domingo, 2 de fevereiro de 2014

MARILIA - O MUNICÍPIO em 1929

O Estado de S. Paulo, 4/4/1928.
O jornal O Estado de S. Paulo de 4 de abril de 1929 fala sobre a instalação do município de Marilia, a ser realizada naquele mesmo dia.

A estação havia sido inaugurada no dia 30 de dezembro anterior; dali para a frente, o que se chamava até então de Alto Cafezal passaria a ser o município de Marília, nome vindo do livro Marilia de Dirceu, de Thomaz Antonio Gonzaga, ideia de Bento de Abreu de Sampaio Vidal, político que tinha ficado rico negociando terras na região da E. F. Noroeste e da Alta Paulista.

A região era, como o era ainda boa parte do oeste paulista, meio que terra de ninguém; apenas os corredores da Noroeste do Brasil, ao norte da linha da Companhia Paulista, e da Sorocabana, ao sul, haviam sido povoados então. O resto estava ainda por vir.

As histórias que li sobre a expansão dessas linhas e do "tronco oeste" da Cia. Paulista foram muitas. Em algumas literaturas diz-se que o municipio havia se desmembrado de Cafelandia; em outras fontes, falam que o foi de Campos Novos. No jornal nada se falava sobre isso, mas o artigo cultuava os "novos bandeirantes" que iam seguidamente povoando o interior paulista. A região vinha sendo povoada, na verdade, desde o avanço dos primeiros bandeirantes no início do século XVII, mas muito lentamente, graças às péssimas comunicações e à resistência dos indígenas. Este artigo meu baseia-se bastante na reportagem desse dia.

A estação deveria se chamar Lácio, para seguir o famoso alfabeto da Paulista para dar nomes ás estações após Piratininga começando pela letra A.

E vieram as estações de América (depois Alba), Brasilia, Cabralia, Duartina, Esmeralda, Fernão Dias (hoje Fernão). Depois, Galia, Hesperia (nunca passou de uma parada com casas de turma), Incas (Garça), Java e Kentucky (Vera Cruz). Até Fernão Dias, as estações iam seguindo temas da história brasileira. Depois, a partir de Galia, já se preocupava apenas em seguir o alfabeto com nomes que agradassem aos acionistas. América mudou para Alba, sabe-se Deus por que. Duartina veio de Duarte da Costa, primeiro governador-geral do Brasil. Finalmente, a linha entre Piratininga e Garça foi toda arrancada em 1976 com a construção de uma variante bem mais curta ao norte da linha original.

Na letra L, seria a vez de Alto Cafezal. Escolheram Lacio e esse deveria ser o nome da estação de Marilia. Só que à última hora decidiu-se construir uma estação antes do Alto Cafezal e esta tomou o nome previsto. Agora, a nova estação teria de ser com M e saiu, como já dito, Marilia. Depois, pode-se ver no mapa previstas ainda as estações de Nipônia, Ormuz e Pompeia. Nipônia, quando instalada alguns anos depois, tomou o nome de Padre Nóbrega. (Nota: uma estação chamada de Nova Nipônia existia na linha da Noroeste desde 1910). Ormuz, de Oriente. O nome de Pompeia manteve-se e a estação foi aberta em 1935. Vejam, porém que em 1929, a cidade já deveria estar bem adiantada, mesmo sem a estação ainda construída e linha chegando até ela, pois foi agraciada como distrito de paz dentro do novo município de Marília. O município de Garça já existia.

No mapa de 1929, Vera Cruz era o nome de Kentucky. Ela, Lácio e Padre Nobrega ficaram dentro do municipio de Marilia. Hoje, Vera Cruz é município, bem como Oriente e Pompeia. Jafa ficou em Garça, onde permanece até hoje.

Enfim, histórias do povoamento de São Paulo. A linha da Paulista foi avançando não tão rapidamente assim. O alfabeto, com algumas falhas, acabou na estação de Universo, aberta em 1947.e pertencente ao município de Tupã até hoje. A linha não parou aí e as novas estações passaram a ter nomes aleatórios. A última, a terminal, foi aberta em 1962 com o nome de Panorama, cidade projetada desde 1950 para ser uma metrópole na divisa do Mato Grosso, no rio Paraná. Hoje é apenas um município pobre, decadente e sem trem algum desde 2000, com a linha abandonada.

9 comentários:

  1. Oi, Ralph. Aproveitando para falar de Marília, o antigo barracão que em épocas áureas servia como depósito de locomotivas já foi demolido há alguns meses. Mais um pedaço do passado que foi varrido do mapa, e parte do pátio da estação da cidade hoje foi tomado pelo prédio de um shoping popular...

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  2. Incrivel como se estragam as cidades derruband predios historicos e como se enfeia as cidades com "shoppings popiulares". O pa[is está se transformando em um favelão.

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  3. Para seu conhecimento, Ralph.
    http://www.memoriasdaferrovia.org/

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  4. Achei interessante saber de Duartina e toda região.
    Sou nascido na capital e registrado em Bauru, adoro essa região.

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  5. Boa tarde, Ralph. Meu pai viveu em Padre Nóbrega na infância e à época (décadas de 30 e 40) chegou a ser um entreposto comercial importante e uma cidade movimentada. Estive em Padre Nóbrega em 1998 buscando documentos para cidadania italiana e encontrei um vilarejo que vive à sombra de Marília. A igreja matriz onde meu pai ia com meu avós quando era menino ainda estava lá e meu pai ficou tocado ao ver a foto que eu tirei dela. Obrigado pelo texto. Muito interessante.

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  6. Ola, Ralph. Moro em Marilia, embora seja paulistana. Gosto muito desta cidade e achei muito bom o artigo q vc escreveu sobre ela. Vc tem razão sobre os shoppings populares... e tb sobre os pequenos municipios (alguns, ainda ou de novo, distritos de Marilia). abraços,





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  7. Ola Ralph, moro em Marilia, embora seja paulistana. Gostei muito do seu artigo e penso q vc tem razão quando se refere aos shoppings populares. abraços,

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  8. Emocionado em ler o artigo, nasci nessa linda cidade no dia 30 de maio de 1952, mas fui criado em Guarulhos, belo texto parabéns.

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