sábado, 9 de março de 2013

A PRIMEIRA FERROVIA DO PAÍS, MORIBUNDA - E QUEM SE IMPORTA?


No último dia 7 de março, o Diário de Petrópolis publicou a seguinte notícia:

"MPF denuncia ex-prefeita de Magé por aterrar parte da primeira ferrovia do país

Rio de Janeiro - O Ministério Público Federal (MPF) de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, ofereceu denúncia contra a ex-prefeita de Magé, Núbia Cozzolino, e o então secretário de Manutenção Pública do município, Paulo Afonso Abreu de Oliveira, por dano ao patrimônio cultural.

Em 2009, os dois autorizaram obras no distrito de Piabetá que aterraram parte dos trilhos da Estrada de Ferro Mauá, bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Inaugurada em 1854 pelo imperador dom Pedro II, a ferrovia foi a primeira do país.

De acordo com a denúncia do procurador da República Lauro Coelho Junior, encaminhada à 1ª Vara da Justiça Federal de Magé, a infração foi constatada pelo Iphan em fiscalização feita em 14 de julho de 2009. Na ocasião, as obras foram embargadas e o município de Magé multado. Embora o Iphan tenha determinado a recomposição do trecho aterrado, a prefeitura de Magé não paralisou as obras.

No dia 27 do mesmo mês, o Iphan fez nova fiscalização, em conjunto com o Ibama e a Polícia Federal, verificando que os trilhos permaneciam aterrados para posterior pavimentação da área. Presente no local, o ex-secretário Paulo Afonso de Oliveira confirmou a intenção de construir no local um terminal de vans e um acesso direto ao centro de Piabetá.

Para o MPF, os denunciados desrespeitaram a legislação que protege os bens tombados e persistiram no dano mesmo após o embargo imposto pelo Iphan. Na denúncia, o MPF propõe a Paulo Afonso de Oliveira a suspensão condicional do processo, uma vez que a pena mínima prevista para o crime é de um ano. O mesmo benefício foi concedido a Núbia Cozzolino, contra a qual tramitam diversos processos judiciais. 

Membro de uma família que dominou por décadas a política em Magé, Núbia Cozzolino foi deputada estadual e prefeita do município por dois mandatos, a partir de 2004. Com uma gestão marcada por denúncias de corrupção e processos, ela foi afastada do cargo pelo Tribunal de Justiça em setembro de 2009. Núbia teve o mandato cassado e os direitos políticos suspensos por cinco anos.

Quase quatro anos depois do dano à Estrada de Ferro Mauá, o Iphan tem hoje uma relação completamente diferente com a prefeitura de Magé, no que se refere à preservação do patrimônio cultural. Segundo informou à Agência Brasil a assessoria de comunicação do órgão, no último dia 28 representantes do Iphan se reuniram com o atual prefeito, Nestor Vidal.

Do encontro resultou a assinatura de um termo de cooperação técnica entre a prefeitura, o Iphan e a Secretaria do Patrimônio da União (SPU), prevendo a recomposição do trecho aterrado e a revitalização de toda a linha e do museu que conta a história da ferrovia histórica."

Meu Deus do Céu, neste país se faz mesmo o que se quer. E apesar da tal Nubia ter perdido o mandato (se é que perdeu mesmo, pode ter recorrido e ficado com ele), o que é que ela realmente sofreu? Nada, pois nem foi para a cadeia (se bem que mante-la na cadeia nem resolve, o que resolveria seria arrancar os bens dela até a última gota de forma que pagasse todos os prejuizos e tivesse de morar debaixo da ponte).

Bom, assombros meus à parte, volta o problema: de que adianta manter a linha e a estação se não há policiamento? Esta linha vai continuar sendo roubada e a estação vai continuar sendo depredada (já perdi a conta de quantas vezes ela foi "reinaugurada". O lugar, embora eu nunca o tenha visitado, parece ermo o suficiente para permitir que as hordas de ignorantes e pobres sem esperança (este é o grande problema deste país, a falta de esperança, perigo potencial enorme e que ninguém do governo pareceu até hoje com ele se importar).

