domingo, 8 de setembro de 2013

LAVÍNIA, ONDE A ESPERANÇA ERA MAIOR DO QUE O SEU MUNDO

Correio Paulistano, 7/8/1935
Não conheço a cidade ou qualquer perte do município de Lavínia, aqui no Estado de São Paulo. Jamais fui lá. O mais perto que cheguei de lá foram as cidades de Araçatuba e de Sud Mennucci, mesmo assim já faz mais de 16 anos.

Por isso, é sempre uma temeridade criticar ou elogiar uma cidade a quase 600 quilômetros da capital do Estado, da qual sei de sua existência mais pelo fato de um dia ter tido uma estação de trens ativa da Noroeste do Brasil - ela está no meu site de estações ferroviárias, da qual tirei muitas das imagens que usei neste artigo.
Lavínia em 1946
Se virmos a reportagem da inauguração da estação no distante ano de 1935, quando eu nem havia nascido e a região era ainda reduto de índios e bandoleiros, grileiros de terras etc., vemos a imaginação fértil que todo repórter gostava de fazer na época para cada cidade que visitava. Parte da reportagem está no título deste artigo, a reportagem inteira (do jornal Correio Paulistano) pode ser visto na página do meu site sobre Lavinia.

Mesmo pelo curto texto inicial acima, podemos ler que ela estava no "maior celeiro e reservas de madeira do Estado de S. Paulo". Ótimo para o corte de florestas inteiras para alimentar a caldeira das próprias locomotivas da Noroeste, construir suas estações e casas para empregados, utilizar como dormentes e transportar para a Capital Paulista para a construção da que viria a ser a maior cidade da América do Sul em poucas décadas.
Município de Lavínia, hoje.
Só que Lavínia não era a única. E as reações contra o desmatamento já existiam nessa época distante, embora não tão fortes como hoje. As cidades mais poróximas a São Paulo já dez anos depois eram desertos de árvores, típico exemplo da cidade onde moro hoje Santna de Parnaíba. Por aqui, hoje há matas novamente, mas virgens, nem a pau. Foi-se tudo naquela época com os cortadores de lenha que vendiam tudo na estação mais próxima para madeireiras e para combustível de locomotivas a vapor.

Com isso, todo aquele otimismo acabou gerando cidades e vilas que cresceram rapidamente, mas que hoje são cidades afastadas e decadentes com poucas fontes de rendas próprias. Não somente na linha da Noroeste, mas da Sorocabana, Paulista e E. F. Araraquara, as que chegaram até o rio Tietê.

A reportagem afirmava ainda que com a abertura da estação iniciar-se-ia uma fase de intenso desenvolvimento agrícola e industrial da região "mais fértil do Estado". Escoria as "safras prodigiosas" de arroz, café, algodão, fumo, milho e outros cereais, ao lado de madeira e gado. Afirmava ainda que o edifício da estação era de "grande proporção" - de fato, havia prédios menores de estações, mas a expressão "grandes proporções" não se justificava nesse caso, e um pátio "construído para receber as maiores composições, inclusive militares, com desvios de mais de 500 metros".
A cidade nos últimos anos (Skyscrapercity).

E continuava, dizendo que logo a variante atingiria Jupiá, com isso atravessaria o Paraná e estaria ligada à Argentina e Paraguai, etc e tal. Países todos que começavam a entrar, ou já estavam, em decadência naquela época. Muito blá-blá-blá para pouco futuro, como provou o próprio futuro.
A estação decadente em 2004. Foto Sebastião Nunes
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Hoje é uma cidade pequena com menos de nove mil habitantes. Deve viver de agricultura e criação de gado, com provavelmente poucas indústrias e pequenas. Não tenho estes dados. Mas sua população, como praticamente todas as cidades brasileiras hoje, concentra-se principalmente na área urbana.

A reportagem foi, sem maldade, um engodo.

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