A notícia publicada no último dia 21 de março na Campo Grande News (via site da Revista Ferroviária) é simplesmente uma vergonha. Transcrevo abaixo o primeiro parágrafo.
"A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) obrigou, por
meio de medida cautelar, que a Rumo ALL cumpra com as regras definidas em
contrato e atenda a Arcelor Mittal, com o transporte de 10 mil toneladas de aço
e outros 117 vagões carregados que estão parados nos trilhos."
Vejam os senhores que, de acordo com o site de notícias, a concessionária ferroviária que é responsável por operar as antigas linhas da Noroeste do Brasil e da Sorocabana, que ligam Corumbá ao porto de Santos, nega-se a cumprir um contrato de transporte de carga com a empresa-cliente, estabelecido há já cinco anos.
Quais serão os motivos? Se a notícia é verdadeira, haverá partes da linha danificados pelas chuvas, ou mesmo trechos com má ou nenhuma manutenção (a manutenção jamais foi o forte da ALL, recentemente comprada pela Rumo), que impediriam o livre trânsito dos cargueiros? Ou será que a concessionária acha que o valor do contrato não é mais viável, seja lá qual for o motivo?
Mais do texto do artigo:
"Na portaria publicada no Diário da União, a agência afirma que o transporte foi interrompido e estabelece prazo para que seja entregue ao destino. Ainda determina que o material seja levado dentro das condições e tarifas estabelecidas no contrato firmado entre a Arcelor Mittal e a Rumo ALL. De acordo com a publicação, 36 vagões carregados de aço estão parados em Bauru (SP), outros 70 vagões em Três Lagoas e mais 11 em Corumbá. Os três carregamentos de produtos siderúrgicos saíram de Bauru para Corumbá. A empresa tem 20 dias para fazer essa mercadoria chegar ao destino. A empresa também deve fazer o transporte de outras 10 mil toneladas de aço nos próximos 40 dias."
O artigo não expõe as razões da negativa de transporte por parte da Rumo. Porém, lendo a notícia dessa forma como está escrito, fica a impressão de que a medida tomada por esta é algo completamente normal.
Por outro lado, o Governo do Mato Grosso do Sul age como parte interessada na decisão, afirmando que a ferrovia está sendo desativada pela Rumo ALL e que, segundo o Secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Jaime Verruck, há, sim, cargas potenciais para a ferrovia, mas o que falta é investimento por parte da concessionária.
A empresa Arcelor Mittal afirma que não há transporte desde novembro de 2015 e o contrato está em vigor. A Rumo diz que ele acabou no último dia 28 de fevereiro.
Apesar disso, esta ainda tem dois contratos no Mato Grosso do Sul: com a Fibria (Três Lagoas a Santos, trajeto quase todo feito no Estado de São Paulo; Três Lagoas está na fronteira) e com a Vale , entre Corumbá e Porto Esperança (trecho no oeste sul-matogrossense).
Este país está uma vergonha. Tudo vai para a justiça, e mesmo as decisões ali tomadas acabam não sendo realizadas na prática.
Em Cuiabá, o VLT não avança porque a justiça impede. Em Teresina, no Piauí, o metrô cai ao pedaços e o governo do Estado pede dinheiro para reformá-lo, sem saber quando - e se - o vai conseguir. Em Poços de Caldas, um monotrilho de poucos quilômetros que deixou de operar em 2002 e desde então não recebeu qualquer manutenção, agora vai, por ação da Justiça, ter de ser reformado. A concessionária e a Prefeitura tiram o corpo fora e discutem a decisão.
A Transnordestina não avança nas obras e agora quer mais dinheiro, muito mais do que o contrato inicial previa. As obras dos elevados de São Paulo (dois monotrilhos, Morumbi-Congonhas e Vila Prudente-Oratório e uma linha férrea, Penha-Aeroporo de Guarulhos) estão praticamente paradas pelos mais variados motivos.
A cada dia que passa, tenho mais vergonha deste país. País que, aliás, an passant, não tem governo.
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