sábado, 17 de maio de 2014
O MENINO QUE IA À ESCOLA DE TREM
Foto Alexandre Giesbrecht - 16/5/2014
Willi gannhou seu apelido do que restou de sua família alemã. Ele se chama Guilherme, nome bastante comum na família Giesbrecht brasileira que descende do tataravô dele, que tinha o mesmo nome na versão alemã - Wilhelm Giesbrecht.
O Guilherme original chegou ao Brasil em 1885 e trabalhou durante pelo menos cinquenta anos como engenheiro ferroviário em diversas estradas de ferro brasileiras, em Minas, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Bahia e Mato Grosso. O seu filho mais velho, Hugo, trisavô de Willi, foi também engenheiro ferroviário na E. F. São Paulo-Rio Grande, em Ponta Grossa. Lá era chefe das oficinas.
Ernesto, filho mais velho de Hugo, nasceu na estação de Oficinas, ele bisavô de Willi. Eu, filho mais velho de Ernesto, nasci em São Paulo e tornei-me nos últimos anos um dos maiores pesquisadores da história ferroviária brasileira. Willi é meu neto e é o filho mais velho - o único, pelo menos por enquanto - de Alexandre, que gosta bastante do assunto e incentiva seu filho nas viagens de trem.
Trens, como já descobriu quem lê meus artigos, são raros no Brasil. Willi conhece os da CPTM e os do metrô. Já andou muito neles e gosta de fazê-lo. Como ele mora perto das estações do metrô, na Bela Vista paulistana, seu pai o leva para a escola algumas vezes, geralmente às sextas-feiras, e também às vezes passeia com ele por outras linhas.
Para ir à escola, há baldeações a ser feitas. Willi não liga, gosta do movimento. Sempre está carregando sua malinha. Ele ainda tem apenas cinco anos e não viaja sozinho - ainda. Sempre está com seu pai.
A fotografia acima tirada ontem na estação da Luz, mostra Willi esperando ansiosamente pelo trem. Dali ele vai para a estação da Lapa. Poderia ir dali para Santos, ou Campinas, ou Araraquara, ou Barretos e outras cidades, nos velhos tempos. Não pode mais.
Ele ainda não sabe disso e não tem a menor ideia de onde ficam essas cidades, ainda. Para ele, andar de trem é andar não nos velhos carros de madeira, alguns com poltronas e muito luxo. Provavelmente, isso jamais acontecerá novamente no Brasil.
Mas ele espera o trem. Da mesma forma que milhares de crianças fizeram nos últimos cento e sessenta anos de ferrovia neste país. Muitas sem malas, sem acompanhantes, sem sapatos ou tênis. Descalças, mesmo, para a escolinha rural ou, como minha avó materna, de Porto Ferreira à Escola Normal de Pirassununga, nos anos 1910. Cada vez menos delas, no entanto, usam o trem, ou os bondes, pelo simples motivo que dos 38 mil quilômetros de linhas que se podiam usar até 55 anos atrás, hoje você tem apenas pouco mais de 2 mil quilômetros. Bondes, então, acabaram praticamente todos.
Willi é hoje uma das poucas crianças que sabem que existem trens no Brasil e que os usa. Com sua malinha de rodinas e sua ansiedade pela chegada do trem, ele é feliz.
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Muito bonito esse texto! Agora estou esperando um texto sobre as minhas jornadas diarias a espera dos trens Pistoia - Florença!
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