponte, quase uma floresta sobre o concreto dos anos 1930 (O Estado de S. Paulo)
O vão central da ponte do Jaguaré foi deixado ali: talvez o custo para demoli-lo fosse alto demais. Já os dois arcos menores foram-no logo no início da construção das novas pontes, pois eles atrapalhavam as novas pistas que seriam erigidas. Acabou a velha ponte ficando como uma espécie de monumento, infelizmente mal cuidado, com muito mato crescendo em suas cabeceiras. Quando se cruza ali o rio, no vão central emergem do nada os dois arcos de 50 metros da ponte original do Jaguaré.

17 comentários:

  1. Subi nessa velha ponte no primeiro semestre desse ano. Experiência emocionante entrar na "pequena floresta". Obrigado por contar essa história.

    ResponderExcluir
  2. Ralph, eu nasci no Jaguaré em 1957 e pude viver e acompanhar o crescimento do bairro. Lembro-me muito bem da ponte antiga, que atravessei inúmeras vezes - de ônibus, carro, a pé e de bicicleta! Vivenciei também a construção da ponte nova, obra que causava monstruosos congestionamentos. Bom lembrar... rever as imagens nessas fotos antigas... e saber que alguém se preocupa em preservar tudo isso. Obrigado, de verdade!

    ResponderExcluir
  3. Bacana o seu artigo! Obrigada por postar e pelas fotos!

    Estou fazendo (concluindo) um doutorado sobre a revitalização de paisagens fluviais urbanas no qual eu estudo projetos em cidades européias e apresento princípios de desenho para a revitalização do Rio (Canal) Pinheiros em São Paulo baseados na transformação do canal num eixo multifuncional de infra-estrutura para a cidade (eu defino a palavra infra-estrutura num sentido mais amplo que o tradicional).

    Essa ponte é um dos elementos discutidos na tese. Ela tem um caráter único na paisagem do Pinheiros. O verde que se desenvolveu em cima dela tem um efeito interessante de jardim suspenso, que não se repete em nenhum outro ponto do Pinheiros. Dá até para ver alguma familiaridade com o badalado projeto do "Highline" de Nova York, principalmente antes da intervenção. :)

    A meu ver, a ponte tem um grande potencial para compor um esquema de revitalização do rio. Se as estruturas fossem devidamente reforçadas e o acesso seguro, poderia ser aberta para visitação. Considerando o conceito de multifuncionalidade, a ponte certamente teria não só um impacto como área de lazer, mas também como um "jardim de chuva" (o que já ocorre hoje, pois a ponte segura parte das águas pluviais, aliviando o sistema tradicional de drenagem). Além disso o ar lá em cima deve ser melhor do que embaixo, devido à vegetação, que contribui para um microclima.

    Se algum dia tentarem demolir essa ponte, eu serei uma das primeiras a me opor. :) Muito pelo contrário, eu acho que é preciso investir nela.

    Aqui uma foto do "Highline" para aguçar a imaginação!
    http://www.nypost.com/rw/nypost/2011/06/18/postscript/web_photos/highline--300x300.jpg

    Abraço,

    Daniela Rizzi

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito legal. Mas a ponte estando escondida reduz muito o seu potencial. Claro que está fora dos planos a demolição das outras...

      Excluir
    2. E eu gostaria de ver sua tese quando pronta.

      Excluir
  4. Ralph, parabéns pelo seu brilhante trabalho de documentar sobre nossas ferrovias e seus entornos.

    Gostaria de sua autorização, se possível, para utilizar esta postagem sobre a Ponte do Jaguaré, bem como a postagem sobre os Desvios de Presidente Altino, com meus alunos da quarta série, pois moramos e estudamos sobre nosso bairro, Jaguaré (inclusive perto da ponte e ao lado de um desses desvios, hoje não mais utilizados).

    Grato pela atenção.
    João César.

    ResponderExcluir
  5. Respostas
    1. Obrigado pela atenção e por permitir o uso. Depois te deixo informado da repercussão junto aos alunos. Abraços.

      Excluir
  6. Saudosistas que me perdoem, mas toda vez que passo sob a ponte do Jaguaré me pergunto: - "porque não demoliram esses arcos? "Porque não o fazem hoje? Acho horrível, mesmo que restaurassem, continuaria assim, uma ruína de péssimo gosto.

    ResponderExcluir
  7. Boa noite!

    Estou cursando eng. civil e preciso fazer um projeto sobre pontes, alguém pode me dizer como foi construída (materiais).

    Agradeço desde já.

    ResponderExcluir
  8. Ralph,

    Sempre me perguntei sobre aquela ponte antiga, pois passo ao lado dela toda semana. Claro, o seu post foi o texto mais bem explicado que encontrei na Internet.

    Uma coisa não entendi: você disse ao longo do texto duas vezes que os arcos menores haviam sido demolidos. Mas, naquela foto em seu post de 2007, e em outras fotos atuais na web, é possível ver os arcos menores lá. Veja:

    http://arvoresdesaopaulo.files.wordpress.com/2010/10/vegetacao-na-ponte-do-jaguare-sao-paulo-longe-foto-de-ricardo-cardim-direitos-reservados.jpg

    Ou eu que estou fazendo confusão?

    Abraço!

    ResponderExcluir
  9. Sim, estão lá Distração de minha parte. Ms que eu me lembre, são os arcos de um lado só que ficaram. Os do outro lado foram demolidos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ralph, ainda há outra ponte de arcos abandonada na Marginal Pinheiros. É a ponte velha do Morumbi. Está ao lado da nova, e antes de construírem a novíssima, que sai na av. Roque Petroni, ela era usada como retorno. Agora está sem as cabeceiras. Melhor sorte tiveram as pontes de arco da João Dias e da avenida Interlagos que estão em pleno funcionamento. Há ainda 2 pontes de arcos que são usadas apenas para suportar adutoras, uma ao lado da ponte da Cidade Universitária e a outra ao lado da ponte do Socorro.

      Excluir
  10. Ralph, há uma bela aerofoto de 1940 da região do ceagesp:
    http://www.arquiamigos.org.br/info/info38/index.html

    ResponderExcluir
  11. Ola Ralph, moro no Jaguare e gostaria de fazer uma exposição de fotos antigas do bairro, aqui no meu condomínio. Você saberia me dizer onde posso conseguir material? Obrigada e parabéns pela sua matéria.

    ResponderExcluir
  12. Olá Ralph ...
    Adorei seu relato...
    Sou nascida e criada na região da Vila Hamburguesa. E alguns parentes morando no Jaguaré e Butantã ...
    Sou de 1961 e, portanto, usei muito aquela ponte.
    Mas tenho uma curiosidade.
    No regime militar meu pai vivenciou um ato em q os chamados terroristas tentaram explodir esta ponte.
    Meu pai foi o primeiro carro parado por eles. Alguém conseguiu avisar o pessoal do exército (unidade q ficava ali perto) e houve o confronto com pessoas feridas etc.
    A bomba falhou mas estava lá instalada e conforme foi apurado.
    Meu pai já faleceu e eu tento achar registros deste caso. Vc tem alguma informação qto a este episódio?
    Obrigada e parabéns pelas informações!

    ResponderExcluir