Ponte sobre o rio Misericordia, ao fundo: note em primeiro plano a falta de um pedaço da linha, mas ela está coberta de terra. Foto atual
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Eu já escrevi duas vezes sobre este ramal no meu blog. Ambas em 2012 e com uma diferença entre elas relativamente pequena - 50 dias. O motivo: a primeira postagem gerou um comentário que acabou se transformando na segunda, devido à sua importância.
Por que voltei hoje a escrever sobre o ramal de Uberaba, da antiga E. F. Oeste de Minas e projetado pela E. F. Goiaz, originalmente dona da concessão, foi ter aparecido hoje no Facebook uma discussão entre conhecidos meus, principalmente mineiros, sobre a quase certa extinção da linha que liga Ibiá a Uberaba.
Isto ocorreu por causa do aparente abandono da linha nos últimos tempos pela concessionária. Diversos comentários na discussão levaram à conclusão de que ele já está parado pelo menos há dois anos. Há trechos já que estão com os trilhos bem cobertos de terra - fotos foram enviadas - e afirmações de que ele ainda funcionava - para cargas, claro, afinal, passageiros foram "expulsos" da linha em 1976 - em 2011.
No final das operações no ramal, trens cargueiros circulavam apenas entre Uberaba e a estação de Zelãndia. Hoje, nem isso, no máximo um ou outro auto de linha de quando em vez. Hoje há até cercas na linha. Mau sinal.
O ramal era bastante tortuoso e teria sido construído com orçamento baixo, o que levou-o a ter tantas curvas. Nas outras duas postagens - que v. pode ler aqui e aqui, se quiser - um leitor conta sobre isso.
De qualquer forma, a linha, entregue em 1926, tinha como estação central de passageiros a cidade de Araxá, com sua popularidade da época como estação de águas e seu grande hotel, mas era também uma ligação estratégica: foi a primeira real tentativa de atrair o triângulo mineiro para a órita de Belo Horizonte, capital mineira: afinal, até lá, somente se atingiam essas duas cidades ou por rodovias pavorosas ou por São Paulo, pela Companhia Mogiana, que vinha de Campinas passando por Uberaba, Uberlândia e Araguari, seguindo de lá pela E F. de Goiaz para Catalão. Ou seja, o Triângulo e suas principais cidades eram uma possessão paulista em solo mineiro.
A viagem era demorada, mas pelo menos existia. No ramal, levava-se seis horas de Uberaba a Araxá (de carro, dá no máximo uma hora hoje em dia) e até Belo Horizonte, uma tortura. O trem chegava a Ibiá, de lá seguia para Garças e dali a Belo Horizonte. Não era uma linha reta, longe disso. E dependendo do caso e da época, poderia haver baldeações.
Isso hoje é história. O problema é que o ramal é mais uma linha férrea a ser fechada no Brasil, diminuindo cada vez mais as possibilidades de transporte por via ferroviária. O mais certo seria uma modificação total do ramal, ou para cargas mesmo, ou para, se ninguém o quiser, para passageiros. Mas isto, poucos pensaram na história deste país. (Agradecimentos a Leonardo Figueiredo, Gutierrez L. Coelho e Glaucio Henrique Chaves)
quarta-feira, 23 de julho de 2014
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