sábado, 19 de julho de 2014

NORDESTE SEM FERROVIA

 Ponte - um das poucas coisas que sobraram da linha extinta nos anos 1960 no ramal Carpina a Bom Jardim, em PE. Todas as fotos: Sydney Correa
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As ferrovias que foram "privatizadas", ou "concessionadas", como queiram, no final da década de 1990 perfaziam cerca de 28 mil quilômetros. Quase quarenta anos antes, em 1960, eram mais: 38 mil quilômetros. Era, mesmo assim, muito pouco para um país com a nossa extensão, o quarto país do mundo em área geográfica contínua.
Resto de cabeceira de ponte no ramal de Carpina a Bom Jardim
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Estes 28 mil quilômetros foram se reduzindo cada vez mais. Muitos trechos mal chegaram a ter tráfego. Outros chegaram a tê-lo, mas foram se extinguindo aos poucos. Sem tráfego, veio o abandono da via permanente. É evidente que as concesionárias teriam de cuidar desses trechos, mas não o faziam.
A linha em Alagoas, próxima a Propriá
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Alguns trechos sofreram inundações e desabamentos sérios. Uns com tráfego (Angra dos Reis-Barra Mansa), outros sem (Linha Porto União-Marcelino Ramos, inundada pelo rio do Peixe neste ano e também as linhas de Alagoas e do sul de Pernambuco, inundadas em 2008), jamais foram recuperados satisfatoriamente. No caso da linha catarinense citada, a inundação é tão recente e o uso tão raro (um ou outro trem de capina química a cada trocentos anos), que já se especula que ela nunca será recuperada. E tudo fica por isso mesmo.
Ainda a linha em Portp Real do Colégio, AL
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Nào vou ficar dando exemplos aqui, pelo menos não mais do que estes. A ideia é apenas mostrar a situação de algumas linhas do Nordeste brasileiro, regiào que teve praticamente todas as suas linhas abandonadas, com exceção do Maranhão e do Piauí, bem com o este do Ceará. No resto, sobreviveram apenas as linhas operadas pela CBTU em algumas capitais e que representam uma fatia ínfima das linhas em geral.
Linha da EFCP em Gravatá
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Sergipe, Alagoas, Permambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e boa parte do Ceará têm suas linhas totalmente sem uso (como disse, apenas com a exceção de algumas capitais). A Bahia caminha para isso. A Transnordestina está sendo construída em ritmo de governo incompetente, que promete a entrega das obras sempre para daqui a dois anos, depois novamente, e assim por diante.
Caixa d`agua ainda tem - linha não, em Bonança, na EFCP em Pernambuco
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As fotos enviadas para mim nesta semana por Sydney Correa mostram uma pequena amostra de linhas que teoricamente estão concessionadas, mas que, na prática, são hoje já sucata. São linhas em Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
Por aqui passava a linha em Bonança, PE
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A foto do topo da página mostra um ramal que já foi extinto nos anos 1960, ainda pela RFFSA. Este nunca foi dado em concessão, mas também nunca se entendeu porque não foi reformado e mantido, em vez de ter sido extinto sumariamente, prejudicando milhares de pessoas, indústrias e fazendas da região. Trata-se do ramal de Carpina a Bom Jardim. Essa fotografia mostra uma ponte com cabeceiras em pedra, ainda existente, mas há ouytra, mais abaixo, que mostra uma outra ponte já desmontada que virou um matagal sobre uma das cabeceiras, também de pedras. É a memória brasileira.

Outras fotos mostram a linha que liga Sergipe a Alagoas. A que está difícil de se localizar debaixo do mato é em Alagoas, perto de Porto Real do Colégio. Observem que há uma placa governamental sobre a linha, que, tecnicamente, ainda está "ativa". Porém, a linha está com os trilhos à mostra e sem mato em Sergipe, perto de Propriá, originalmente da Viação Férrea do Leste Brasileiro (a "Leste"). Ali, a concessionária é outra, a FCA, que também não usa a linha há anos, mas a mantém em condições razoáveis - pelo menos naquele ponto.

Finalmente, trechos de linha da antiga E. F. Central de Pernambuco, que ligava Recife ao Salgueiro, entrando pelo sertão pernambucano. Foi abandonada pela concessionária CFN praticamente desde o início e muitos trilhos já foram roubados. Vejam as fotos nas cidades de Gravatá e Bonança, pontos por onde ela passa(va).

Enquanto isso, a chamada E. F. Transnordestina vai sendo construída a passo de tartaruga: uma parte dela substituirá a antiga E. F. Central de Pernambuco, mas ligando Recife ao interior do Piauí, onde a linha mais antiga nunca chegou e outra parte segue para o norte a partir de Juazeiro do Norte para chegar ao porto em Fortaleza, esta substituindo a velha linha Sul da Rede de Viação Cearense.

E eu ainda esperando que as ferrovias brasileiras voltem aos seus tempos de glória e, pior, que elas voltem a transportar passageiros! Certamente, é um delírio do qual não consigo me curar.

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