Mapa de 1916 da região da Villa America.
Enquanto a cidade era pequena, os motivos dos nomes das ruas existentes eram claros. Onde havia a quitanda, era a rua da Quitanda. Onde morava alguém importante, era o nome dele que prevalecia - rua do Manuel Carlos (hoje Florencio de Abreu). Se a rua levava para um local importante, igrejas, por exemplo, era como a rua de São Bento (para o mosteiro) e para outra igreja (de São Pedro - rua "direita"ou direta para ela). O Pátio do Colégio era a praça onde estava... o colégio dos jesuítas.
Mais longe, a estrada de Sorocaba, de Santo Amaro. A rua Tamanduateí dava no rio do mesmo nome. a rua da Consolação para a Igreja da Consolação. A estrada de São Miguel. A estrada do Rio de Janeiro. A estrada de Parnaíba (para a hoje Santana de Parnaíba, que tem diversos nomes hoje, inclusive avenida Mutinga).
Somente no final do século XIX começaram as homenagens a gente que na enorme maioria das vezes nada tinha a ver com a via. Poucas ruas nomeadas, pleo menos proporcionalmente, tiveram os nomes dados para homenagear gente da rua ou do bairro.
Uma das poucas exceções é o bairro do Jardim Paulistano (originalmente entre as atuais ruas Groenlândia, Rebouças, Faria Lima e Gabriel Monteiro da Silva). Muitos nomes nesse bairro são de gente a quem pertenciam as terras que deram origem ao bairro, ou mesmo moravam lá - basicamente, da família Rosa. Ruas Doutor Rosa (hoje Sampaio Vidal), Boaventura Rosa (trecho da Rebouças entre a Groenlandia e a Faria Lima), Maria Carolina, Mariana Correa, Prudente Correa, Marieta, dona Hipolita (hoje Gabriel Monteiro da Silva) e mesmo o nome de Gabriel, que era genro de Hipolita e morou na atual além da que leva seu nome.
Mas e o resto? Há casos interessantes, como o da Villa America. Originalmente, o bairro - que hoje se chama Cerqueira César - foi loteado na região entre a avenida Rebouças e avenida Paulista, vale do córrego da Varzea (onde hoje está a Nove de Julho, do túnel até o sim, na Cidade Jardim) e a rua Estados Unidos atual. Na verdade, ultrapassava o córrego da Varzea - onde não havia caminho algum - e chegava à Estrada de Santo Amaro (avenida Brigadeiro Luiz Antonio).
Com algumas reentrâncias no terreno para além da avenida Paulista, esse loteamento foi feito conjuntamente com a abertura da avenida Paulista em 1891. As ruas basicamente foram (isto é bastante claro) nomeadas com os nomes de cidades paulistas. Mas a questão é: que critério foi utilizado para escolher as cidades que as nomeariam?
Parece que foram escolhidas pelo critério que seria mais óbvio: a importância, tradição e riqueza das cidades da época. Só que, com certeza, o numero das cidades nestas condições era bem maiordo que o número de ruas existentes. E ainda sssim, já na virada do século XX, várias ruas já tinham o nome de pessoas (Padre João Manuel, Rocha Azevedo, Peixoto Gomide, por exemplo). Teriam elas tido nomes de cidades no início do loateamento?
Vamos analisar o nome de cada cidade que deu nome às ruas. Hoje, são quase todas alamedas, mas inicialmente em alguns mapas antigos apareciam como ruas: rua Santos, rua Rocha Azevedo, etc. Os nomes: alameda Ribeirão Preto - cidade que estava se tornando uma das mais ricas do Estado na época; trinta anos antes, era ainda um vilarejo nos confins da província. Rua (não alameda) São Carlos do Pinhal - enriqueceu muito com a chegada da ferrovia em 1884 e pertencia praticamente inteira ao Conde do Pinhal da familia Arruda Botelho.
Avenida Paulista - levou o nome dos habitantes e do qualificativo do Estado de São Paulo.
Descendo para o vale do rio Pinheiros: Santos - a segunda maior cidade do Estado, e tradicionalíssima por sempre ter tido um porto forte. Jaú - terra de muito café nesse tempo. Itu - terra tradicional, uma das cidades mais antigas do Estado e reduto dos republicanos. Franca - terra de muito café. Tietê - hoje decadente, era ainda uma cidade rica com café e açúcar (o trecho depois da Padre João Manuel até a Brigadeiro Luiz Antonio mudou o nome para José Maria Lisboa, provavelmente porque havia uma descontinuidade do leito dessa rua nesse ponto - até hoje). Lorena: na época, já decadente por causa do café que ia sumindo no Vale do Paraíba, mas que mantinha um povp de muita tradição, como cidade antiga. Finalmente, a alameda Iguape - no início dos anos 1930, teve o nome alterado para Oscar Freire, um médico da Faculdade de Medicina que faleceu naquela época.
Cruzando essas ruas no "tabuleiro de xadrez", pela ordem (sentido Rebouças-Brigadeiro), vemos que a maioria não têm, pelo menos hoje, nomes de cidades. Por que? Sae Deus. Como disse, talvez todas originalmente tenham-nos tido - mas isso é mera especulação de minha parte. Falarei somente das que o têm, mas antes falarei da Rocha Azevedo: eu encontrei um mapa d século XIX que a chamava de alameda Limeira. Mas não consigo encontrálo de novo. Limeira era, na época, uma cidade rica, com ferrovia e muita laranja - além de café. Depois: Casa Branca - hoje uma cidade decadentíssima, era na época entroncamento da Cia. Mogiana, com muitos depósitos de café que traziam riqueza para a cidade. Campinas - sempre foi uma cidade rica desde a fundação, mas curiosamente atravessava uma crise enorme por causa da febre amarela que grassava no interior paulista.
No meio dessas ruas estão ruas como Bela Cintra, Haddock Lobo e Augusta, eram da Pamplona - as duas primeiras consideradas ruas "chics"e as duas últimas ruas de intenso comércio mais popular. Não por coincidência, eram as únicas do loteamento (fora a avenida Paulista) que tinham linhas de bondes, o que favorecia o estabelecimento de casas comerciais que lá estão até hoje.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
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Caro Ralph: faltou falar da Batataes - escrita assim até hoje, e a minha Guarará (nome de cidade mineira), paralela à rua Caconde, também cidade Paulista e entre as duas últimas, uma nesga, estreita, pequena, quase uma servidão, chamada rua Haiti... Uma bagunça no tabuleiro do Jardim Paulista. Um abraço, Jorge Machado
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