sábado, 2 de março de 2013

A BARONESA DE ARARY

O palacete da Baronesa de Arary (desenho)

Então... corria o ano de 1951 e a Baronesa de Arary morreu em sua casa na avenida Paulista, esquina com a rua Peixoto Gomide, ao lado do Parque Siqueira Campos e muito próximo ao Trianon. A família imediatamente vendeu o terreno para uma construtora, que ali erigiu um enorme prédio de apartamentos residenciais que levou o nome da baronesa.

O Trianon desapareceria na mesma época, dando lugar, quatorze anos depois, ao Museu de Arte de São Paulo - o MASP.

Duas construções que desapareceram e não deveriam.

O Trianon era da Prefeitura, que podia muito bem ter mantido o casarão utilizado para festas, em estilo típico do início do século 20. A casa da Baronesa era de sua família. Talvez até precisassem tê-la vendido, realmente não sei. Os herdeiros nem sempre se mantêm ricos. Mas qual a razão que leva alguém a vender uma obra dessas, de arquiteto famoso (no caso, Victor Dubugras) e arquitetura realmente bonita (para meu gosto, pelo menos)?
O prédio, como apareceu na propaganda de lnaçamento das obras. Ele ainda existe e é isso mesmo. Vejam a reprodução de uma demolição no canto esquerdo superior (deve ser o que restava do palacete) e também a avenida Paulista... cujos trilhos do bonde existiam, mas não foram desenhados. A rua que saí à direita é a Peixoto Gomide.

Pode ser necessidade de dinheiro, ou mesmo o recebimento de uma oferta "irrecusável". Não acredito que naquele tempo o IPTU da avenida Paulista fosse caríssimo como é hoje, fato que levou muita gente a vender casarões anos mais tarde na mesma avenida. Seja qual for, qual seria a alternativa?

Realmente, viver em uma casa como essa, com o tamanho que tinha, não é fácil hoje em dia. Mesmo em 1951 já não era. A criadagem necessária para mantê-la já não recebia o salário de fome da virada do século, e eram muitos. Hoje, então, nem falar. Creio eu que as únicas alternativas para manter a casa seriam: 1) transformá-la em um museu, como os castelos da Europa; 2) transformá-la em um hotel caríssimo (teria de ser, pois o número de quartos seria pequeno). 3) fazer o que muita gente faz nos Estados Unidos, por exemplo: reformar o interior da casa para transformá-la em um condomínio de apartamentos. A parte externa, as fachadas, são sempre mantidas inalteradas.

Hoje, algumas pessoas ainda pensariam nisso. Em 1951, dificilmente qualquer uma dessas ideias passaria pela cabeça da família e mesmo da prefeitura. Vejam o que aconteceu com o Trianon.

Só para completar: uma construção de esquina, provavelmente dos anos 1910, teve uma de suas fachadas derrubada por ela mesmo na avenida da Liberdade, esquina da rua Condessa de São Joaquim, há dois dias atrás. Era um bar; talvez tenha sempre o sido, com exceção do segundo andar, que deveria ser originalmente pequenos apartamentos para o dono viver ou alugar. O prédio era bonito, mas dele somente restavam as fachadas - a parte interna estava sendo totalmente reformada. Hoje ele foi demolido por apresentar risco de cair (o que sobrou). Não seria fácil mantê-lo, pois estava tudo muito instável, mas a cidade perdeu outro belo exemplar. Nada tão bonito, no entanto, quanto o Palacete da Baronesa de Arary.

E respeitosamente, devo lamentar a morte de um pedestre de 50 anos que era a única pessoa que por ali passava quando a parede ruiu. Que fique em paz.

3 comentários:

  1. Ralph, há 40 anos o prédio da esquina já era um bar e lanchonete. Minha mãe, eu e a irmã menor almoçávamos no local após ela levar as blusas que costurou para uma confecção que ficava na rua Maria José, esquina com a Av. Brig Luiz Antônio. Na época a Av. Liberdade estava com as obras do metro, em trincheira, antes do shield. O ônibus CMTC linha 45 Estações sofria para passar por ali. Pegávamos no largo Concórdia, ainda com o telhado da Eletroradiobraz, e um tobogã, após termos desembarcado em Roosevelt, vindo Itaquera num TUE serie 200.

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  2. bem interessante seu post. Morei por 20 anos no que hoje é o Conjunto Baronesa de Arary, e fico nostálgica ao pensar no que era a Avenida Paulista com seus exuberantes casarões. O prédio que agora lá está é muito feio, mal construído, cheio de problemas. Uma pena para nossa cidade e memória.

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  3. A inauguração do belvedere da Paulista foi noticiada pelo Estadão de 13.06.1916, "Notícias Diversas" - O Miradouro da Avenida:
    http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19160613-13685-nac-0006-999-6-not

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