sábado, 14 de setembro de 2013

CONCESSIONÁRIAS NO BRASIL SERVEM PARA ACABAR COM AS FERROVIAS - PARTE II: ALÉM-PARAÍBA, MG

30/9/2012 - Além Paraíba, MG

Eu ia escrever o meu próprio comentário sobre a notícia que me soa completamente absurda, mais ainda do que o se pretende fazer em Santa Barbara do Oeste, com o ramal de Piracicaba, em São Paulo, e que comentei há alguns dias.

Aqui o trecho é maior e poderia ser a solução para o transporte coletivo entre as cidades de Cataguases e Três Rios, nos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, passando por cidades pequenas e vilarejos que não têm transporte decente.

Trata-se da retirada de tráfego do único trem cargueiro que faz o percurso carregando bauxita entre os municípios de Cataguases, MG, e Paraíba do Sul, RJ, baldeando aí para a bitola larga da MRS e seguindo até Alumínio, SP, região de Sorocaba.

Ao contrário do que cita a reportagem - cuja fonte exata não sei, mas foi-me enviada pelo site fluminense Trilhos do Rio - os habitantes de Além Paraíba não se importam com o trem cruzando as tuas (de Recreio e Cataguases tembém não), conforme pude eu mesmo presenciar um ano atrás, quando estive nessa região e percorri praticamente todo esse percurso de bitola métrica ex-Leopoldina e ex-Central do Brasil. Um trecho que, hoje, tem cerca de 140 anos de funcionamento ininterrupto.

Resolvi, no entanto, transcrever a reportagem como me foi mandada, fazendo comentários sobre seu texto. Aliás, já fiz. E falta um: a FCA, que é a  concessionária desde 1998, não diz como essa carga vai ser transportada - mas não é difícil acreditar que isso vai passar a ser feito por caminhões. Caminhões que vão atravancar mais ainda os montes de curvas da BR-116 entre Além Paraíba e Leopoldina e também a BR-393 entre Três Rios e Além Paraíba.

Dizem que Sapucaia ficará contente pois poderá alargar a BR-393 - Ora, e encher de lombadas, pois ali o trecho é urbano e caótico já com o atual fluxo de caminhões, ônibus e automóveis.

Mais grave: querem arrancar imediatamente os trilhos, sem pensar em usá-los para transporte coletivo com trens decentes. Só pensam em trenzinhos turísticos tipo "maria-fumaça" - para que? O fato de a linha atual atravessar diversas áreas urbanas e vilarejos servidos apenas com estradas de terr poeirentas não merece a linha sendo aproveitada por trens metropolitanos elétricos ou VLTs - Veículos Leves sobre Trilhos?

Finalmente, o volume gasto para construção da nova ponte em Anta, citada na reportagem como se fosse algo normal.

Parece que pelo menos na área de transportes existem somente imbecis e vigarisstas neste país. Segue a reportagem:

"A Ferrovia Centro-Atlântica S.A. (FCA), confirmou a desativação do trecho entre Três Rios e Cataguases. Engenheiros da empresa estiveram em Além Paraíba nesta quarta-feira, em reunião com o prefeito Fernando Lúcio (PSB), ratificando a informação.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) já tinha autorizado a concessionária Ferrovia Centro-Atlântica S.A. (FCA) a desativar e a devolver ao Poder Público trechos ferroviários que explorava nos Estados da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Sergipe. A decisão, que está em resolução, foi publicada no Diário Oficial da União do dia 05 de julho, abrange tanto trechos considerados "antieconômicos" quanto trechos economicamente viáveis.


O trecho da região é viável, pois o trem transporta a bauxita. Mas a passagem dessa carga pelas cidades de Além Paraíba, Sapucaia e Três Rios são bastante discutidos pela população.
A saída do trem está sendo bastante comentada em Além Paraíba, cidade que se desenvolveu através da ferrovia, tendo inclusive diversas construções históricas, como os torreões e as diversas estações. As autoridades municipais discutiram com os engenheiros a situação, pois com a desativação, os trilhos deverão ser retirados da cidade. O prefeito queria que se mantivessem os mesmos, para que o trem pudesse trafegar de forma turística, indo até a estação de Simplício, que foi reformada. Até o tombamento da ferrovia foi discutido na reunião.


A ANTT determinou ainda que a desativação dos trechos deverá atender um cronograma aprovado pelo órgão para interrupção do atendimento aos usuários e que a FCA fará a retirada dos materiais não passíveis de reaproveitamento, responsabilizando-se pela sua guarda pelo período de um ano, ou até que o Departamento Nacional de Infraestrutruta de Transportes (DNIT) promova sua devida destinação. A concessionária também deve retirar o material metálico dos trechos a serem devolvidos, em montante correspondente a 1.760 km de via férrea, comprometendo-se a efetivar seu reaproveitamento nos segmentos remanescentes da Malha Centro-Leste.


Outras cidades já estão se movimentando para que o material retirado da região possa ser reaproveitado, como é o caso da cidade do Rio de Janeiro, que já está solicitando os trilhos que vierem a ser retirados.
Em 2010, por conta do empreendimento da Usina de Simplício, Furnas fez a realocação de um trecho de 5,2 km da FCA, no município de Chiador, que era o mais complexo da obra, com a construção de três pontes que passam sobre os rios Macuco e Paraíba do Sul e um dos canais do complexo hidrelétrico, além de ter feito alteração de mais dois trechos da FCA, que somaram quase 1km. O investimento da Eletrobras Furnas no projeto foi de aproximadamente R$ 100 milhões, que agora pode deixar de ser usado.


Em Sapucaia, a desativação faria com que a Rua Perciliana Rita de Jesus pudesse ser aumentada, o que agrada aos moradores."

Um comentário:

  1. Ralph, semana passada vieram comentários por parte de um maquinista da FCA que internamente, já foi feita uma reunião dizendo que a linha da bauxita e a linha do ES não vão ser desativadas e que em breve deve sair uma alteração desse documento da ANTT para oficializar.

    É aguardar para ver.

    Eu como Cruzeirense (e nem preciso entrar em detalhes sobre o que a cidade tem feito) fico feliz em ver que tem cidades ainda com a ideia de ao menos manter os trilhos para fins turísticos e até discutem tombamento, enquanto outras, preferem enterrar.

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