Qual a solução para isto? A solução seria um trem de linha, não turístico, para servir à população da área, rodando constantemente pela linha e diminuindo a possibilidade de ataques ao seu patrimônio. Um trem de linha que jamais deveria ter sido retirado em 1962 justamente por atender um local tão carente.Um trem turístico, que faz viagens apenas em finais de semana, não seria suficiente para conter o vandalismo.

Para finalizar: será que nós, defensores de ferrovias e por tabela da memória nacional, estamos corretos em teimar em manter locais "sagrados" como este e outros mais? Afinal de contas, parece-me que somos uma minoria tão pequena que não percebemos que a grande maioria pouco se importa com essas coisas e cuja opinião em boa parte das vezes é "eu quero que a ferrovia, que a memória, que essas velharias, que essas porcarias se lixem". Por fim, podem acabar com tudo!". Parece-me, realmente, que os errados somos nós. 

Agradecimentos a Antonio Pastori.

7 comentários:

  1. Vamos apagar nosso passado... Nossa história... Vamos apagar tudo... O importante é fazer politicagem barata, só isso...

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  2. Faça a prefeita mandar desaterrar ora vejam Só, fora de questão.......


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  3. Há um projeto de retorno do trem em andamento. Vamos ver se irá adiante, agora que os Cozzolino foram definitivamente expulsos. O lugar nem é tão ermo, falta mesmo é conscientização.

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  4. E a Estrada de Ferro São Paulo Minas? Dezenas e dezenas de quilômetros de trilhos foram simplesmente furtados depois que a FEPASA deixou de existir e a concessão passou para a iniciativa privada que não mais tinha interesse em manter funcionando ( nem para transporte de cargas ) na linha que ligava Ribeirão Preto e São Sebastião do Paraíso. Que absurdo!!!! Gostaria de entender o seguinte: E quando terminar a concessão? Vão devolver para o patrimônio da União ( eis que os bens da Fepasa passaram para a Rede Ferroviária Federal ) a linha que foi entregue em pleno funcionamento para a iniciativa privada? Claro que não!!!

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  5. É Ralph,
    Quando eu era criança e passava de trem pela estação de Bongaba (que funcionava) indo pra cachoeira em Guapimirim, meu pai sempre falava, "...essa é a primeira ferrovia do Brasil...", eu achava aquilo estranho, trilhos no meio do mato rs. Eram o fim dos anos 70, depois tive a oportunidade de ir a Mauá e Piabetá (Bairros por onde passam os trilhos da ferrovia) e as marcas do descaso estavam por la, trilhos arrancados, no meio do mato, cobertos por asfalto e terra etc... quanto mais o tempo passa mais a memória dos moradores locais vai sumindo junto com a história dessa ferrovia e os personagens históricos que passaram por la. Hoje já tenho mais de 40 anos e meu pai já se foi e te digo, a coisa só piorou. A solução realmente é um trem passar por la urgentemente, um grande investidor como a Petrobrás poderia resolver isso já que ela ou uma de suas empreiteiras criaram um pátio de obras bem do lado da estação de Guia de Pacobaiba, ajudando a esconder e degradar mais ainda o local.

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  6. A retaivação de um trem no trecho, mesmo que turístico, já leva mais de 20 anos !
    Planos e mais planos, projetos e mais projetos, e nada na prática é feito !
    Aiás, nada não ... os oportunista de plantão (pra mim são mais otários do que todos os outros) estão dia a dia invadindo o antigo leito, construindo barracos e casebres com a intenção de, quando a linha for realmente reativada, receber uma indenização pela remoção dos imóveis.
    Uma vergonha !

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  7. Realmente é triste ver a falta de interesse do governo e das pessoas em nossa memória!

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