sábado, 19 de novembro de 2011

AS GUERRAS INEVITÁVEIS E O PUXASSAQUISMO

Teatro de guerra: cerca de dois meses após a publicação deste mapa na Folha da Manhã em 1939, Dantzig e a Polônia seriam invadidas dando início à Segunda Guerra Mundial

Buscando dados sobre alguns assuntos nos jornais do ano de 1939, é inevitável notar-se dois assuntos nesta época: primeiro, a situação às vésperas da eclosão da Segunda Guerra Mundial e, segundo, o puxassaquismo desvairado dos políticos brasileiros da época.

Comentando alguma coisa sobre as duas situações citadas, devo dizer que a impressão que me dá é que nessa época ainda reinava uma mentalidade meio "século XIX", ou seja, a guerra em si era um assunto corriqueiro para os jornais e para a população em geral. A eclosão de uma guerra na Europa era prevista em diversas edições do jornal (no caso, a Folha da Manhã, atual Folha de S. Paulo) como se fosse alguma coisa mais ou menos normal - uma guerra a mais, apenas.

Durante o ano de 1939 e antes da eclosão da guerra (início de setembro), a Alemanha (Chamada quase sempre de "Reich") invadindo a Áustria, a Boêmia e a Morávia e depois a Eslováquia parecia algo que, bom, não deveria acontecer, mas mesmo assim, era algo como "o desenrolar da história do mundo". Inglaterra, Estados Unidos e Fanaça reclamavam, mas nada faziam, a não ser torcer o nariz. E é bom lembrar que, paralelamente a estes fatos, a Espanha estava em Guerra Civil, a Itália invadia a Etiópia (Abissínia) e depois a Albânia, a Hungria invadia a Polônia e a Ucrânia, a Rússia ameaçava os três países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), enquanto que, no Extremo Oriente, o Japão já havia invadido a China e continuava avançando, depois de ter anexado território considerável desta. A Palestina estava praticamente em guerra civil. A Turquia anexava um pequeno pedaço da Síria, e tudo parecia normal, afinal, não havia sido sempre assim?

Deu no que deu. Realmente, depois da Segunda Guerra Mundial, não houve mais guerras em larga escala e ao mesmo tempo. Continuou havendo guerras, mas em pontos isolados na maioria das vezes em países de populações menos desenvolvidas (como se o pensamento fosse "que bárbaros, ainda fazem guerra!). Sempre lembrando que em alguns casos uma das nações metia o nariz onde não devia, mas "longe de casa" (caso dos EUA no Vietnã, Iraque e outros, e a União Soviética nos países do leste europeu).

Hoje em dia, uma guerra em escala mundial como o foi a Segunda Guerra seria catastrófica - não que esta não o tenha sido, mas seria pior. Muito pior. Milhões morreriam novamente, mas como a infraestrutura mundial é globalizada - fábricas do mundo todo usam matérias-primas do mundo todo, e mais a Internet, que é uma espécie de "rede" global - o mundo pararia. Notem bem: o Brasil, país longe de ter a situação que tem hoje, durante a guerra de 1939-45 foi levando sua vida, com dificuldades, mas levando - hoje, tudo pararia.

E é aqui que se toma o gancho para o puxassaquismo reinante em 1939 (e não somente em 1939). Por que cargas d'água um jornal paulista puxava tanto o saco do presidente Vargas e, principalmente, de Adhemar de Barros, que era o interventor do Estado nessa época? Não estou aqui julgando se eles foram ótimos, médios ou péssimos administradores. O que digo é - esse jornal seria obrigado a fazer tudo isso? No caso de Adhemar, por exemplo, o sujeito era manchete praticamente todos os dias. Qualquer visita dele a uma instituição, por mais simplória que fosse, merecia uma grande reportagem, inclusive fotográfica (fotos eram raras nos jornais de então), com enormes declarações de amor do jornal ao político e deste à instituição e ao povo em geral... não acredito que os leitores de então fossem mais ingênuos que os de hoje e acreditassem em tudo isso... sem contar o fato que Adhemar tomou posse como interventor em abril de 1938 e que anteriormente era um político obscuro. Foi tão pouco tempo assim para ele se tornar uma sumidade? Seria ele tão competente assim em pouco mais de um ano de governo?

Enfim, são diferenças grandes entre uma época e outra. Quem lia o jornal e nele acreditava lia que a Europa era um palco de guerras e o Brasil, uma maravilha.

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