As bases do pontilhão que existia sobre a rodovia que leva à cidade de Garça nesta foto de 2006 (acima), tendo como autor Eduardo Dantas. não existe mais. Foram demolidos em 2006 para a duplicação da rodovia que passa sob a mesma.
A ponte, quando inteira, era ferroviária. A linha que passava ali era a linha-tronco Oeste, da Cia, Paulista, que ligava Itirapina a Panorama, no rio Paraná, passando por cidades como Brotas, Jaú, Bauru, Marília e Tupã. Essa linha foi construída em bitola métrica até Jaú ainda pela Estrada de Ferro Rioclarense, a partir de 1886 e chegando em 1903 à cidade de Piratininga, que, na época, chamava-se Santa Cruz dos Enforcados, nome tristonho que foi substituído na sua inauguração por sugestão de um diretor da Paulista e também historiador, Adolfo Pinto.
Somente em 1922 retomaram-se as obras para prosseguir a linha para além, O "além", o oeste paulista, era o famoso "território desconhecido e povoado por índios", citado em tantos mapas por aí, até aquela época. O faroeste. Terra sem lei, quando havia alguma alma viva. Existia pouca coisa por lá, tanto que o nome das estações poderia ser, literalmente, qualquer um. Estabeleceu-se uma regra: o abecedário. De A (América, aberta em 1924, depois mudado para Alba) a U (Universo, aberta em 1947) e algumas exceções pelo meio, a linha, chamada na época por "ramal de Jaú" e por outros por "ramal de Agudos", dependendo do trecho mais velho ou mais novo, a partir de 1941 passou a ser eletrificada e a ter a bitola alargada para 1,60 metros.
Em 1962, quando atingiu Panorama, a linha estava toda ela já em bitola larga e eletrificada somente até Cabrália Paulista. Ficou nisso.
O pontilhão foi construído por volta de 1966 para substituir uma passagem em nível sobre a rodovia SP-294. Como muitas vezes acontece, dinheiro jogado no lixo: já se projetava a variante que uniria Bauru a Garça pelo norte da Serra das Esmeraldas e encurtaria bastante a distância entre Bauru e Garças, mas passando por uma região bastante deserta, onde se construíram três barracos como estações em pontos desertos - a linha nova toda passava por um local ermo. Em 1976 foi entregue e a linha velha, desativada. Os trilhos foram arrancados logo depois.
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Você
ia flutuando no Pullman Standard, num mar de cafezais, de repente
"voava" sobre a rodovia. Fantástico." (Antonio Gorni)
O pontilhão, que teve um custo, serviu apenas por dez anos. Pequenino, é também um pequeno exemplo da falta de planejamento no país, que vem de há muito, talvez desde Cabral.
A FEPASA, que operava as ferrovias em 1976, poderia ter mantido a velha linha para atender a cidade, pequenas cargas, trens de passageiros que poderiam fazer o trecho Bauru a Marília. Ou somente Bauru a Garça. Das estações - Piratininga, Alba, Brasilia, Cabralia, Duartina, Esmeralda, Fernão (ex-Fernão Dias), Galia e Garça, ficavam em cidades bem pequenas. Até hoje as são. A região não cresceu. Apenas Garça atingiu cerca de 25 mil habitantes, hoje. Das outras, somente Duartina passou de 12 mil. Cabralia, Piratininga, Fernão Dias e Galia não chegaram a 8 mil habitantes. Fernão Dias tem apenas 1.600 habitantes; Alba, Brasilia e Esmeralda nunca passaram de pequenos bairros rurais.
Um trem de passageiros ali daria lucro| Provavelmente não, nem se se incluísse pequenas cargas. Porém, ajudaria a economia da região, que, como pode ser visto, desenvolveu-se muito pouco depois do boom do café, que por ali começou em 1920 e em 1970 já estava praticamente extinto. Quase que certamente, o desaparecimento da ferrovia naquele "U" ao sul da serra das Esmeraldas ajudou a decadência de cidades que não eram grandes. Bauru e Marilia "chuparam" todo o progresso para elas e a região é hoje apenas um pequeno amontoado de cidades tranquilas com economia baseada na agricultura apenas.
A linha tinha pouco mais de 90 quilômetros e as locomotivas paravam em Cabrália, grande atração do caminho, para troca de locomotivas - de elétricas para diesel e vice-versa. Cerca de 10 quilômetros entre cada estação. Quem usou esse trem e ainda está vivo, sempre diz: era um dos trechos mais bonitos e interessantes da extinta Companhia Paulista, uma verdadeira lenda. E pouco havia a construir - apenas manter. Infraestrutura jogada no lixo e que seria bastante útil para uma zona pobre.